domingo, 31 de janeiro de 2010

HISTÓRIA NA MÍDIA

Arquivo de batismos de 116 anos no PortoParóquia São Gonçalo tem registros ainda feitos em pergaminho, que revelam peculiaridades quanto à forma de dar nomes aos batizados na Capital
Geraldo Tavares/DC

Igreja quer microfilmar certidões, porém custo impede serviço


O registro de batismo da Paróquia São Gonçalo, do bairro Porto, completa, no mês de junho, 116 anos e revela uma série de curiosidades quanto aos hábitos dos cuiabanos ao longo do período, sobretudo quanto à forma de identificação. A primeira cerimônia de batismo é datada no ano de 1894, celebrada pelo padre Antônio Mallam, que batizou uma pessoa chamada Ernestina, filha de Germano Lerrandosk e Manuela Corassa. O primeiro livro contém registros de 1894 a 1900. Os dados eram organizados por data, primeiro nome da criança, nome dos pais e padrinhos. A caligrafia e o papel em pergaminho, couro de carneiro, são as principais características que remetem à época. Hoje, mesmo com cuidado, os livros estão em avançado estado de decomposição. Muitas folhas estão rasuradas, rasgadas, erroneamente presas com fitas adesivas e com um odor intenso. Para o padre Giulio Boffi, responsável pela paróquia, o desejo de microfilmar os primeiros livros datados do século 19 é inviabilizado pelo custo. Quem confirma é a historiadora da Secretaria de Cultura do Estado, Dulcineia Silva Martins, que salienta que os únicos lugares que fazem a microfilmagem são a Biblioteca e Arquivo Nacional, ambos localizados no Rio de Janeiro. Ela cita como exemplo os anais do Senado da Câmara de Cuiabá, que passaram pelo processo de restauração. “Por ser um custo alto esses documentos recuperados, na maioria das vezes, são custeados através de projetos de banco privados ou públicos”, explica. Outro detalhe salientado por Dulci é referente à caneta utilizada na época, bico de pena e tinta ferrogálica, por isso, a perfeição na caligrafia, somada à dedicação dos calígrafos, profissão comum em registro de documentos. Outro detalhe característico era a forma como os nomes eram escritos. Por exemplo, Anna com dois “enes”, Benedicto e Victoria com C antes da consoante, o que dá um som nasal diferente, mas ainda não ganham dos mais comuns, como Maria, José, João e Antônio, que prevalecem até hoje. Destaque para nomes diferentes como Hermenegilda, Cesinando, Sinhorinha, Horminda, Leovegilda, Aceste, Petronillo, Cordolina, Hangrio, Cordeolina, dentre muitos outros. Nomes incomuns são explicados pela historiadora como uma forma de homenagear o santo do dia. Eles têm representação nos 365 dias do ano. Por exemplo, Justicimiliano, que foi batizado no dia 1° de julho de 1898, dia de São Justino. “Possivelmente seus pais queriam homenagear o santo e deram o nome da criança associando com o nome dos seus pais, só assim para explicar um nome tão diferente e com pouco sentido”, explica Dulci. Outra prática muito comum na época explicada pela secretária paroquial Dalva Ribeiro da Silva Carvalho era que os pais demoravam para registrar os filhos no cartório e, muitas vezes, mudavam o nome na hora do batismo. Isso causava muita confusão, porque, na certidão de nascimento, era um nome e no registro de batismo, outro. Um exemplo, mas já nos dias de hoje, é de Marcos Vinícius da Silva. Quando precisou apresentar a certidão de batismo para se casar, não encontrava o documento, porque sua mãe mudou seu nome no registro de batizado, o chamando de Marcos Camargo da Silva. “As pessoas moravam na zona rural e só registravam seus filhos anos depois, ao contrário do batismo, que acontecia nos primeiros anos de vida da criança. O batizado já foi mais importante do que registrar o filho no cartório. As pessoas seguiam a risca a tradição de batizar seu filho”, completa. Hoje, todo o registro de batismo é feito pelo computador, catalogado e organizado em pastas. Em 2009, foram 725 batismos realizados na Paróquia São Gonçalo. Não há um número preciso de quantos batizados foram realizados desde de 1894 até os dias atuais.
FONTE:

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Apoteose de Tereza de Benguela




Homenagem da Escola de Samba Viradoura à rainha Tereza de Benguela que chefiou o mais importante núcleo de resistência negra contra a escravidão em solo mato-grossense, o Quilombo do Piolho, em Vila Bela da Santíssima Trindade, ao final do século . Joãozinho Trinta levou para a Marquês de Sapucaí a história dessa mulher guerreira que escreveu seu nome na historia de Mato Grosso.

Uma rainha negra no pantanal

VIRADOURO 1994 - "Tereza de Benguela - Uma rainha negra no pantanal"

Composição: Cláudio Fabrino, Paulo César Portugal, Jorge Baiano e Rico Medeiros


Amor, amor, amor...
Sou a viola de cocho dolente
Vim da Pérsia, no Oriente
Para chegar ao Pantanal
Pela Mongólia eu passei
Atravessei a Europa medieval
Nos meus acordes vou contar
A saga de Tereza de Benguela
Uma rainha africana
Escravizada em Vila Bela
O ciclo do ouro iniciava
No cativeiro, sofrimento e agonia
A rebeldia, acendeu a chama da liberdade
No Quilombo, o sonho de felicidade
Ilê Ayê, Ara Ayê Ilu Ayê
Um grito forte ecoou
A esperança, no quariterê
O negro abraçou
No seio de Mato Grosso, a festança começava
Com o parlamento, a rainha negra governava
Índios, caboclos e mestiços, numa civilização
O sangue latino vem na miscigenação
A invasão gananciosa, um ideal aniquilava
A rainha enlouqueceu, foi sacrificada
Quando a maldição, a opressão exterminou
No infinito uma estrela cintilou
Vai clarear, oi vai clarear
Um Sol dourado de Quimera
A luz de Tereza não apagará
E a Viradouro brilhará na nova era


Conheça a História, Cultura e Religião da Cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade

Conhecida como a cidade do ouro, das ruínas e das negras finas, Vila Bela da Santíssima Trindade, é fruto do sonho do Capitão General Dom Antônio Rolim de Moura, que em 19 de março de 1752, fundou a primeira capital de Mato Grosso, antes denominada Pouso Alegre.Antes desse período, ainda estava em vigor o Tratado de Tordesilhas, e toda conquista empreendida pelos bandeirantes poderia passar a pertencer, legalmente, à Espanha. Assim, tornava-se urgente a fixação de um novo Tratado que o substituísse: o Tratado de Madri, firmado entre Portugal e Espanha, no ano de 1750, o qual veio demarcar novas fronteiras.Diante desse cenário, tratou Portugal de garantir o povoamento daquela região, especialmente na parte relativa à zona do rio Guaporé. Assim em 1748, foi criada uma nova capitania, a de Mato Grosso, desmembrada da capitania paulista.


Dom Antônio Rolim de Moura, de posse com a Carta Régia de D. João V, enviada de Lisboa, para fundar a sede administrativa da nova província de Mato Grosso, veio ao Brasil para desempenhar tal incumbência .
E Vila Bela, no extremo oeste do Estado, foi escolhida para ser a capital .
Levou-se em conta o seu ponto estratégico, seu relevo plano era apropriado para uma boa defesa militar, novas jazidas aurífera eram descobertas, o rio Guaporé, favorecia o acesso fluvial com diferentes países pelo Oceano Pacífico. Próxima do Paraguai e do Peru, Vila Bela, despertava cobiça tanto dos Espanhóis como dos Portugueses.


