Geraldo Tavares/DC
domingo, 31 de janeiro de 2010
Geraldo Tavares/DC
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Uma rainha negra no pantanal
Composição: Cláudio Fabrino, Paulo César Portugal, Jorge Baiano e Rico Medeiros
Ilê Ayê, Ara Ayê Ilu Ayê
No seio de Mato Grosso, a festança começava
Vai clarear, oi vai clarear
Conhecida como a cidade do ouro, das ruínas e das negras finas, Vila Bela da Santíssima Trindade, é fruto do sonho do Capitão General Dom Antônio Rolim de Moura, que em 19 de março de 1752, fundou a primeira capital de Mato Grosso, antes denominada Pouso Alegre.Antes desse período, ainda estava em vigor o Tratado de Tordesilhas, e toda conquista empreendida pelos bandeirantes poderia passar a pertencer, legalmente, à Espanha. Assim, tornava-se urgente a fixação de um novo Tratado que o substituísse: o Tratado de Madri, firmado entre Portugal e Espanha, no ano de 1750, o qual veio demarcar novas fronteiras.Diante desse cenário, tratou Portugal de garantir o povoamento daquela região, especialmente na parte relativa à zona do rio Guaporé. Assim em 1748, foi criada uma nova capitania, a de Mato Grosso, desmembrada da capitania paulista.
Dom Antônio Rolim de Moura, de posse com a Carta Régia de D. João V, enviada de Lisboa, para fundar a sede administrativa da nova província de Mato Grosso, veio ao Brasil para desempenhar tal incumbência .
E Vila Bela, no extremo oeste do Estado, foi escolhida para ser a capital .
Levou-se em conta o seu ponto estratégico, seu relevo plano era apropriado para uma boa defesa militar, novas jazidas aurífera eram descobertas, o rio Guaporé, favorecia o acesso fluvial com diferentes países pelo Oceano Pacífico. Próxima do Paraguai e do Peru, Vila Bela, despertava cobiça tanto dos Espanhóis como dos Portugueses.
Religião
Em Vila Bela sempre existiu um ciclo de festas denominado Festança. Esta denominação, na sua origem, referia-se às celebrações relativas ao início do calendário agrícola, quando a terra era preparada para a semeadura. A festança era sempre realizada entre a segunda quinzena de setembro e a primeira de outubro, pois são os dois últimos meses da estação seca e a chegada da estação chuvosa. O objetivo de sua realização estava centrado no agradecimento externado pelos vilabelenses, aos santos, pela proteção dada à colheita anterior.Outras festas também eram realizadas, como por exemplo: Nossa Senhora do Rosário, Mãe de Deus, São Bendito, o padroeiro dos negros, a Santíssima Trindade que é a padroeira da cidade e o Divino Espírito Santo.
Gradativamente essas festa foram sendo agregadas no mês de julho, quando nas repartições públicas municipais decreta-se feriado por uma semana. Nesse período a cidade se reveste de cor, brilho, risos e êxtase.
Um festival de gestos, canções seculares e encenações, um jogo de rimas a céu aberto romperá o cotidiano simples de um povo, enraizado no Vale do Guaporé .
Vila Bela também é palco de várias lendas . Para os negros, além das lendas, há três espécies de seres encantados : o lobisomem, a porca e a bruxa.
Quanto as doenças "os vilabelenses acreditam que elas são sempre causadas por ações externas ao corpo. Os agentes naturais ou sobrenaturais é que são os responsáveis pela introdução das doenças no corpo. Os principais agentes causadores são os calores, as friagens, a água e o vento. Quanto aos agentes sobrenaturais, temos os decorrentes do não cumprimento de resguardos e de feitiços " (Lima-2000) Essa negra cidade serviria para estabelecer divisas e garantir a retirado do ouro que ali era encontrado em abundância. Mas o grande problema era como abastecer a nova capital, já que os produtos vindos da Capitania de São Paulo ficariam muito caros, tendo em vista o percurso a ser percorrido. A solução foi a criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, que com sede em Belém, atingiria a região guaporeana navegando pelos rios componentes da Bacia Amazônica - Amazonas, Madeira e Guaporé. Por ali entravam, alimentos, roupas, instrumentos de trabalho e escravos africanos.
Viu-se que todo o Plano de Villa Bella de Mato Grosso, veio de Portugal, com suas linhas bem traçadas, onde fora planejado a construção da Igreja Matriz, dos jardins suspensos, do Palácio dos Capitães Generais, onde hoje se localiza a Prefeitura Municipal; a Provedoria da Fazenda, responsável pela parte financeira e fiscal; a Ouvidoria, a quem cabia tratar da Justiça; os seus fortes, fortalezas e prisões, que serviriam de pontos estratégicos de defesa do território; a Casa de Fundição, o quartel, a câmara, o cemitério, os oratórios e santos em madeira, datados do século XVIII, também de lá foram trazidos.
Como pano de fundo, lá está ela, a Serra Ricardo Franco, chapadões, montanhas, cortadas por diversas cachoeiras, algumas com até 218 metros, como a do Jatobá, considerada a maior do Mato Grosso. Por trilhas estreitas, chega-se à Cascata dos Namorados, uma cachoeira com cerca de 80 metros, onde o seu véu cria verdadeira caverna, cuja entrada se abre diante de um lago de águas claras. Mais adiante, podemos encontrar uma outra cachoeira, bem menor, a Cascatinha, entre altas copas de árvores .
Entre a Serra e a Vila, encontra-se o Rio Guaporé, com suas águas límpidas, seus aguapés lentos e vegetação exuberante, correndo bondoso para o Norte. Nele convivem botos , matrinchãs, cacharas, pintados, pacús, tucunarés...Com o correr do tempo, observou-se que toda a beleza do Guaporé, o qual encantara Dom Antônio Rolim de Moura, era também motivo de desesperança. No seu período de cheia, grandes plantações eram destruídas, as doenças tropicais da Amazônia, como a malária e o maculo dizimava a população, e quem mais sofria com tudo isso eram os negros escravos, trazidos para atender a cobiça dos europeus. Morriam sem qualquer assistência e os que resistiam, curta era a sua longevidade.
Mas, Vila Bela da Santíssima Trindade, foi resistente, foi desbravada, edificada, cultivada. Suas grandes construções em pedra canga foi fruto da saga e tenacidade de um povo que não esmoreceu-se, que lutou e luta até hoje para sobrevier e expressar o seu direito de ser negra.Aos negros que para lá foram levados negou-se tudo, inclusive o seu próprio patronímico de origem, os quais foram atribuídos conforme a ligação de cada família na comunidade, como por exemplo a família Profeta da Cruz, a família Bispo, que eram negros que serviam e servem até hoje a igreja católica.
Dança do Congo
A dança do Congo, que é o resgate de um passado distante de africanas raízes, é ensaiada meses antes sob os olhares atentos dos pequenos garotos, futuros guerreiros, que aprendem com os mais velhos os segredos do ritual.
No dia esperado, ao nascer do sol lá estão eles pelas pequenas ruas da cidade, cantando em entremeios do dialeto africano, com suas roupas extremamente coloridas e seus capacetes de pena, fazendo a cidade se transformar em um pequeno pedaço da África.
Após pegar de casa em casa todos os festeiros - Rei, Rainha, Juiz, Juíza e Ramalhetes - que são pessoas da comunidade local, que se sentem extremamente lisonjeadas com a escolha, são levados até a igreja, onde se realiza a missa em louvor a São Benedito. Sua imagem, assim como outras, em madeira talhada, vinda diretamente de Portugal, datada do século XVIII, é venerada por todos.
A missa é animada pelo Coral Consciência Negra, composto por jovens e adultos, os quais vestem roupas amarradas pelo corpo, lembrando os antigos negros escravos. O padre da paróquia, também se insere no contexto, usando uma batina com detalhes africanos. Toda a comunidade parece estar sedenta em ser cada vez mais afro. A animação é geral e contagiante, o ritmo das músicas é acelerado, tudo se identifica com a alegria do lugar.
No ofertório, crianças entram com frutos da terra: carambólas, bananas, piquís, castanhas, laranjas, cajá, ingá, cana-de-açúcar, biscoito de ramos-negreiro ....cantando:
"Quem disse que não somos nada, que não temos nada para oferecer?Repare nossas mãos abertas, trazendo as ofertas do nosso viver". (bis)
Na festa se evidencia o religioso e o profano, o catolicismo e o misticismo, manifestados pelas rezas e danças sensuais, pelo louvor e pelas serenatas, pela missas anunciadas com o tocar dos sinos e pela presença do Congo e do Chorado; danças que refletem histórias de batalhas e sofrimentos.