Religião
Em Vila Bela sempre existiu um ciclo de festas denominado Festança. Esta denominação, na sua origem, referia-se às celebrações relativas ao início do calendário agrícola, quando a terra era preparada para a semeadura. A festança era sempre realizada entre a segunda quinzena de setembro e a primeira de outubro, pois são os dois últimos meses da estação seca e a chegada da estação chuvosa. O objetivo de sua realização estava centrado no agradecimento externado pelos vilabelenses, aos santos, pela proteção dada à colheita anterior.Outras festas também eram realizadas, como por exemplo: Nossa Senhora do Rosário, Mãe de Deus, São Bendito, o padroeiro dos negros, a Santíssima Trindade que é a padroeira da cidade e o Divino Espírito Santo.
Gradativamente essas festa foram sendo agregadas no mês de julho, quando nas repartições públicas municipais decreta-se feriado por uma semana. Nesse período a cidade se reveste de cor, brilho, risos e êxtase.
Um festival de gestos, canções seculares e encenações, um jogo de rimas a céu aberto romperá o cotidiano simples de um povo, enraizado no Vale do Guaporé .
Vila Bela também é palco de várias lendas . Para os negros, além das lendas, há três espécies de seres encantados : o lobisomem, a porca e a bruxa.
Quanto as doenças "os vilabelenses acreditam que elas são sempre causadas por ações externas ao corpo. Os agentes naturais ou sobrenaturais é que são os responsáveis pela introdução das doenças no corpo. Os principais agentes causadores são os calores, as friagens, a água e o vento. Quanto aos agentes sobrenaturais, temos os decorrentes do não cumprimento de resguardos e de feitiços " (Lima-2000) Essa negra cidade serviria para estabelecer divisas e garantir a retirado do ouro que ali era encontrado em abundância. Mas o grande problema era como abastecer a nova capital, já que os produtos vindos da Capitania de São Paulo ficariam muito caros, tendo em vista o percurso a ser percorrido. A solução foi a criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que com sede em Belém, atingiria a região guaporeana navegando pelos rios componentes da Bacia Amazônica - Amazonas, Madeira e Guaporé. Por ali entravam, alimentos, roupas, instrumentos de trabalho e escravos africanos.
Viu-se que todo o Plano de Villa Bella de Mato Grosso, veio de Portugal, com suas linhas bem traçadas, onde fora planejado a construção da Igreja Matriz, dos jardins suspensos, do Palácio dos Capitães Generais, onde hoje se localiza a Prefeitura Municipal; a Provedoria da Fazenda, responsável pela parte financeira e fiscal; a Ouvidoria, a quem cabia tratar da Justiça; os seus fortes, fortalezas e prisões, que serviriam de pontos estratégicos de defesa do território; a Casa de Fundição, o quartel, a câmara, o cemitério, os oratórios e santos em madeira, datados do século XVIII, também de lá foram trazidos.
Como pano de fundo, lá está ela, a Serra Ricardo Franco, chapadões, montanhas, cortadas por diversas cachoeiras, algumas com até 218 metros, como a do Jatobá, considerada a maior do Mato Grosso. Por trilhas estreitas, chega-se à Cascata dos Namorados, uma cachoeira com cerca de 80 metros, onde o seu véu cria verdadeira caverna, cuja entrada se abre diante de um lago de águas claras. Mais adiante, podemos encontrar uma outra cachoeira, bem menor, a Cascatinha, entre altas copas de árvores .
Entre a Serra e a Vila, encontra-se o Rio Guaporé, com suas águas límpidas, seus aguapés lentos e vegetação exuberante, correndo bondoso para o Norte. Nele convivem botos , matrinchãs, cacharas, pintados, pacús, tucunarés...Com o correr do tempo, observou-se que toda a beleza do Guaporé, o qual encantara Dom Antônio Rolim de Moura, era também motivo de desesperança. No seu período de cheia, grandes plantações eram destruídas, as doenças tropicais da Amazônia, como a malária e o maculo dizimava a população, e quem mais sofria com tudo isso eram os negros escravos, trazidos para atender a cobiça dos europeus. Morriam sem qualquer assistência e os que resistiam, curta era a sua longevidade.
Mas, Vila Bela da Santíssima Trindade, foi resistente, foi desbravada, edificada, cultivada. Suas grandes construções em pedra canga foi fruto da saga e tenacidade de um povo que não esmoreceu-se, que lutou e luta até hoje para sobrevier e expressar o seu direito de ser negra.Aos negros que para lá foram levados negou-se tudo, inclusive o seu próprio patronímico de origem, os quais foram atribuídos conforme a ligação de cada família na comunidade, como por exemplo a família Profeta da Cruz, a família Bispo, que eram negros que serviam e servem até hoje a igreja católica.


Dança do Congo
A dança do Congo, que é o resgate de um passado distante de africanas raízes, é ensaiada meses antes sob os olhares atentos dos pequenos garotos, futuros guerreiros, que aprendem com os mais velhos os segredos do ritual.
No dia esperado, ao nascer do sol lá estão eles pelas pequenas ruas da cidade, cantando em entremeios do dialeto africano, com suas roupas extremamente coloridas e seus capacetes de pena, fazendo a cidade se transformar em um pequeno pedaço da África.
Após pegar de casa em casa todos os festeiros - Rei, Rainha, Juiz, Juíza e Ramalhetes - que são pessoas da comunidade local, que se sentem extremamente lisonjeadas com a escolha, são levados até a igreja, onde se realiza a missa em louvor a São Benedito. Sua imagem, assim como outras, em madeira talhada, vinda diretamente de Portugal, datada do século XVIII, é venerada por todos.
A missa é animada pelo Coral Consciência Negra, composto por jovens e adultos, os quais vestem roupas amarradas pelo corpo, lembrando os antigos negros escravos. O padre da paróquia, também se insere no contexto, usando uma batina com detalhes africanos. Toda a comunidade parece estar sedenta em ser cada vez mais afro. A animação é geral e contagiante, o ritmo das músicas é acelerado, tudo se identifica com a alegria do lugar.
No ofertório, crianças entram com frutos da terra: carambólas, bananas, piquís, castanhas, laranjas, cajá, ingá, cana-de-açúcar, biscoito de ramos-negreiro ....cantando:
"Quem disse que não somos nada, que não temos nada para oferecer?Repare nossas mãos abertas, trazendo as ofertas do nosso viver". (bis)
Na festa se evidencia o religioso e o profano, o catolicismo e o misticismo, manifestados pelas rezas e danças sensuais, pelo louvor e pelas serenatas, pela missas anunciadas com o tocar dos sinos e pela presença do Congo e do Chorado; danças que refletem histórias de batalhas e sofrimentos.

Dança do Chorado
A Dança do Chorado, é exclusiva das mulheres, que com seus gingados e trejeitos faceiros, bamboleiam as cadeiras ao brilho do sol, com seus vestidos rodados. Cada música tem sua coreografia padronizada, com conteúdo sensual. Num determinado momento, cada uma delas dançam com uma garrafa de "Kangingin" na cabeça, o que não lhe tiram a suavidade e destreza dos movimentos. Mas a história da dança, revela o seu lado triste, tendo em vista que as escravas utilizavam-se dela para amenizar a pena de seus entes queridos, quando este empreendiam fuga. Aos senhores de escravos, elas dançavam e sorriam, mas os seus corações choravam. Isso muitas das vezes ajudava na conquista do perdão ou de uma amenização dos castigos, ao amanhecer.
A bem pouco tempo, a Dança do Chorado era realizada nos fundos das casas dos festeiros onde estava sendo preparada a comida para a comunidade, enquanto as senhoras descansavam da lida. O batuque dos banquinhos, mesas e cadeiras ressoavam cozinha a fora, despertando a curiosidade dos que ali passavam. Ao parar eram levados para dentro, amarrados por um lenço. Lá eram instigados a pagar alguma coisa, lembrando as bebidas que os patrões muitas vezes davam.


Hoje elas se apresentam na frente da Igreja Matriz, antes da coreografia da Dança do Congo; sempre com suas cantigas falando de conquistas, paixões e intimidades. Ao centro da roda, as autoridades são levadas com um lenço amarrado no pescoço, onde as mulheres, com sua graciosidade de movimento, faz com que eles levem até elas as garrafas com que iram se apresentar.


O Congo, que por uma questão inexplicável não entra na igreja; após a missa, encena uma luta milenar, dando um sentido africano a todos os símbolos e santos brancos. Há nele diferentes personagens, entre eles o Rei do Congo, seu filho Kangingin, seu secretário de guerra, os vinte e quatro guerreiros do Rei de Bamba e o embaixador que o representa.
"Cheio de ardis, recuos e estratégias de guerra, o Congo é um jogo de rememorização, repleto de palavras e expressões africanas, que vão sendo afirmadas e reconsideradas ao longo dos embates, travados entre as duas partes contentoras. Que mesmo lançado mão dos signos cristãos, a festa desemrola-se em espaço profano, na rua, desvendando todo o espaço de uma religiosidade afro que não se perde nas malhas finas do tempo ".
O Rei do Congo, que praticamente já havia perdido a batalha, sob o cantar de guerra e das espadas em punho dos guerreiros, entrega a seu secretário, um símbolo africano de magia e poder- o embreve - o qual envoca a proteção de forças ocultas e de São Bendito, e mata a todos.
O território do Congo se lava em sangue. E o Monarca ordena que todos os soldados sejam trazidos a presença da sua real coroa. Seu secretário, como num passe de mágica, com um pequeno toque, faz com que todos se ressuscite. O barulho do tambor, ressoa novamente nos ouvidos dos que ali se encontram. Cantos e versos repentes são entoados em homenagem ao Rei do Congo e a São Benedito. Esse é um momento muito especial para a comunidade, tendo em vista que as rimas é forma de reivindicar, protestar, agradecer, louvar; tornando-se num parlatório, onde são aplaudidos ou não, dependendo da aceitação popular.
Após a grande expressão corporal, os festeiros são levados até suas casas, e toda a comunidade se delicia com os almoços e os jantares oferecidos por eles, regados ao "Kanjinjin" e aos doces caseiros.
Nota-se que toda a comunidade se envolve de alguma forma especial, seja como organizador das celebrações, seja como voluntário para fazer a comida , como ajudante para levar a sombrinha que protege do sol os festeiros, seja como mero espectador que entoa as músicas dos guerreiros. No dia seguinte, outra missa é celebrada com a presença da irmandade de São Benedito, composta por pessoas antigas da comunidade, que fazem a escolha dos novos festeiros, que antecipadamente colocam seus nomes a serem apreciados. Os novos e os antigos festeiros, saem dali, acompanhados novamente pelos guerreiros do Congo, que fazem durante o dia todo suas reviravoltas pela cidade, contagiando novamente a todos. A festa finaliza-se no entardecer, com o cair da noite, com a seguinte rima:
"Acabou-se a festa, com muita alegria, Viva Benedito Santo, hoje é o seu dia"(bis)
Exaltação a Tereza de Benguela
Oprimidos pelo açoite, os escravos fugiam constantemente, e formavam quilombos no Vale do Guaporé. Mas um deles significaria para o povo vilabelense, símbolo de resistência e liberdade, o quilombo do "Quariterê" ou quilombo do "Piolho", já que estava localizado na margem ocidental das águas do Rio Piolho.


Governado pelo regime de Monarquia Parlamentarista, todos trabalhavam e usufruíam dos frutos de seu trabalho de forma socialista. Interessante destacar que ali não vivia apenas negros, mas também índios e chiquitos, considerados assim, por serem habitantes da divisa do Brasil com a Bolívia.
Resistiram por 30 anos aos ataques da Coroa Portuguesa, que inclusive acreditava que o quilombo era liderado por um negro conhecido por Zé Piolho, mas que somente após uma emboscada, no período noturno, pôde se descobrir que por trás daquelas resistências estava uma Rainha Negra - Tereza de Benguela - viúva de Zé Piolho. Mulher altiva, corajosa, decidida, enérgica e muito justa.