Dança do Chorado
A Dança do Chorado, é exclusiva das mulheres, que com seus gingados e trejeitos faceiros, bamboleiam as cadeiras ao brilho do sol, com seus vestidos rodados. Cada música tem sua coreografia padronizada, com conteúdo sensual. Num determinado momento, cada uma delas dançam com uma garrafa de "Kangingin" na cabeça, o que não lhe tiram a suavidade e destreza dos movimentos. Mas a história da dança, revela o seu lado triste, tendo em vista que as escravas utilizavam-se dela para amenizar a pena de seus entes queridos, quando este empreendiam fuga. Aos senhores de escravos, elas dançavam e sorriam, mas os seus corações choravam. Isso muitas das vezes ajudava na conquista do perdão ou de uma amenização dos castigos, ao amanhecer.
A bem pouco tempo, a Dança do Chorado era realizada nos fundos das casas dos festeiros onde estava sendo preparada a comida para a comunidade, enquanto as senhoras descansavam da lida. O batuque dos banquinhos, mesas e cadeiras ressoavam cozinha a fora, despertando a curiosidade dos que ali passavam. Ao parar eram levados para dentro, amarrados por um lenço. Lá eram instigados a pagar alguma coisa, lembrando as bebidas que os patrões muitas vezes davam.
Hoje elas se apresentam na frente da Igreja Matriz, antes da coreografia da Dança do Congo; sempre com suas cantigas falando de conquistas, paixões e intimidades. Ao centro da roda, as autoridades são levadas com um lenço amarrado no pescoço, onde as mulheres, com sua graciosidade de movimento, faz com que eles levem até elas as garrafas com que iram se apresentar.
O Congo, que por uma questão inexplicável não entra na igreja; após a missa, encena uma luta milenar, dando um sentido africano a todos os símbolos e santos brancos. Há nele diferentes personagens, entre eles o Rei do Congo, seu filho Kangingin, seu secretário de guerra, os vinte e quatro guerreiros do Rei de Bamba e o embaixador que o representa.
"Cheio de ardis, recuos e estratégias de guerra, o Congo é um jogo de rememorização, repleto de palavras e expressões africanas, que vão sendo afirmadas e reconsideradas ao longo dos embates, travados entre as duas partes contentoras. Que mesmo lançado mão dos signos cristãos, a festa desemrola-se em espaço profano, na rua, desvendando todo o espaço de uma religiosidade afro que não se perde nas malhas finas do tempo ".
O Rei do Congo, que praticamente já havia perdido a batalha, sob o cantar de guerra e das espadas em punho dos guerreiros, entrega a seu secretário, um símbolo africano de magia e poder- o embreve - o qual envoca a proteção de forças ocultas e de São Bendito, e mata a todos.
O território do Congo se lava em sangue. E o Monarca ordena que todos os soldados sejam trazidos a presença da sua real coroa. Seu secretário, como num passe de mágica, com um pequeno toque, faz com que todos se ressuscite. O barulho do tambor, ressoa novamente nos ouvidos dos que ali se encontram. Cantos e versos repentes são entoados em homenagem ao Rei do Congo e a São Benedito. Esse é um momento muito especial para a comunidade, tendo em vista que as rimas é forma de reivindicar, protestar, agradecer, louvar; tornando-se num parlatório, onde são aplaudidos ou não, dependendo da aceitação popular.
Após a grande expressão corporal, os festeiros são levados até suas casas, e toda a comunidade se delicia com os almoços e os jantares oferecidos por eles, regados ao "Kanjinjin" e aos doces caseiros.