Com a destruição do Quilombo do Piolho, foram aprisionados quilombolas e índios; Tereza que não se conformava em ver-se novamente subjugada à escravidão, morreu de cólera. História que inspirou o carnavalesco Joãozinho Trinta, no enredo da Escola de Samba Viradouro, no ano de 1994.
Ocorre que outra versão existe sobre a morte de Tereza. Que teria ela se suicidado após ter sido captura pêlos soldados portugueses. Mas isso pouco importa para o povo vilabelense. Já que para eles Tereza é símbolo de luta, persistência, garra e principalmente de amor a liberdade.
Entre os anos 60 e 80, do presente século, em função de novos fatores econômicos, ou seja, dos incentivos dados pelo governo federal para a ocupação do interior do Brasil, muitos brancos migraram para a região, provocando mudanças no quadro demográfico. Essas mudanças afetaram também os usos e costumes, a cultura e a língua . Transferência da Capital para Cuiabá
O clima de instabilidade e escassez do ouro fez com que em 1835, no Governo de Francisco de Paula Magessi, transferisse a capital para Cuiabá/MT, a 520 Km de Vila Bela, tornando-se mais7 barato para a Coroa Portuguesa abandonar tudo que ali fora construído, inclusive os negros escravos. Levá-los para a nova capital seria muito oneroso, ficaria mais em conta a aquisição de outros na Villa Real do Bom Jesus de Cuiabá. Os negros herdaram uma cidade em ruínas. A população passou a concentrar suas atividades no extrativismo: extração da poaia e da borracha. A terra que até então fora lavrada sob o julgo do trabalho escravo, agora era território de liberdade e posse comunitária. Era dono dela, quem nela trabalhasse.
Abandonados a sua própria sorte, a heróica gente vilabelense, formada por uma maioria negra, detentores de um importante e rico contexto cultural e histórico, resistiu espelhados na Rainha Negra Tereza de Benguela. A escravania negra que nesta querida cidade permaneceu resguardando ao Brasil essas fronteiras e a cultura milenar de nossos ancestrais; com muito sacrifício lutou, mesmo com todas as dificuldades de comunicação com qualquer parte dessa gigantesca nação. Sem recursos e sem conforto, a heróica gente vilabelense não esmoreceu e resistiu as intempéries do tempo.
Hoje, Vila Bela está completando 250 anos, com uma população de mais ou menos 70% de negros, e todos esses anos significa um símbolo de resistência, de exercício de cidadania através da preservação de sua cultura milenar, que é condição básica para a sobrevivência da população.
Há quatro meses vem sendo desenvolvido o projeto "Fronteira Ocidental", onde pesquisadores que estudam a arqueologia e a história da primeira capital de Mato Grosso, concluíram que a região foi habitada há mais de vinte anos. E querem que Vila Bela seja patrimônio histórico mundial.
Para a arqueóloga Érica Gonzales, "Na região de Vila Bela nós temos sítios arqueológicos com os vestígios dos primeiros habitantes do Brasil, inclusive da América como um todo, de 25 mil anos para cá".
"No subsolo da cidade a gente tem 250 anos de história de formação de Mato Grosso, do Brasil, que tem que ser explorado em benefício da própria comunidade", afirmou o coordenador do projeto Paulo Zantini.
Veja que é preciso que sociedade vilabelense se organize, para que num futuro bem próximo possa exercer seus direito e não deixar que mais uma vez sejam explorados pelos que para li vão apenas com o intuito de subtraí-los.
FONTE:
http://www.vilabelamt.com.br/congo.html

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Saudoso comediante Liu Arruda e mais um de seus inúmeros personagens. Aqui temos a jovem Ramona, filha da comadre Nhara e do compadre Juca, e ainda irmã do Gladstone.
Homenagem aos primordiais habitantes do território mato-grossense

Uma música que é uma verdadeira poesia escrita por José Fortuna um dos maiores compositores da música raiz brasileira e de Carlos César. E aproveitando esse momento que todos estão falando de sustentabilidade e que precisamos cuidar ainda mais da natureza, Riozinho é uma música que fala da importância que o rio tem na nossa vida e na natureza e o mais interessante esta música tem cinco minutos e não se repeti nenhuma estrofe apenas as palavras “Riozinho amigo”.

Primeira Gravação: Irmãs Galvão Música: Riozinho (Vencedora do Festival de Música Sertaneja da Rádio Record 1979)
Compositor: José Fortuna e Carlos César


Meu rio pequeno traz o liquido dos campos
Rodeado de barrancos
Corruido pelos anos
Vai arrastando folhas mortas e saudade
Por do sol de muitas tardes
Ilusões e desenganos
Cruzando vales, chapadões e pantanais

Bebedouro de pardais
Também espelho de luar
O seu roteiro não tem volta só tem ida
Pra fim dar a sua vida
Amplidão o azul do mar
Riozinho amigo, são iguais as nossas águas

Também tenho um rio de mágoas
A correr dentro de mim
Usando na alma campos secos e desertos
Cada vez vendo mais perto
O oceano de meu fim
Riozinho amigo, nasceste junto a colina

Era fio da água de mina
E cresceu tão lentamentemargeando matas, ramagens, troncos e flores
Passarinhos multicores
Seguiram vossa corrente
Riozinho amigo, quantas vezes assistiu

Acenos de quem partiu
Encontro dos que chegaram
Por testemunha de muitas juras de amor
Quantas lágrimas de dor
Suas águas carregaram
Riozinho amigo, sobre a areia do remanso

Animais em seu descansoali vem matar a sede
As borboletas em suas margens se amontoam
E depois alegres voam
Na amplidão dos campos verdes
A brisa em crespa o seu rosto de menino

Como o mais terno e divino
Beijo da mãe natureza
Muitas paisagens, madrugadas coloridas
Encontros e despedidas
Seguem vossa correnteza

Homenagem de Liu Arruda à toda a colônia gaúcha radicada em Mato Grosso

Acompanhe abaixo uma video-aula sobre o processo de formação do território matogrossense ao longo dos períodos colonial, imperial e republicano.

O processo histórico mato-grossense
A formação do território mato-grossesnse resultou do processo político e econômico brasileiro, em que Mato Grosso, em cada momento de sua história desempenhou uma função específica, vejamos então quais foram os papéis desempenhados pelo território mato-grossense ao longo de seu processo histórico:
  1. Garantiu a expansão das fronteiras nacionais, no final do século XVII e primeira metade do século XVIII, constituindo-se no ante-mural da Colônia;
  2. Na primeira metade do século XVIII, foi objeto da expansão da Coroa Portuguesa e do mercantilismo europeu, com a produção de ouro nas minas de Cuiabá, Vila Bela e adjacências;
  3. Entre a segunda metade do século XIX e o ínicio do século XX, Mato Grosso contribuiu com a arrecadação nacional, quando ganhou destaque o extrativismo vegetal, exportando matérias-primas, a exemplo da poaia, do látex e da erva-mate;
  4. No plano interno, na segunda metade do século XIX, Mato Grosso ampliou suas relações com as demais regiões brasileiras impulsionado pela melhoria nas comunicações, que permitiram a exportação regular de seus produtos, como açúcar e o charque, atraindo maior fluxo de migrantes;
  5. Mato Grosso assumiu, durante o século passado, o papel de celeiro do Brasil, segundo o qual deveria se converter em potencial produtor de alimentos e centro atrativo de mão-de-obra excedente de outras regiões. Então o território mato-grossense passou a ser alvo da famosa política de integração nacional, modificando dessa maneira sua secular estrutura econômica vigente.

Fonte: MORENO, Gislaine, HIGA, Tereza Cristina S. Geografia de Mato Grosso: território, sociedade, ambiente. Cuiabá: Entrelinhas, 2005, p. 32.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ATIVIDADES DE HISTÓRIA DE MATO GROSSO

QUESTÃO 01
(UNEMAT) Desde a sua criação em 1748, o nosso estado, outrora província e capitania, mantêm o mesmo nome: Mato Grosso. Assinale a justificativa sobre esse nome.
a) Era assim que os primeiros bandeirantes chamavam a região em torno das minas do Cuiabá.
b) Era assim que os índios chamavam a região que fica entre os rios Guaporé e Cuiabá.
c) Era assim que os primeiros bandeirantes chamavam a região do Guaporé.
d) Era assim que as autoridades portuguesas chamavam a região em torno das minas do Coxipó e Cuiabá.
e) Era assim que os primeiros bandeirantes chamavam a região alagada do rio Paraguai.
QUESTÃO 02
De acordo com o Tratado de Tordesilhas, Mato Grosso pertencia a:
a) Portugal.
b) França.
c) Holanda.
d) Espanha.
e) Inglaterra.
QUESTÃO 03
(UNEMAT) O processo de ocupação do Oeste brasileiro e, por conseguinte, do Estado de Mato Grosso que, mais tarde, na primeira metade do século XVIII, daria condições para o surgimento de Cuiabá, está ligado à:
a) Iniciativa dos bandeirantes paulistas do Grão-Pará, que avançaram no sentido oeste para além dos limítes do Tratado de Madri, em busca de áreas para a criação de gado.
b) Iniciativa dos bandeirantes espanhóis, que avançaram no sentido leste para além dos limítes do Tratado de Tordesilhas, em busca de áreas mineradoras.
c) Iniciativa de bandeirantes paulistas, que avançaram no sentido oeste para além dos limítes do Tratado de Tordesilhas, em busca de indígenas.
d) Iniciativa dos bandeirantes portugueses do Grão-Pará, que avançaram no sentido oeste para além dos limítes do Tratado de Tordesilhas, em busca de áreas de mineração.
e) Iniciativa dos bandeirantes paulistas, que avançaram no sentido oeste para além dos limítes do Tratado de Tordesilhas, em busca de áreas de pastagens.
QUESTÃO 04
(UFMT) A descoberta de ouro em 1719, nas margens do rio Coxipó, dando origem ao povoamento da região do rio Cuiabá, está ligada à:
a) Catequese praticada pelos jesuítas e disseminada por todo território colonial.
b) Disputa pela hegemonia européia sobre o território americano.
c) Tentativa de dominação dos índios coxiponé pelos espanhóis.
d) Divergência política entre colonizadores espanhóis e portugueses.
e) Ação de penetração do território colonial pelo bandeirante paulista no sentido litoral-sertão.
QUESTÃO 05
Assinale a alternativa que contenha informações corretas sobre o início da ocupação de Mato Grosso.
a) O Arraial de Cuiabá foi o primeiro povoado formado na região durante o século XVIII, após a descoberta do ouro de aluvião.
b) As monções de abastecimento traziam produtos de primeira necessidade que eram consumidos por toda a população mineradora devido ao preço acessível.
c) O primeiro bandeirante a chegar nesta região e responsável pelo descobrimento do ouro de aluvião, no atual Coxipó do Ouro, foi Pascoal Moreira Cabral.
d) O ouro descoberto nesta região era do tipo aluvional, não necessitando de técnicas aprimoradas para sua extração, muito menos mão-de-obra especial para esse tipo de economia.
e) O ouro descoberto nas Lavras do Sutil não foi suficiente para atrair contingente populacional para a região do Arraial de Cuiabá.
Respostas
01 – C
02 – D
03 – C
04 – E
05 - D
Série de reportagens da Rede Globo que mostra um Brasil onde não existe pobreza, onde há fartura e riqueza, um país que gera empregos e renda para a população, onde a qualidade de vida é a palavra chave. Nessa reportagem, são mostradas duas cidades de Mato Grosso impulsionadas pelo agronegócio, Rondonópolis e Sorriso

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Confira a video-aula sobre a produção açucareira no território de Mato Grosso entre a segunda metade do século XVIII e a metade do século passado.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Reveja o gol inesquecível de Mosca demonstrado na crônica anterior

"Mosca" na sopa do Fogão

Uma certa partida do Brasileirão de 1984 ficou eternizada na retina de todo torcedor operariano e imortalizada nas páginas de nossa história futebolística.
Acompanhávamos atentos ao desenrolar do jogo entre o Operário de Várzea Grande e o poderoso Botafogo do Rio. A partida fora realizada no estádio Verdão, em Cuiabá, e naquele dia infelizmente não pudemos ir. Então a alternativa foi acompanharmos tudo através das ondas do rádio. Estávamos reunidos em volta do aparelho, eu, meu pai, meus irmãos e primos, todos na maior expectativa.
Os mixtenses diziam que levaríamos uma surra, "goleada na certa" apregoavam na véspera, os nossos rivais.
Acreditávamos que o "chicote da fronteira" não nos decepcionaria, que venderia caro uma eventual derrota e que sairia de campo de cabeça erguida e aplaudido pela torcida.
O poderoso clube da estrela solitária, que naquela época, é bem verdade, não tinha um elenco tão imponente assim, apenas seu arqueiro, que já havia disputado uma Copa do Mundo, na reserva, mas ainda assim tinha bagagem internacional e merecia respeito. Ah, sem falar no treinador botafoguense, ninguém menos que Didi, o "folha seca" detentor de um vasto currículo no futebol internacional.
Apesar de todas as adversidades, acreditávamos que o Operário seria guerreiro naquele dia.
Voltando ao jogo, o Botafogo, favorito disparado, não demorou muito em abrir o placar, gol do atacante Amarildo. Seria esse o prenúncio de uma jornada mal lograda para os mato-grossenses? Porteira que passa um boi... Já viu né?
Que nada! O Operário não se deixou intimidar e passou a pressionar o adversário em busca da igualdade no marcador. Mas todas as nossas investidas eram rechaçadas pela zaga adversária ou pelo seu goleiro, em tarde inspirada.
Parecia que aquele não era o nosso dia...
Já no crepúsculo da partida, eis que temos um escanteio a favor pela direita.
Na bola o ponta-esquerda Ivanildo, "de pé trocado é perigo dobrado" diziam os antigos locutores. Era a nossa derradeira esperança, a partida já se encaminhava para o seu final. Dedos cruzados, respiração paralisada, o coração disparado. Agora ou nunca!
O narrador Márcio de Arruda, "o categoria que não muda", carregava na adrenalina, "é fogo, é fogo, torcida tricolor, aguenta coração!", bola na área, um perde-ganha danado, disputa de cabeça, até que a bola sobra pra Mosca, nosso principal jogador naquela tarde, e ele, como todo artilheiro que se preze, fez o imponderável.
A torcida tricolor viu a genialidade do artilheiro no desfecho da jogada.  Um lance acrobático, insinuante e inesperado que deixou perplexo o experiente goleiro botafoguense.
"Golaço, um lindo gol de Mosca, gol de bicicleta! O "Chicote da Fronteira" empata no apagar das luzes do espetáculo!". A narração eufórica aguçava mais ainda a nossa imaginação. Começávamos a desenhar em nossas mentes aquela pintura de gol. Teria sido tão lindo assim, ou o locutor exagerou na emoção? "Ah, se for tão belo assim vai passar no Fantástico!" profetizou meu pai, tricolor convicto.
Em casa festejamos pra valer. assim como a galera tricolor nas arquibancadas lotadas do governador Fragelli.
À noite, ficamos reunidos em frente à TV, aguardando ansiosamente aos gols da rodada. Até que a voz emblemática de Leo Batista anunciou: "Mosca do Operário-MT, é dele o Gol do Fantástico!". Comemoramos como se fosse a conquista de um título.
Aquilo nos encheu de orgulho, massageou nosso ego, aumentou a nossa auto-estima de operariano, de mato-grossense!
No dia seguinte ainda teve matéria no Globo Esporte com o herói da tarde anterior aparecendo em rede nacional de televisão. Realmente naquele dia ele foi uma verdadeira mosca na sopa do Botafogo, com direito à trilha sonora de Raul Seixas e tudo, "eu sou a mosca que pousou em sua sopa..."
Esse golaço do Mosca foi com certeza inesquecível.
DIALETO CUIABANO
Nova edição do Dicionário Cuiabanês

POR ODAIR DE MORAIS Especial para o DC Ilustrado


Segundo William Gomes, radialista e professor da UFMT, o lançamento da segunda edição do Dicionário Cuiabanês “está previsto para Março. Como dizia o cuiabano: beradiano 8 de Abril, aniversário de Cuiabá”. O livro é resultado de uma pesquisa realizada desde 1991, quando passou a apresentar um quadro diário na Rádio Cultura AM. William Gomes conta que costuma fazer perguntas ao vivo. Por exemplo: ‘Você sabe o que é quitute?’ Como os ouvintes passaram a ligar na rádio pra perguntar sobre termos que ele havia falado no ar semanas antes, dos quais muitas vezes nem se lembrava, passou a anotar. Num quitute, conforme o radialista, os jovens se reuniam pra cozinhar debaixo de um pé de árvore em um quintal da vizinhança; alguém se lembrava de levar um violão e todos passavam o domingo dançando e se divertindo de um modo bastante saudável. As anotações resultaram na primeira edição do Dicionário Cuiabanês (2000, sem editora) que tinha cerca de 5000 verbetes. “Certa vez um leitor chegou pra mim e disse: ‘Mas o seu livro não tem tal palavra’. Tirei meu caderninho do bolso e anotei. Tudo bem, respondi. Na próxima edição vai ter.” Devido a esta incansável pesquisa, a próxima edição trará 12 000 verbetes: palavras, ditos e expressões populares. O diferencial deste livro em relação a outros que abordam o assunto, é que William Gomes traz além da definição do termo, sua aplicação em uma frase e, como destacado anteriormente, um maior número de palavras. O autor explica que alguns verbetes estão presentes em outros dicionários. Cita como exemplo a palavra ‘vôte!’. Muita gente pensa que é uma expressão tipicamente cuiabana, mas sabemos que ela também é usada no nordeste, conforme registra o Aurélio. Segundo o autor, “o que caracteriza o vocábulo como regional não é o fato de ter surgido aqui. De repente pode ter em outro lugar, mas levo em consideração o uso que aqui em Cuiabá foi bastante expressivo.” 10 000 exemplares foram lançados na primeira edição e esgotados em menos de um ano. William Gomes atribui o sucesso de vendas à distribuição que foi feita estrategicamente em bancas de revistas por toda a cidade. “Pedra 90, Coophamil, CPA, Centro, Santa Rosa, Despraiado, etc. Conseguimos atingir leitores de todas as classes sociais.” O dicionário tem como principais propostas contribuir no processo de resgate da identidade local e servir de instrumento para fontes de consulta. Possui termos que em parte considerável o tempo, assim como outras variáveis, contribuíram para o esquecimento ou ao limitado uso. “Até porque”, acrescenta o autor, “este modo de falar, daqui a alguns anos, cara, babau. Acabou.” Num país em que a língua portuguesa é falada de diferentes modos por gaúchos, baianos, paulistas, cearenses, mineiros e cariocas, se não fosse a iniciativa de artistas e pesquisadores, dele talvez não sobrasse picilina nenhuma. Isto é, absolutamente nada.
* Odair de Morais é escritor e colabora com o DC Ilustrado professor_odair@hotmail.com