Nota-se que toda a comunidade se envolve de alguma forma especial, seja como organizador das celebrações, seja como voluntário para fazer a comida , como ajudante para levar a sombrinha que protege do sol os festeiros, seja como mero espectador que entoa as músicas dos guerreiros. No dia seguinte, outra missa é celebrada com a presença da irmandade de São Benedito, composta por pessoas antigas da comunidade, que fazem a escolha dos novos festeiros, que antecipadamente colocam seus nomes a serem apreciados. Os novos e os antigos festeiros, saem dali, acompanhados novamente pelos guerreiros do Congo, que fazem durante o dia todo suas reviravoltas pela cidade, contagiando novamente a todos. A festa finaliza-se no entardecer, com o cair da noite, com a seguinte rima:
"Acabou-se a festa, com muita alegria, Viva Benedito Santo, hoje é o seu dia"(bis)
Exaltação a Tereza de Benguela
Oprimidos pelo açoite, os escravos fugiam constantemente, e formavam quilombos no Vale do Guaporé. Mas um deles significaria para o povo vilabelense, símbolo de resistência e liberdade, o quilombo do "Quariterê" ou quilombo do "Piolho", já que estava localizado na margem ocidental das águas do Rio Piolho.
Governado pelo regime de Monarquia Parlamentarista, todos trabalhavam e usufruíam dos frutos de seu trabalho de forma socialista. Interessante destacar que ali não vivia apenas negros, mas também índios e chiquitos, considerados assim, por serem habitantes da divisa do Brasil com a Bolívia.
Resistiram por 30 anos aos ataques da Coroa Portuguesa, que inclusive acreditava que o quilombo era liderado por um negro conhecido por Zé Piolho, mas que somente após uma emboscada, no período noturno, pôde se descobrir que por trás daquelas resistências estava uma Rainha Negra - Tereza de Benguela - viúva de Zé Piolho. Mulher altiva, corajosa, decidida, enérgica e muito justa.
Com a destruição do Quilombo do Piolho, foram aprisionados quilombolas e índios; Tereza que não se conformava em ver-se novamente subjugada à escravidão, morreu de cólera. História que inspirou o carnavalesco Joãozinho Trinta, no enredo da Escola de Samba Viradouro, no ano de 1994.
Ocorre que outra versão existe sobre a morte de Tereza. Que teria ela se suicidado após ter sido captura pêlos soldados portugueses. Mas isso pouco importa para o povo vilabelense. Já que para eles Tereza é símbolo de luta, persistência, garra e principalmente de amor a liberdade.
Entre os anos 60 e 80, do presente século, em função de novos fatores econômicos, ou seja, dos incentivos dados pelo governo federal para a ocupação do interior do Brasil, muitos brancos migraram para a região, provocando mudanças no quadro demográfico. Essas mudanças afetaram também os usos e costumes, a cultura e a língua . Transferência da Capital para Cuiabá
O clima de instabilidade e escassez do ouro fez com que em 1835, no Governo de Francisco de Paula Magessi, transferisse a capital para Cuiabá/MT, a 520 Km de Vila Bela, tornando-se mais7 barato para a Coroa Portuguesa abandonar tudo que ali fora construído, inclusive os negros escravos. Levá-los para a nova capital seria muito oneroso, ficaria mais em conta a aquisição de outros na Villa Real do Bom Jesus de Cuiabá. Os negros herdaram uma cidade em ruínas. A população passou a concentrar suas atividades no extrativismo: extração da poaia e da borracha. A terra que até então fora lavrada sob o julgo do trabalho escravo, agora era território de liberdade e posse comunitária. Era dono dela, quem nela trabalhasse.
Abandonados a sua própria sorte, a heróica gente vilabelense, formada por uma maioria negra, detentores de um importante e rico contexto cultural e histórico, resistiu espelhados na Rainha Negra Tereza de Benguela. A escravania negra que nesta querida cidade permaneceu resguardando ao Brasil essas fronteiras e a cultura milenar de nossos ancestrais; com muito sacrifício lutou, mesmo com todas as dificuldades de comunicação com qualquer parte dessa gigantesca nação. Sem recursos e sem conforto, a heróica gente vilabelense não esmoreceu e resistiu as intempéries do tempo.
Hoje, Vila Bela está completando 250 anos, com uma população de mais ou menos 70% de negros, e todos esses anos significa um símbolo de resistência, de exercício de cidadania através da preservação de sua cultura milenar, que é condição básica para a sobrevivência da população.
Há quatro meses vem sendo desenvolvido o projeto "Fronteira Ocidental", onde pesquisadores que estudam a arqueologia e a história da primeira capital de Mato Grosso, concluíram que a região foi habitada há mais de vinte anos. E querem que Vila Bela seja patrimônio histórico mundial.
Para a arqueóloga Érica Gonzales, "Na região de Vila Bela nós temos sítios arqueológicos com os vestígios dos primeiros habitantes do Brasil, inclusive da América como um todo, de 25 mil anos para cá".
"No subsolo da cidade a gente tem 250 anos de história de formação de Mato Grosso, do Brasil, que tem que ser explorado em benefício da própria comunidade", afirmou o coordenador do projeto Paulo Zantini.
Veja que é preciso que sociedade vilabelense se organize, para que num futuro bem próximo possa exercer seus direito e não deixar que mais uma vez sejam explorados pelos que para li vão apenas com o intuito de subtraí-los.
FONTE:
http://www.vilabelamt.com.br/congo.html
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Primeira Gravação: Irmãs Galvão Música: Riozinho (Vencedora do Festival de Música Sertaneja da Rádio Record 1979)
Compositor: José Fortuna e Carlos César
Meu rio pequeno traz o liquido dos campos
Rodeado de barrancos
Corruido pelos anos
Vai arrastando folhas mortas e saudade
Por do sol de muitas tardes
Ilusões e desenganos
Cruzando vales, chapadões e pantanais
Bebedouro de pardais
Também espelho de luar
O seu roteiro não tem volta só tem ida
Pra fim dar a sua vida
Amplidão o azul do mar
Riozinho amigo, são iguais as nossas águas
Também tenho um rio de mágoas
A correr dentro de mim
Usando na alma campos secos e desertos
Cada vez vendo mais perto
O oceano de meu fim
Riozinho amigo, nasceste junto a colina
Era fio da água de mina
E cresceu tão lentamentemargeando matas, ramagens, troncos e flores
Passarinhos multicores
Seguiram vossa corrente
Riozinho amigo, quantas vezes assistiu
Acenos de quem partiu
Encontro dos que chegaram
Por testemunha de muitas juras de amor
Quantas lágrimas de dor
Suas águas carregaram
Riozinho amigo, sobre a areia do remanso
Animais em seu descansoali vem matar a sede
As borboletas em suas margens se amontoam
E depois alegres voam
Na amplidão dos campos verdes
A brisa em crespa o seu rosto de menino
Como o mais terno e divino
Beijo da mãe natureza
Muitas paisagens, madrugadas coloridas
Encontros e despedidas
Seguem vossa correnteza
- Garantiu a expansão das fronteiras nacionais, no final do século XVII e primeira metade do século XVIII, constituindo-se no ante-mural da Colônia;
- Na primeira metade do século XVIII, foi objeto da expansão da Coroa Portuguesa e do mercantilismo europeu, com a produção de ouro nas minas de Cuiabá, Vila Bela e adjacências;
- Entre a segunda metade do século XIX e o ínicio do século XX, Mato Grosso contribuiu com a arrecadação nacional, quando ganhou destaque o extrativismo vegetal, exportando matérias-primas, a exemplo da poaia, do látex e da erva-mate;
- No plano interno, na segunda metade do século XIX, Mato Grosso ampliou suas relações com as demais regiões brasileiras impulsionado pela melhoria nas comunicações, que permitiram a exportação regular de seus produtos, como açúcar e o charque, atraindo maior fluxo de migrantes;
- Mato Grosso assumiu, durante o século passado, o papel de celeiro do Brasil, segundo o qual deveria se converter em potencial produtor de alimentos e centro atrativo de mão-de-obra excedente de outras regiões. Então o território mato-grossense passou a ser alvo da famosa política de integração nacional, modificando dessa maneira sua secular estrutura econômica vigente.
Fonte: MORENO, Gislaine, HIGA, Tereza Cristina S. Geografia de Mato Grosso: território, sociedade, ambiente. Cuiabá: Entrelinhas, 2005, p. 32.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
a) Era assim que os primeiros bandeirantes chamavam a região em torno das minas do Cuiabá.
b) Era assim que os índios chamavam a região que fica entre os rios Guaporé e Cuiabá.
c) Era assim que os primeiros bandeirantes chamavam a região do Guaporé.
d) Era assim que as autoridades portuguesas chamavam a região em torno das minas do Coxipó e Cuiabá.
e) Era assim que os primeiros bandeirantes chamavam a região alagada do rio Paraguai.
QUESTÃO 02
De acordo com o Tratado de Tordesilhas, Mato Grosso pertencia a:
a) Portugal.
b) França.
c) Holanda.
d) Espanha.
e) Inglaterra.