domingo, 17 de janeiro de 2010

ATIVIDADES DE HISTÓRIA DE MATO GROSSO
QUESTÃO 01
(UNEMAT) As Instruções Régias que passaram a vigorar após a restauração do trono português, em 1640, demonstraram as características geopolítica de expansão, ocupação, posse e domínio territorial em Cuiabá.
Sobre a ocupação da Fronteira Oeste de colonização colonial, assinale a alternativa correta.
a) O território mato-grossense foi marcado por conflitos entre nativos e sertanistas, exceto a população mineradora.
b) Os nativos não eram utilizados nas roças e lavras pelo predomínio de ações violentas de contato interétinico.
c) O povoamento vindo do litoral, representado pelos paulistas, não conseguiu empurrar a população nativa para o interior da Capitania, que era também denominado de "Sertão".
d) O modelo de aldeamento jesuita, nos séculos XVI e XVIII, foi usado como "fronteira indígena", foi fundamental paa o estabelecimento do governo português na fronteira.
e) O Capitão General Rolim de Moura, em 1756, sugeriu ao rei de Portugal que não utilizasse os índios Bororo como "Sipaios da Índia" (tropa militar", em decorrência da hostilidade do grupo.
QUESTÃO 02
(UNEMAT) Cartógrafos, jesuítas e europeus, no século XVIII, utilizavam as expressões "Xarayes" e "Lagunas dos Xarayes", para identificar a região central da América do Sul. Em seus relatos surge Pantanaes ou Pantanais, "que são campos alagados com várias lagoas e sangradouros (COSTA, 1999).
Com relação ao Pantanal mato-grossense, assinale a alternativa incorreta.
a) Descrições de viajantes como Irala e Cabeça de Vaca indicam Xarayes (Pantanal), como um lugar fértil, alagado e recortado por rios, lagos e baías.
b) Conquistadores paulistas que adentravam à Província do Paraguai, via Puerto de Los Reyes e Xarayes, transformaram os rios em rotas monçoeiras.
c) As viagens entre São Paulo e as minas do Cuiabá, além do Xarayes, demoravam em média, um ano e meio, eram denominadas epopéias.
d) Os indígens "Payaguá" e "Guaykuru", moradores do Pantanal (Xarayes), ocasionavam uma recepção tensa aos viajantes.
e) De acordo com os relatos de viajantes, os mosquitos também eram descritos como "inimigos" tal como os indígenas Payaguá e Guaykuru.
QUESTÃO 03
(UNEMAT) O atual município de Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, possuía, no século XIX, um quadro demográfico considerável de africanos oriundos da África Atlântica (Banto e Benguela).
Sobre a temática sociabilidade escrava, assinale a alternativa correta.
a) As famílias escravas não aceitavam o batismo cristão, devido a diferentes formas de professar a religião de seus antepassados.
b) Nos Quilombos da região de Chapada dos Guimarães, as mulheres escravas descendentes de Banto e Benguela, exerciam intensa liberdade sexual, preservando os ritos de sua terra de origem.
c) A circuncisão não era uma prática recorrente das mulheres escravas no "Altiplano Cuiabano", diferenciando-se de outros grupos africanos de quilombos da Capitania.
d) O cronista José de Mesquita desenvolveu estudo comparativo entre a Chapada dos Guimarães, a qual denominou "Altiplano Cuiabano", e o planalto de Benguela, na África Atlântica, afirmando haver semelhança entre os planaltos.
e) A endogamia (prática de casamento entre parentesco) não foi uma prática de sociabilidade recorrente entre as famílias escravas de Chapada dos Guimarães.
QUESTÃO 04
(UNEMAT) A Guerra do Paraguai é uma temática que tem gerado "calorosas" discussões historiográficas. Estudos recentes mostram que a origem do conflito estaria vinculada à consolidação dos Estados Nacionais no Rio da Prata, contrariando a ideia de que a guerra ocorreu pela imposição da Inglaterra (ALMEIDA, 2006).
Entre as características desse conflito, assinale a alternativa correta.
a) Os segmentos da classe dominante que propuseram a Tríplice Aliança não se beneficiaram da Guerra.
b) A condição econômica da província de Mato Grosso, quanto à extensão territorial benéfica à exploração de várias riquezas, e a economia forte, que a República do Paraguai tinha nesse momento, foram as únicas causas do conflito.
c) A participação de escravos africanos e indígenas, como "Voluntários da Pátria", foi importante para a vitória da Tríplice Aliança.
d) O conflito teve causas socioculturais, mas essencialmente a política, pois tinha como base o Nacionalismo.
e) O advento da guerra não prejudicou a Globalização da economia industrial proposta pela Tríplice Aliança.
QUESTÃO 05
(UNEMAT) Segundo o Barão de Maracaju, o "único meio de chamar os indígenas da Província de Mato Grosso à civilização é a persuasão" (RELATÓRIO DO PRESIDENTE DA PROVÍNCIA, MARACAJU, 1880).
Conforme a descrição do Barão de Maracaju sobre a Política Indigenísta aplicada na Província de Mato Grosso, assinale a alternativa incorreta.
a) O uso de Bandeiras "pacificadoras" eram uma atividade constante na província, remanescente do período colonial.
b) A participação das mulheres, a exemplo da índia Rosa Bororo, e de crianças no contato interétnico com indígenas considerados bravios, era uma estratégia de pacificação de governos provinciais.
c) O presidente da Província, Barão de Maracaju, foi um dos proponentes da participação de indígenas nas bandeiras, comhecidas como "Rodas Volantes".
d) A ausência de uma Legislação para a questão indígena, proposta pelo governo central, limitava as ações punitivas dos Presidentes de Província.
e) O referido Presidente da Província, que pregava a "Civilização" dos Índios, incentivava o casamento interétnico, e o batismo cristão para todas as etnias da província.
QUESTÃO 06
(UNEMAT) A transição do século XIX para XX trouxe mudanças econômicas, políticas e socioculturais para a capital da Província de Mato Grosso, Cuiabá.
Dentre as mudanças, apenas uma não corresponde à modernidade.
a) Propostas governamentais de higienização nas cidades para evitar o contágio de doenças como a varíola.
b) Construção de linhas de "carro de ferro", o Bonde e da barca-pêndulo para facilitar o acesso a Cuiabá.
c) A iluminação das ruas do centro de Cuiabá, à base de gás (empresa de gás Globo), depois a querosene, não substituiu a prática nativa de uso de óleo de peixe, principalmente entre os abastados.
d) A construção da "Ponte de Ferro" sobre o rio Coxipó, no início do período republicano.
e) Os governantes consideravam a população "ordeira", mas os viajantes, ainda a consideravam como "indolentes" e "preguiçosos".
QUESTÃO 07
(UNEMAT) A representação da implantação e ou "Proclamação" da República, em Mato Grosso, foi descrita pelos veículos de comunicação da época como contrária à continuação da Monarquia. A Gazeta (21/11/1889), por exemplo, registra que "Monarquia é governo de um povo fraco, pouco inteligente (...) República, governo para crescido. Quanto mais República, mais progresso".
A partir dessa informação, assinale a alternativa incorreta.
a) Esse clamor foi uma constante entre os "formadores de opiniões", políticos partidários da República a partir de 1850.
b) Autores como Virgílio Corrêa Filho e Rubens de Mendonça, que escreveram sobre a "História Política de Mato Grosso, concordararam com a visão do jornal, A Gazeta.
c) A representação sobre a Monarquia não eram homogênia à população mato-grossense da época de transição da forma de governo.
d) A descrição do jornal A Gazeta começou a ser problemátizada recentemente por pesquisadores da historiografia mato-grossense, que estudam o período republicano.
e) A representação sobre a República, proposta pelo jornal A Gazeta era, do ideário e participação cristã.
QUESTÃO 08
(UNEMAT) O governo de Getúlio Vargas adotou a política de colonização do Centro-Oeste e a Amazônia Meridional, a chamada "marcha para o Oeste".
Sobre esse tema, assinale a alternativa correta.
a) A proposta da "Marcha para o Oeste" tinha como prioridade o desenvolvimento da economia nacional, porém, sem vínculo com a economia internacional.
b) A implementação da ocupação do Brasil Central ocorreu por meio da criação de Colônias Agrícolas Nacionais (1941-1944).
c) A televisão e o rádio foram os meios de comunicação responsáveis pela propaganda governamental da "Marcha para o Oeste".
d) A "Marcha para o Oeste" objetivava equilibrar a densidade demográfica de parte do litoral para o interior brasileiro.
e) A "Marcha para o Oeste" priorizou os colonos paulistas.
QUESTÃO 09
(UNEMAT) Segundo Barrozo (2008), "nos últimos 30 anos, os governos federal e estadual planejaram e executaram uma política agressiva de ocupação da região amazônica, considerada por eles como um "vazio demográfico".
Sobre essa temática, assinale a alternativa incorreta.
a) A colonização da Amazônia e Centro-Oeste tinha o objetivo de resolver o problema agrário da região Sudeste do Brasil.
b) O INCRA, órgãos estaduais e privados eram responsáveis pela "integração nacionall", por meio de financiamentos de compra de terras.
c) Uma parte significativa de migrantes do Sul do Brasil, que vieram para a região Centro-Oeste e Amazônia, enriqueceram-se através do plantio de soja.
d) Os migrantes que ocuparam as áreas de florestas, para produzir cultura de subsistência, permaneceram na mesma condição econômica ou empobreceram.
e) Os migrantes que se empobreceram a partir dos projetos de colonização, retornaram para o Sul ou foram ocupar a periferia de cidades mato-grossenses e amazônicas.
RESPOSTAS
01 - D
02 - C
03 - D
04 - C
05 - D
06 - C
07 - E
08 - D
09 - C
CRÔNICA
Enigmas da infância
Odair de Morais*
Especial para o DC Ilustrado
O menino veio correndo ao meu encontro. Tinha uma dúvida.
- Tio, o que é clipe?, perguntou.
Era um desses meninos que cruzam o pátio da escola num instante e depois de alguns segundos já estão de volta. Minutos depois é possível que você se depare com ele na secretaria da escola com a coordenadora lhe fazendo um curativo nas pernas ou estancando com bandaide o sangue que escorre pela sua fronte. Um menino suado, de cabelos despenteados, embora tenha acabado de sair para o intervalo. Recreio, como preferem dizer nessa idade escolar.
Perdoei o fato de o garoto ter me chamado de tio. É claro que ele não teve a intenção de ofender. Não sou tão velho. Embora alguns fios de cabelos brancos já comecem a despontar sobre as minhas orelhas, o tempo ainda vai demorar a tingi-los completamente de cinza. Assim espero. Olhei para o garoto, que por sua vez me olhava surpreso. Eu acabara de deixar a sala de aula. Alguns alunos que me acompanhavam seguiram em direção à cantina. Me agachei e olhei dentro de seus olhinhos curiosos.
- Pequenino, eu disse, clipe é um pequeno objeto de metal ou de plástico que serve para prender folhas de papel.
O menino me olhou desapontado. Chutou algumas pedrinhas, como se eu tivesse acabado de colocá-lo de castigo.
- Não, tio. Clipe da lua... O senhor não sabe? - Ah! da lua você quer saber...
Ele se referia ao eclipse lunar. E óbvio: não conseguia pronunciar a enigmática palavra. Apesar de ter considerado o fato de que ele talvez estivesse querendo saber algo relacionado a videoclipes, asseguro que eclipse lunar nem de longe havia passado pela minha cabeça.
Tentei ser claro o suficiente sem ser pernóstico: - Eclipse lunar ocorre quando os astros, como o sol, a lua e a terra, por exemplo, se alinham no espaço. A terra, estando diante do sol, pode criar sombra e deixar no escuro a lua. Tentava não ser obscuro. Tudo que eu menos queria era causar um eclipse no entendimento do menino. Os leitores podem considerar minha resposta um tanto quanto professoral, digamos assim. Juro, porém, que tentei ser o mais claro possível. Se tiverem definições mais simples, enviem para o meu e-mail, por favor. Mas lembrem-se, há que se considerar um interlocutor de cinco anos de idade.
O fato curioso é que no minuto seguinte o menino já corria pelo pátio outra vez, disparadamente, gritando o nome dos coleguinhas. Confesso que cheguei a pensar, orgulhoso: Por certo, vai divulgar o que acaba de aprender. Ao término das aulas, tomei o caminho de casa, mas não pude deixar de recordar uma noite perdida em algum lugar do passado, num tempo em que eu também não sabia pronunciar a sombria e misteriosa palavra eclipse. Uma noite estrelada na qual primos, vizinhos e irmãos puderam ficar acordados até tarde numa amigável confraternização. Alguns adolescentes andavam aos pares pela rua, de mãos dadas ou abraçados. Eu via tudo através do portão. Alguns se beijavam sob a mortiça luz da lua. Altas horas, enquanto a parentalha se ajudava a subir no muro e até mesmo no telhado de casa, eu aguardava em silêncio, circunspecto e taciturno – um cientista observando a passagem do cometa Halley através de um prato fusco. Foi em 1986. Eu tinha quatro anos de idade. Sabia apenas que a qualquer momento, em algum lugar do céu, alguma coisa espetacular aconteceria. Deveria estar dormindo, conforme diziam. Me obrigaram a ficar calado. Imagina se papai acordasse? Não permitiram que eu subisse no muro. Tive que assistir àquele momento mágico, sozinho, qual um poeta desprezado, encolhido a um canto, sentado em uma pilha de tijolos de oito furos.
* Odair de Morais é escritor e colabora com o DC Ilustrado professor_odair@hotmail.com
O primeiro ciclo de exploração diamantífera
Acompanhe atenciosamente a video-aula sobre o primeiro ciclo de exploração de diamantes em Mato Grosso no ínicio do século 19 com o professor Edenilson Morais.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Ciclo de exploração vegetal