QUESTÃO 03
(UNEMAT) O processo de ocupação do Oeste brasileiro e, por conseguinte, do Estado de Mato Grosso que, mais tarde, na primeira metade do século XVIII, daria condições para o surgimento de Cuiabá, está ligado à:
a) Iniciativa dos bandeirantes paulistas do Grão-Pará, que avançaram no sentido oeste para além dos limítes do Tratado de Madri, em busca de áreas para a criação de gado.
b) Iniciativa dos bandeirantes espanhóis, que avançaram no sentido leste para além dos limítes do Tratado de Tordesilhas, em busca de áreas mineradoras.
c) Iniciativa de bandeirantes paulistas, que avançaram no sentido oeste para além dos limítes do Tratado de Tordesilhas, em busca de indígenas.
d) Iniciativa dos bandeirantes portugueses do Grão-Pará, que avançaram no sentido oeste para além dos limítes do Tratado de Tordesilhas, em busca de áreas de mineração.
e) Iniciativa dos bandeirantes paulistas, que avançaram no sentido oeste para além dos limítes do Tratado de Tordesilhas, em busca de áreas de pastagens.
QUESTÃO 04
(UFMT) A descoberta de ouro em 1719, nas margens do rio Coxipó, dando origem ao povoamento da região do rio Cuiabá, está ligada à:
a) Catequese praticada pelos jesuítas e disseminada por todo território colonial.
b) Disputa pela hegemonia européia sobre o território americano.
c) Tentativa de dominação dos índios coxiponé pelos espanhóis.
d) Divergência política entre colonizadores espanhóis e portugueses.
e) Ação de penetração do território colonial pelo bandeirante paulista no sentido litoral-sertão.
QUESTÃO 05
Assinale a alternativa que contenha informações corretas sobre o início da ocupação de Mato Grosso.
a) O Arraial de Cuiabá foi o primeiro povoado formado na região durante o século XVIII, após a descoberta do ouro de aluvião.
b) As monções de abastecimento traziam produtos de primeira necessidade que eram consumidos por toda a população mineradora devido ao preço acessível.
c) O primeiro bandeirante a chegar nesta região e responsável pelo descobrimento do ouro de aluvião, no atual Coxipó do Ouro, foi Pascoal Moreira Cabral.
d) O ouro descoberto nesta região era do tipo aluvional, não necessitando de técnicas aprimoradas para sua extração, muito menos mão-de-obra especial para esse tipo de economia.
e) O ouro descoberto nas Lavras do Sutil não foi suficiente para atrair contingente populacional para a região do Arraial de Cuiabá.
01 – C
02 – D
03 – C
04 – E
05 - D
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Acompanhávamos atentos ao desenrolar do jogo entre o Operário de Várzea Grande e o poderoso Botafogo do Rio. A partida fora realizada no estádio Verdão, em Cuiabá, e naquele dia infelizmente não pudemos ir. Então a alternativa foi acompanharmos tudo através das ondas do rádio. Estávamos reunidos em volta do aparelho, eu, meu pai, meus irmãos e primos, todos na maior expectativa.
Os mixtenses diziam que levaríamos uma surra, "goleada na certa" apregoavam na véspera, os nossos rivais.
Acreditávamos que o "chicote da fronteira" não nos decepcionaria, que venderia caro uma eventual derrota e que sairia de campo de cabeça erguida e aplaudido pela torcida.
O poderoso clube da estrela solitária, que naquela época, é bem verdade, não tinha um elenco tão imponente assim, apenas seu arqueiro, que já havia disputado uma Copa do Mundo, na reserva, mas ainda assim tinha bagagem internacional e merecia respeito. Ah, sem falar no treinador botafoguense, ninguém menos que Didi, o "folha seca" detentor de um vasto currículo no futebol internacional.
Apesar de todas as adversidades, acreditávamos que o Operário seria guerreiro naquele dia.
Voltando ao jogo, o Botafogo, favorito disparado, não demorou muito em abrir o placar, gol do atacante Amarildo. Seria esse o prenúncio de uma jornada mal lograda para os mato-grossenses? Porteira que passa um boi... Já viu né?
Que nada! O Operário não se deixou intimidar e passou a pressionar o adversário em busca da igualdade no marcador. Mas todas as nossas investidas eram rechaçadas pela zaga adversária ou pelo seu goleiro, em tarde inspirada.