Ainda no final do século 19 e início do século 20, desenvolveu-se em Mato Grosso um novo ciclo econômico: o da exploração vegetal, cujos principais produtos foram : erva-mate, poaia e borracha.
Assista abaixo uma video-aula sobra a importância da erva-mate para a economia mato-grossense durante esse período histórico.
ATIVIDADES DE HISTÓRIA DE MATO GROSSO

QUESTÃO 01
(UNEMAT) Com a abertura da navegação do Rio Paraguai em Mato Grosso, após a Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-1870), muitas empresas estrangeiras se instalaram na Província.
Sobre o tema, assinale a alternativa correta.
a) A fazenda Descalvados, situada na cidade de Cáceres, produzia extrato de carne para a exportação.
b) As usinas de açúcar, instaladas às margens dos rios, produziam açúcar e aguardente para a exportação, sobretudo, para a Europa.
c) O maior obstáculo à instalação de indústrias em Mato Grosso, no período, foi a restrição à importação de máquinas e equipamentos.
d) As Casas Comerciais restringiam suas atividades ao comércio de produtos importados.
e) A produção aurífera e diamantífera foram os produtos extrativos mais explorados.
QUESTÃO 02
(UNEMAT) Após a mudança do regime monárquico para o republicano, no Brasil, o período de 1889 e 1899 constituiu-se em uma das fases mais críticas do ponto de vista político da recente República. Nessa fase, Mato Grosso também foi fortemente influenciado pelos acontecimentos ocorridos na sede do poder localizado no Rio de Janeiro.
Em relação à política mato-grossense, nesse período, assinale a alternativa correta.
a) Mato Grosso foi um dos poucos estados da República a ter o seu primeiro governador eleito pelo voto universal.
b) Os primeiros dez anos da República mato-grossense transcorreram sem maiores problemas, em virtude do acordo prévio entre os partidos Liberal e Conservador.
c) A existência de apenas um partido, o Repúblicano, garantiu a sucessão dos primeiros governos sem maiores problemas entre 1889 e 1899.
d) O rígido controle sobre o processo eleitoral garantiu a lisura nos pleitos e a regularidade na alternância de poder.
e) Após a Proclamação da República, a política em Mato Grosso esteve dividida em dois partidos, o Republicano e o Nacional, e os primeiros dez anos de regime foram marcados por intensos embates políticos.
Respotas
01 - A
02 - E

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Mais uma clássica que pode também pode ser relacionada com o estudo de História dos sertões brasileiros

Poeira
Henrique & Claudinho ft. Cristina & Regina



O carro de boi lá vai gemendo lá num estradão
Suas grandes rodas fazendo profundas marcas no chão
Vai levantando poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do sertão
Olha seu moço a boiada, em busca dum ribeirão
Vai mugindo e vai ruminando, cabeças em confusão
Vai levantando poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do meu sertão
Olha só o boiadeiro montado em seu alazão
Conduzindo toda a boiada com seu berrante na mão
Seu rosto é só poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do meu sertão
Barulho de trovoada coriscos em profusão
A chuva caindo em cascata na terra fofa do chão
Virando em lama poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do meu sertão
Poeira entra em meus olhos, não fico zangado não
Pois sei que quando eu morrer meu corpo vai para o chão
Se transformar em poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do meu sertão, poeira do meu sertão
Confira abaixo uma grande composição do saudoso Goiá que nos versos se encantou com as belezas de Mato Grosso

Tardes Morenas de Mato Grosso
Meire Pinheiro




Com a rainha do meu destino fui conhecer o jardim de Alá
Onde nas flores de madrugadas ainda cantam os sabiás
Tardes morenas de Mato Grosso a paz do mundo achei por lá
Arvores lindas e bem cuidadas
Soltando flores amareladas sobre as calçadas de Cuiabá
Domingo triste da despedida chora viola lá no "Crespim"
Deixei o Mato Grosso do Norte e pela Deusa chorando eu vim
Eu fiz pra ela um simples verso, o universo sorriu pra mim
Minha viola brilhou nos campos
Devido aos bandos de pirilampos nos verdes campos de lá Coxim
A novo aurora tão radiosa aconteceu e segui além
Em Campo Grande passei pensando porque será quero outro alguém
Mas um amor assim repentino as vezes vale por mais de cem
Tratei do modo tão caprichoso
Aquele lindo rosto formoso, olhar manhoso de quem quer bem
Adeus rainha matogrossense não sei se foi meu bem ou meu mal
Só sei que nunca na minha vida eu conheci outro amor igual
Adeus gatinha tão carinhosa estatua viva escultural
Adeus menina de fala franca
Que tem a graça pureza e panca da garça branca do pantanal!
Cuiabá, muito prazer!

Assista ao video com belas imagens da cidade verde ao longo de seu processo histórico

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Homenagem à Mato Grosso

Uma deposição idealizada
A queda de um governador na ótica de Moacyr de Freitas

Um ato de ousadia e insubordinação que aglutinou os estamentos superiores da sociedade cuiabana. Esses são alguns dos elementos que compõem a cena demonstrada na tela "A deposição de Magessi" do pintor Moacyr de Freitas, um arquiteto com vasta folha de serviços prestados no estado e ao mesmo tempo um profundo conhecedor e amante da História de Mato Grosso.

Nesta obra o autor transporta o espectador para o cenário que se via em 20 de agosto de 1821 nos arredores do Palácio dos Capitães-Generais, residência oficial dos governadores desta capitanaia, em Cuiabá, que diga-se de passagem naquele época não possuía o status de capital. Ainda assim, os dois últimos governantes do período colonial, alegando a propalada insalubridade de Vila Bela, passaram a maior parte de suas gestões residindo em Cuiabá.

Esta tela de Moacyr de Freitas, pintada no ano 2000, ilustra bem a idealização do autor a respeito da conspiração elitista que depôs o principal representante da coroa portuguesa em solo matogrossense. Evidentemente que por ser um pintor contemporâneo, Freitas não presenciou a cena, a imaginou e concebeu-a seguindo influências do Romantismo, movimento artístico muito em voga no século XIX e compôs esta bela peça da nossa história colonial.

Ao se fazer uma leitura atenta da cena retratada pelo artista, percebe-se que esse movimento foi encabeçado por elementos oriundos das camadas mais abastadas da sociedade local, fato que pode ser evidenciado ao se observar as vestimentas utilizadas pelas pessoas que se aglomeravam às portas do referido palácio. As pessoas retratadas na tela representam a elite cuiabana, gente que ocupava postos de relevância nas esferas civil, militar e clerical, e que posteriormente constituiríam a Junta Governativa encarregada de administrar essa região depois da derrubada do Capitão-General e Governador de Mato Grosso, Francisco Magessi.