Parecia que aquele não era o nosso dia...
Já no crepúsculo da partida, eis que temos um escanteio a favor pela direita.
Na bola o ponta-esquerda Ivanildo, "de pé trocado é perigo dobrado" diziam os antigos locutores. Era a nossa derradeira esperança, a partida já se encaminhava para o seu final. Dedos cruzados, respiração paralisada, o coração disparado. Agora ou nunca!
O narrador Márcio de Arruda, "o categoria que não muda", carregava na adrenalina, "é fogo, é fogo, torcida tricolor, aguenta coração!", bola na área, um perde-ganha danado, disputa de cabeça, até que a bola sobra pra Mosca, nosso principal jogador naquela tarde, e ele, como todo artilheiro que se preze, fez o imponderável.
A torcida tricolor viu a genialidade do artilheiro no desfecho da jogada. Um lance acrobático, insinuante e inesperado que deixou perplexo o experiente goleiro botafoguense.
"Golaço, um lindo gol de Mosca, gol de bicicleta! O "Chicote da Fronteira" empata no apagar das luzes do espetáculo!". A narração eufórica aguçava mais ainda a nossa imaginação. Começávamos a desenhar em nossas mentes aquela pintura de gol. Teria sido tão lindo assim, ou o locutor exagerou na emoção? "Ah, se for tão belo assim vai passar no Fantástico!" profetizou meu pai, tricolor convicto.
Em casa festejamos pra valer. assim como a galera tricolor nas arquibancadas lotadas do governador Fragelli.
À noite, ficamos reunidos em frente à TV, aguardando ansiosamente aos gols da rodada. Até que a voz emblemática de Leo Batista anunciou: "Mosca do Operário-MT, é dele o Gol do Fantástico!". Comemoramos como se fosse a conquista de um título.
Aquilo nos encheu de orgulho, massageou nosso ego, aumentou a nossa auto-estima de operariano, de mato-grossense!
No dia seguinte ainda teve matéria no Globo Esporte com o herói da tarde anterior aparecendo em rede nacional de televisão. Realmente naquele dia ele foi uma verdadeira mosca na sopa do Botafogo, com direito à trilha sonora de Raul Seixas e tudo, "eu sou a mosca que pousou em sua sopa..."
Esse golaço do Mosca foi com certeza inesquecível.
Nova edição do Dicionário Cuiabanês
domingo, 17 de janeiro de 2010
sábado, 16 de janeiro de 2010
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Poeira
Henrique & Claudinho ft. Cristina & Regina
O carro de boi lá vai gemendo lá num estradão
Suas grandes rodas fazendo profundas marcas no chão
Vai levantando poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do sertão
Olha seu moço a boiada, em busca dum ribeirão
Vai mugindo e vai ruminando, cabeças em confusão
Vai levantando poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do meu sertão
Olha só o boiadeiro montado em seu alazão
Conduzindo toda a boiada com seu berrante na mão
Seu rosto é só poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do meu sertão
Barulho de trovoada coriscos em profusão
A chuva caindo em cascata na terra fofa do chão
Virando em lama poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do meu sertão
Poeira entra em meus olhos, não fico zangado não
Pois sei que quando eu morrer meu corpo vai para o chão
Se transformar em poeira, poeira vermelha, poeira
Poeira do meu sertão, poeira do meu sertão
Tardes Morenas de Mato Grosso
Meire Pinheiro
Com a rainha do meu destino fui conhecer o jardim de Alá
Onde nas flores de madrugadas ainda cantam os sabiás
Tardes morenas de Mato Grosso a paz do mundo achei por lá
Arvores lindas e bem cuidadas
Soltando flores amareladas sobre as calçadas de Cuiabá
Domingo triste da despedida chora viola lá no "Crespim"
Deixei o Mato Grosso do Norte e pela Deusa chorando eu vim
Eu fiz pra ela um simples verso, o universo sorriu pra mim
Minha viola brilhou nos campos
Devido aos bandos de pirilampos nos verdes campos de lá Coxim
A novo aurora tão radiosa aconteceu e segui além
Em Campo Grande passei pensando porque será quero outro alguém
Mas um amor assim repentino as vezes vale por mais de cem
Tratei do modo tão caprichoso
Aquele lindo rosto formoso, olhar manhoso de quem quer bem
Adeus rainha matogrossense não sei se foi meu bem ou meu mal
Só sei que nunca na minha vida eu conheci outro amor igual
Adeus gatinha tão carinhosa estatua viva escultural
Adeus menina de fala franca
Que tem a graça pureza e panca da garça branca do pantanal!
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
A queda de um governador na ótica de Moacyr de Freitas
Um ato de ousadia e insubordinação que aglutinou os estamentos superiores da sociedade cuiabana. Esses são alguns dos elementos que compõem a cena demonstrada na tela "A deposição de Magessi" do pintor Moacyr de Freitas, um arquiteto com vasta folha de serviços prestados no estado e ao mesmo tempo um profundo conhecedor e amante da História de Mato Grosso.
Nesta obra o autor transporta o espectador para o cenário que se via em 20 de agosto de 1821 nos arredores do Palácio dos Capitães-Generais, residência oficial dos governadores desta capitanaia, em Cuiabá, que diga-se de passagem naquele época não possuía o status de capital. Ainda assim, os dois últimos governantes do período colonial, alegando a propalada insalubridade de Vila Bela, passaram a maior parte de suas gestões residindo em Cuiabá.
Esta tela de Moacyr de Freitas, pintada no ano 2000, ilustra bem a idealização do autor a respeito da conspiração elitista que depôs o principal representante da coroa portuguesa em solo matogrossense. Evidentemente que por ser um pintor contemporâneo, Freitas não presenciou a cena, a imaginou e concebeu-a seguindo influências do Romantismo, movimento artístico muito em voga no século XIX e compôs esta bela peça da nossa história colonial.
Ao se fazer uma leitura atenta da cena retratada pelo artista, percebe-se que esse movimento foi encabeçado por elementos oriundos das camadas mais abastadas da sociedade local, fato que pode ser evidenciado ao se observar as vestimentas utilizadas pelas pessoas que se aglomeravam às portas do referido palácio. As pessoas retratadas na tela representam a elite cuiabana, gente que ocupava postos de relevância nas esferas civil, militar e clerical, e que posteriormente constituiríam a Junta Governativa encarregada de administrar essa região depois da derrubada do Capitão-General e Governador de Mato Grosso, Francisco Magessi.
Pouco antes de ser deposto, o referido governador havia jurado fidelidade à Constituição portuguesa, fato que deixava claro seu consentimento com as idéias defendido pelas elites lusitanas que desejavam o regresso do Brasil à sua antiga condição de colônia.
Entretanto esses ideais iam na contra-mão dos interesses da elite cuiabana que partidária do liberalismo, almejava preservar seus privilégios desfrutados naquele período. Dessa forma, planejaram e executaram um golpe que literalmente retirou o tapete sob os pés de Vossa Excelência. Isso não só serviu como demonstração de força ao derrubar o principal representante do poder metropolitano nesta capitania, como também contribuiu para a afirmação de Cuiabá como epicentro da política matogrossense, o que gerou na sequência uma contenda com Vila Bela que desejava manter para si a condição de centro administrativo, acirrando ainda mais a rivalidade entre as duas principais vilas de Mato Grosso.
Freitas demonstra em sua composição harmônica o conluio que se formou em torno dos elementos da classe dominante cuiabana que ao efetuar uma intervenção cirúrgica no plano político, desejava acima de tudo, a manutenção de seu status quo e impedir a todo custo a perda de suas prerrogativas políticas, econômicas e sociais.
No teatro das disputas de poder protagonizaram apenas a camadas dirigentes, uma vez que a maioria esmagadora da população assumiu apenas a função de meros espectadores, alheios ao que se passava, sem direito à participação ativa na definição dos rumos a serem seguidos pela região.
A mencionada obra de Moacyr de Freitas, apesar das limitações impostas, devido ao fato de ser fruto da idealização e do talento do artista e considerando-se ainda as indagações que podem ser feitas sobre a referida obra, esta configura-se com uma peça importantíssima para se ilustrar uma relevante página da história matogrossense. A grande coleção obras de Freitas possibilita releituras da historiografia matogrossense e contribui para que as novas gerações possam ter acesso à riqueza da história regional.
Irreverência no ar
Comércio tradicional cuiabano
Por Odair de Morais*