Pouco antes de ser deposto, o referido governador havia jurado fidelidade à Constituição portuguesa, fato que deixava claro seu consentimento com as idéias defendido pelas elites lusitanas que desejavam o regresso do Brasil à sua antiga condição de colônia.

Entretanto esses ideais iam na contra-mão dos interesses da elite cuiabana que partidária do liberalismo, almejava preservar seus privilégios desfrutados naquele período. Dessa forma, planejaram e executaram um golpe que literalmente retirou o tapete sob os pés de Vossa Excelência. Isso não só serviu como demonstração de força ao derrubar o principal representante do poder metropolitano nesta capitania, como também contribuiu para a afirmação de Cuiabá como epicentro da política matogrossense, o que gerou na sequência uma contenda com Vila Bela que desejava manter para si a condição de centro administrativo, acirrando ainda mais a rivalidade entre as duas principais vilas de Mato Grosso.

Freitas demonstra em sua composição harmônica o conluio que se formou em torno dos elementos da classe dominante cuiabana que ao efetuar uma intervenção cirúrgica no plano político, desejava acima de tudo, a manutenção de seu status quo e impedir a todo custo a perda de suas prerrogativas políticas, econômicas e sociais.

No teatro das disputas de poder protagonizaram apenas a camadas dirigentes, uma vez que a maioria esmagadora da população assumiu apenas a função de meros espectadores, alheios ao que se passava, sem direito à participação ativa na definição dos rumos a serem seguidos pela região.

A mencionada obra de Moacyr de Freitas, apesar das limitações impostas, devido ao fato de ser fruto da idealização e do talento do artista e considerando-se ainda as indagações que podem ser feitas sobre a referida obra, esta configura-se com uma peça importantíssima para se ilustrar uma relevante página da história matogrossense. A grande coleção obras de Freitas possibilita releituras da historiografia matogrossense e contribui para que as novas gerações possam ter acesso à riqueza da história regional.

A Morte de Totó Paes, de Alfredo da Mota Menezes


Será que o governador foi assassinado ao invés de ter sido morto numa luta com seus perseguidores? Por que ele não foi capturado vivo? A quem interessava sua morte? O foco principal deste livro é saber quais motivos, principalmente os políticos, levaram à morte de Totó Paes, ou Antonio Paes de Barros, morto em 1906 quando governava Mato Grosso. Não há bandidos ou heróis no palco de disputas em que se transformou Mato Grosso naquele período. Talvez o mais trepidante e instigante momento político que o estado já passou. O livro mostra o que estava por trás disso tudo. Totó Paes ou Antonio Paes de Barros foi morto em 1906 quando governava Mato Grosso. Sua usina de açúcar, Itaicy, era a mais bem aparelhada do estado na época. Sua morte é até hoje motivos de acesos debates. O livro procura entender por que se chegou àquele desfecho. A busca do autor foi pelos fatos políticos que estavam envolvidos o estado desde a proclamação da República em 1889 até a morte do governador.Não dá para separar aquele acontecimento das várias disputas políticas que viveu o estado. Eram os grupos e partidos políticos procurando preencherem os espaços surgidos com o novo regime no país. E nessa tentativa, Mato Grosso passou por três “revoluções”. Uma em 1892, outra em 1899 e a última, em que perdeu a vida o governador Antonio Paes de Barros, em 1906.Fatos ocorridos nos governos dos presidentes Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Campos Sales e Rodrigues Alves ajudam a empurrar a política em Mato Grosso em direções diferentes. O livro mostra que o que acontecia no estado não eram fatos isolados, estava conectado com os acontecimentos nacionais. E até mesmo aos internacionais.O Tratado de Petrópolis de 1903, com a cessão do Acre ao Brasil pela Bolívia, é um dos fatores que ajudou a botar fogo nas relações políticas do estado. Impressiona também como a força militar federal sediada em Mato Grosso interferia nos assuntos políticos locais. Chama atenção ainda a estreita ligação do estado com os países da Bacia do Prata. A hidrovia Paraguai-Paraná unia os diferentes interesses.Mas o foco principal deste livro é saber quais motivos, principalmente os políticos, levaram à morte de Totó Paes. Não há bandidos ou heróis no palco de disputas em que se transformou o estado naquele período. Talvez o mais trepidante e instigante momento político que o estado já passou. O livro mostra o que estava por trás disso tudo.


Sobre o autor:Alfredo da Mota Menezes nasceu em Poxoréo-MT. Publicou os livros: A herança de Stroessner: Brasil-Paraguai, 1955-1980 (Campinas: Papirus, 1987). Este livro foi publicado no Paraguai como La herencia de Stroessner (Assunção: Editora Carlos Schaumam, 1990); Do sonho à realidade: a integração econômica latino-americana (São Paulo: Alfa Ômega, 1990). Guerra do Paraguai: como construímos o conflito (São Paulo: Contexto, 1998); Coisas do cotidiano (Cuiabá: Millenium, 2003); Os blocos econômicos nas relações internacionais (Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2006); e Momento brasileiro: do fim do regime militar à eleição do Lula (Rio de Janeiro: Gryphus, 2006). O autor é PhD em História da América Latina, pela Tulane University-EUA, onde fez também o pós-doutorado e lecionou como professor visitante. Foi professor titular na Universidade Federal de Mato Grosso. É articulista no jornal A Gazeta, desde 1991.

Serviço:Título: A Morte de Totó Paes

Autor: Alfredo da Mota MenezesEdição: 1ª - 2007ISBN: 978-85-99146-35-4

Tamanho: 13,8 x 20,8 cm

Nº de páginas: 208

Gênero: História, Política em Mato Grosso

Editora: Carlini & CaniatoPreço: R$ 35,00

Editora TantaTinta/Carlini & Caniato(65)3023-5714/5715


Humor AM
Irreverência no ar
Por Odair de Morais*
“O difícil agora tem sido convencer o pessoal a deixar o CD aqui na rádio” Mortadela As possibilidades de gravar um álbum hoje em dia são bem maiores do que em outros tempos. Independente das qualidades musicais, basta ao candidato a artista se dirigir a uma das inúmeras gravadoras existentes e se mostrar disposto a pagar pelo serviço. Como sair do anonimato apenas não satisfaz a maioria, o passo seguinte é fazer a divulgação do CD – o que significa necessariamente bater à porta das rádios, embora a internet também se preste a esta finalidade. No entanto, em se tratando de um cantor desprovido de seus atributos essenciais como afinação, ritmo e, principalmente, recursos financeiros, é neste momento que as portas se fecham. Porém, nem mesmo isso pode ser considerado motivo para desespero daqueles que se encontram num beco sem saída, conforme declara o radialista Carlos Roberto, o Mortadela, apresentador há quase vinte anos do programa humorístico ‘A paradinha do Beco da Lama’, da Rádio Cultura de Cuiabá AM. “Na FM, o CD de um cantor sem qualidade, se não tiver jabá, não toca. Mas aqui no Beco toca.” Mortadela relata que o programa “A Paradinha do Beco” foi idealizado pelo professor William Gomes, em 1991, época em que fora produtor artístico da rádio. “Muito criativo, ele nos deu a ideia e nós abraçamos. Foi uma brincadeira que acabou dando certo. O pessoal gosta mesmo de cachorrada.” A paradinha, como o próprio nome sugere, faz referência às “Paradas de sucesso” das rádios, programas nos quais uma lista de músicas mais pedidas pelos ouvintes é apresentada. O Beco da Lama, obviamente, é uma tradicional rua do bairro do Porto, em Cuiabá, famosa por seus bares onde funciona o baixo meretrício. Sendo assim, o diminutivo mais o local que serve de amostra para a pesquisa estabelecem toda a comicidade de uma parada musical às avessas. Na Paradinha do Beco só tocam as piores. A princípio, explica Mortadela, A paradinha estava restrita ao Beco da Lama. No entanto, “com o passar do tempo, o pessoal começou a ligar pra cá e a pedir: - Põe o nosso boteco no roteiro de pesquisa do Dito Jacaré. E a coisa se estendeu pela cidade. O que tem de pé-inchado por aí não é brincadeira.” A entrada do locutor na abertura do programa é, sem dúvida alguma, digna de nota: “Está no ar mais uma paradinha do Beco. Pesquisa do Dito Jacaré nos bares Brotinho, Mané Pretinho, Pedra Branca, Bar da Gorda, Sampaio Galo Verde, na Morada do Ouro. Tijucal: Bar do Bugrinho, Bar da Vanda e Carlinhos Quebra-mola. No Jardim Kennedy: Bar do Quelé. No Dom Aquino: Bar do Dito Pinga e Palmiro Espera-pato. No CPA IV: Bar do JK, Jair Bala e Getúlio Sinuquinha, na avenida Curió. No Cophamil: Bar do Chifrudo e Boca Mardita (sic). Na baixada da égua, entrada pro Cristo Rei, tem o Corno’s Bar. E aqui na avenida São Joaquim, Bar do Prado, malhador de Pé-fofo, o maior número de pé-inchado por metro quadrado do Centro-Oeste brasileiro.” Antes de Mortadela destacar as indicações da tarde, um certo João Pacífico faz as “Orações do Pé-fofo”, paródias do Pai Nosso e do Credo (ver quadro). Assim ungidos, enfim as cinco mais tocadas nos botecos da cidade podem ser reveladas. Até porque, “no dia em que a gente não faz A Paradinha do Beco, o pessoal liga pra cá e reclama”, diz Mortadela. “Já nos sugeriram até que gravássemos um CD com essas músicas. Acredita?” Com humor, o programa resgata diversos vocábulos do linguajar cuiabano e o antigo hábito de atribuir apelidos caricatos. Ironia destilada Conforme Mortadela, este ano foi escolhido o Portão-do-Inferno como local onde serão feitos os lançamentos d’As Mais Pedidas da Paradinha do Beco. Aos ouvintes de outras regiões do estado, explica que “o Portão-do-Inferno é um precipício que há em Chapada dos Guimarães. Tem uns oitenta metros mais ou menos de altura. Então, fica bem lançado de lá.” O ponto alto do programa, como é possível perceber, está nos comentários que Mortadela tece a respeito dos cantores e das músicas tocadas: “Essa música foi gravada pelo Creedence, na década de setenta. Eudes Adriany ouviu, achou que não estava boa e que podia fazer melhor. Confira aí como é que ficou. Have you ever seen the rain, na versão dele virou Encontrar um outro alguém. Solta.” As vinhetas fazem súbitas intervenções durante a execução das músicas. Relinchos, cachorros latindo, descargas, tiros, gargalhadas e, até mesmo, resmungos sobrepõe-se à voz dos cantores. Músicas jocosas e paródias são apresentadas com ironia no programa. “Se você tem cachorro em casa, compra este CD. Você põe pra tocar perto do cachorro, não fica uma pulga, rapaz. Vazam na hora.” Na programação, costumam aparecer os mais diferentes estilos musicais: Forró, Lambadão, Sertanejo e Inclassificáveis. Desafinados e arrítmicos, os cantores deslizam nas letras, pronunciam incorretamente, entram em descompasso com a harmonia como em um verdadeiro show de calouros. Mortadela revela que nem sempre os cantores aprovam a indicação de suas músicas para o Prêmio Latino do Beco da Lama, paródia do Grammy Latino que premia anualmente os melhores cantores da América Latina. Cita, como exemplo, o caso do Zé Moreno, barbeiro, com salão em Várzea Grande, que a princípio gostava de ouvir suas canções sendo tocadas na rádio. Até que “deram um alô pra ele: ‘Esse negócio que o Mortadela está fazendo aí, está tirando sarro de você’”, conta o radialista. “Certa vez, eu estava fazendo o cabelo lá, e o Zé Moreno com a navalha aqui no meu pescoço: ‘Pois é, Mortadela [imitando, com voz fanha]. A gente gravando CD, vendi minha bicicleta, umas galinha (sic) e um terreno que eu tinha... E ocê lá fazendo caçoada, né?’ O Zé dizia isso com aquela navalhona no meu pescoço. Falei vôte! Passei apurado com essa história.” Segundo Toninho, sonoplasta da Rádio Cultura, Zé Moreno faz a barba dos fregueses com uma navalha cega. “De vez em quando, ele dá um copo de água pro cara beber. Pra ver se não furou”, brinca. A equipe do DC Ilustrado foi recebida no estúdio da Rádio Cultura e assistiu ao vivo à gravação do primeiro programa do ano. Divulgamos a seguir a lista das músicas que figuraram entre as mais tocadas do dia. No quinto lugar: Trio Rojão Pesado (Demimoso, Demirante e Demiroso) com “O errado sou eu”. No quarto lugar: Eli Tchorêro, com a música “Briguei com ela”, sucesso dos anos 60. No terceiro lugar: Rodrigues do Bela Vista, com “Ela é sapatão”. No segundo lugar: Augusto Soares. “O chupador”. “Viu que interpretação?”, me pergunta o Mortadela. “Chega a chorar o Augusto Soares. Como diz o outro, não dá assistência, pé-de-pano aparece e cram!” E no primeiríssimo lugar: Denner Silva, grande talento, inclusive com vídeo no youtube. “O que sinto drento (sic) de mim”. Após a entrega do Prêmio Latino (ouve-se um cachorro latindo toda vez que é pronunciado o nome do prêmio), Mortadela ralha: “Vai deitar, Duque. E não solta pelo aí. Amanhã cê volta...” Como ele mesmo diz, chega de cachorrada por hoje.
* Odair de Morais é escritor e colabora com o DC Ilustrado professor_odair@hotmail.com
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Jingle no qual o programa divulga uma suposta “balada” no bairro do Porto.
BECO DA LAMA, a festa. Venha curtir esta super balada com animação dos DJs Dudu Pé-fofo, Goiano Pinga-pura e Boneca. Corote na faixa a noite toda pra refrescar o fervo. Os melhores do Brasil: Raimundo Soldado, Denner Silva, Tião de Minas, Ditinho do Pistão, Zeno Silva, Os Ciborgs do Som... Reserve já a sua trincheira. Cobertura dos programas Ronda Policial, Cadeia neles e Olho Vivo.
Pai-nosso do cachaceiro
Santa cana que estais na roça
Purificado seja o vosso nome
Venha a nós o vosso líquido
Aguardente sem mistura
Pra ser bebido à nossa vontade
Assim no boteco como em qualquer lugar
Cinco litros por cada dia nos daí hoje
Perdoai o dia que bebemos menos
Assim como nós perdoamos o mal que nos faz
Livrai de ficar atordoado e da rádio patrulha Amém!
Pode beber que não faz mal pra ninguém.
Credo do cachaceiro
Creio na subtilidade do gole
Tudo produto da cana e da caninha
Creio na aguardente que é o nosso alimento
Qual foi concebido pelo aperto da moenda
Foi derramado ao cocho ao terceiro dia
Ressurgiu da garrafa Subiu ao céu da boca dos cachaceiros pau-dágua
E no tonel bem arrolhado Donde há de vir a alegrar os grandes e os pequenos
Creio no espírito de 40 graus Na santa safra do mel
Na comunicação dos impostos
Na remissão sem pena
E na ressaca de tudo nós Amém!
Pode beber também que não faz mal pra ninguém.
CRÔNICA

Comércio tradicional cuiabano
Por Odair de Morais*

Sem dúvida alguma, não se trata de um armazém. É muito pequeno. Tampouco chamaria o lugar de mercearia, conforme os seus atuais fregueses. Quando o frequento, sinto que visito o meu próprio passado. Por este motivo, pra mim, é um bolicho. Como dizia o cuiabano de décadas anteriores. Uma venda, na rua de minha casa. Há uma pesada balança sobre o velho balcão de madeira, cujas tábuas, ao que tudo indica, foram consertadas há no mínimo quinze anos. Estão muito gastas e agora envergam devido à sobrecarga. (Fazia algum tempo que eu não via uma balança como esta. Acreditava que tivessem caído em desuso. Seu dono, porém, me explica que elas são bastante utilizadas por feirantes... Faz um tempão que não vou à feira.) A disposição dos produtos pelo cômodo é igual à de outrora. Um saco de mandioca e outro de farinha encostados à parede. No alto, pencas de bananas presas por ganchos de açougue. Ainda que vendidas a preços reduzidos, apodrecem. Antigamente, em caso de ofensa, o insulto vinha por meio de metáfora: “bananinha de bolicho!” – expressão equivalente a ordinário, reles, vil, insignificante. Me lembro que, há vinte anos, a venda de Seu Marcelino já existia. Exatamente no mesmo lugar. Apenas suas paredes, que antes eram de madeira e hoje são de alvenaria, mudaram. Até mesmo os caras que passam a manhã inteira sentados num comprido banco na frente do bolicho bebendo pinga me parecem os mesmos. Entretanto, como se houvesse um código de ética no lugar, ainda que estejam embriagados, todos mantêm o respeito em relação às freguesas. Pra completar o anacronismo do ambiente, desde que amanhece, a trilha sonora segue gritando a programação de uma rádio local AM. A proliferação dos supermercados e dos produtos industriais vem extinguindo esse tipo de comércio tradicional. Hoje, é cada vez mais raro encontrá-lo pela cidade. Na minha opinião, o pequeno comércio, cuja descrição foi feita logo acima, resiste graças à simpatia do homem que o administra. Ainda de madrugada, Seu Marcelino, um sexagenário, vai ao Porto escolher as mais frescas frutas e verduras que serão vendidas nesta manhã que se inicia. Em torno de 7h, ele chega. O Fiat 147 quase não suporta o peso do que foi comprado. Antes de estacionar o carro, acelera seguidas vezes, sinalizando que passou na padaria e trouxe pão francês (pão de sal, como ele diz) quentinho. Imediatamente, começam a surgir, crianças e senhoras que vem comprar os ingredientes para o nutritivo café da manhã da família. Fiado. Marcelino vai anotando todas as dívidas num caderninho ensebado e sujo no interior da venda. O tratamento dispensado aos fregueses é familiar, apropriado, tendo em vista que ele os conhece bem: Eh Joaquim, você não vem aqui hoje? Tem que comprar melancia pras crianças, rapaz. É insistente sem ser inoportuno. Muitas vezes fui até lá buscar um saquinho de leite e voltei trazendo tomate, batata-doce, refrigerante. Tem rapadura de leite, abacate. Vai levar? Leva pra sua mãe, ela gosta. Acerta no final do mês. Apregoa como hábil negociante. A quem vai comprar cebolinha, ele não esquece de oferecer alface e coentro. Se o cliente ainda não está convencido, acrescenta: Você não vai fazer salada? Então. Vai precisar de tomate também. Enquanto nos supermercados é difícil encontrar um funcionário disposto a nos auxiliar, na venda do Seu Marcelino você tem tudo à mão e ainda recebe orientações sobre as propriedades benéficas e nutricionais dos produtos. O discurso segue entre jocoso e bem humorado: Ocê não sabia que cenoura faz bem pra vista? (Acho que o que me faz bem é ouvir este seu modo característico de se expressar, idêntico ao do meu falecido pai.) O velho conserva outras excentricidades como usar chapéu e fumar cigarro de palha. Outro dia, eu nem havia me levantado ainda, o ouvi cantar a todo pulmões pela manhã. Abordei o assunto quando lá estive. Ele me respondeu então que aquela cantoria toda era pra espantar os fantasmas. O barracão permanecia completamente às escuras, mas vi que ele falava sério e tratei logo de mudar de assunto, como convém em situações embaraçosas. Quanto custa a rapadura de leite? Preço de banana, xará.
Odair de Morais é escritor e colabora com o DC Ilustrado
professor_odair@hotmail.com