domingo, 30 de janeiro de 2011

Violência e drogas marcam relação entre índios do Mato Grosso do Sul



A proximidade com os brancos trouxe para as aldeias o vício do álcool, da maconha e da cocaína. Com a falta de segurança, pais de família se unem e vão para as ruas fazer patrulhamento comunitário.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Saiba mais sobre o desenvolvimento econômico do Estado de Mato Grosso na segunda metade do século XIX
Álbum Gráfico
Poaia


Em 1820, Cuiabá volta a ser sede política e administrativa de Mato Grosso e Vila Bela entra em decadência. Neste período surgiu uma indústria doméstica que supriu a necessidade de produtos da terra como farinha de mandioca, arroz, feijão, açúcar, aguardente, azeite de mamona e algodão.
Por volta de 1830 surge a extração da ipecacuanha ou poaia, Cephaelis ipecacuanha. Nesta época, José Marcelino da Silva Prado, explorando garimpos de diamantes nas imediações do Rio Paraguai, em região próximo à Barra do Bugres, observou que seus garimpeiros usavam, quando doentes, um chá preparado com raiz de arbusto facilmente encontrado à sombra da quase impenetrável floresta da região. Tratava-se da “poaia”, que era antiga conhecida dos povos indígenas, que tinham repassado seu conhecimento aos colonizadores. Curioso e interessado, o garimpeiro enviou amostras da planta para análise na Europa, via porto de Cáceres e Corumbá. Desta raiz é extraída a Emetina, substância vegetal largamente utilizada na indústria farmacêutica, principalmente como fixador de corantes.
Constatado oficialmente seu valor medicinal, iniciou-se, então, o ciclo econômico da poaia, de longa duração e grandes benefícios para os cofres do Tesouro do Estado. Esta planta é extremamente sensível, abundando em solos de alta fertilidade sob árvores de copas bem formadas. Seus principais redutos eram áreas dos municípios de Barra do Bugres e Cáceres. A princípio, os carregamentos seguiam para a metrópoles via Goiás, depois passou a ser levada por via fluvial, com saída ao estuário do Prata.
Os poaieiros eram os indivíduos que se propunham a coletar a poaia. O poaiaeiro surgiu em Mato Grosso em fins do século XIX, e foi responsável pelo surgimento de núcleos de povoamento no Estado, graças à sua atividade desbravadora, sempre à procura de novas “manchas” da raiz da poaia. Porém, o próprio poaieiro decretou o (quase) fim desta cultura, pois os “catadores” da poaia somente extraíam as plantas, não faziam o replantio, não seguindo o exemplo dos povos indígenas que, ao subtraírem as raizes da ipeca, as replantavam, garantindo, assim, a perenidade do vegetal.
Outro fator que contribuiu para a escassez da planta foi o desmatamento desenfreado da região oestina de Mato Grosso, pois a poaia estava acostumada à sombra das matas úmidas, e sucumbiu ante a queda das árvores. A poaia chegou a ser o segundo contribuinte para os cofres da Província de Mato Grosso, devido a sua exportação principalmente para a Europa.
Após a constatação em Paris de que a borracha mato-grossense possuía boa qualidade o produto tornou-se famoso em várias partes do mundo. Logo após a Guerra do Paraguai, em 1870, a produção, oriunda dos vastos seringais nativos da imensa região banhada pelo Rio Amazonas, tornou-se um ponto de apoio para os minguados cofres da Província. Diamantino foi o grande centro produtor de látex e Cuiabá se transformou em centro comercial do produto, com várias empresas criadas para exportar a borracha mato-grossense. Destacou-se entre elas a Casa Almeida e Cia., com matriz na Praça 13 de Maio. Ela exportava para várias partes do mundo, principalmente para Londres e Hamburgo.
A criação de gado e a lavoura tornaram Livramento, Santo Antônio do Rio Abaixo e Chapada dos Guimarães os grandes celeiros da capital. Mas com o fim da escravidão estas localidades entraram em verdadeiro colapso.
Na região sul da Província, hoje território de Mato Grosso do Sul, surgiu ainda no fim do século XIX a produção de erva mate, Ilex paraguaiensis. O empresário Tomás Laranjeira obteve privilégios da Província para começar a empresa Mate Laranjeira. Entre as facilidades conseguiu arrendar toda a região banhada pelos afluentes da margem direita do Rio Paraná, numa área de aproximadamente 400 léguas quadradas. O empreendimento foi um sucesso e foi de grande contribuição para os cofres públicos na época. Com a quase extinção dos ervais nativos e uma política econômica contrária aos interesses comerciais desta cultura, o segmento comercial entrou em decadência em menos de duas décadas.

Album Gráphico
Usina de Itaicy



Apesar de conturbado politicamente, o período de 1889 a 1906 foi de intenso progresso econômico. Logo após a proclamação da República, várias usinas açucareiras foram criadas e se desenvolveram. Entre elas se destacaram as usinas Conceição, Aricá, Flechas, São Miguel e Itaici. Esses grandes empreendimentos foram, na época, o maior indício de desenvolvimento industrial de Mato Grosso. Sua decadência foi em razão do grande isolamento da região e do abandono por parte do governo.
Antigos saladeiros contam a história do velho Mato Grosso



Saladeiros, assim eram chamadas as fazendas que salgavam carne, para fazerem o charque. Às margens do rio Paraguai há muitas fazendas que faziam isso, e que hoje se tornaram pousadas e pontos de parada para quem navegam no rio. A fazenda do Barraco Vermelho foi o primeiro lugar que a Caravana Travessia Pantaneira parou depois que partiu da cidade de Cáceres (MT).

O lugar, onde funciona uma pequena pousada foi analisado pelos técnicos que integram a viagem. Lá, no fim do século 19, funcionou um saladeiro que vendia charque para a Europa.

A segunda parada foi na fazenda Descalvados. Um lugar que no fim do século 19 e início do século 20 foi uma referência nacional em produção de charque e da prosperidade daqueles anos. Hoje as ruínas, de boa parte sede, contam um pouco da história de dias gloriosos de uma fazenda que chegou a ter 600 mil cabeças de gado, e que os Correios lhe conferiram um Código de Endereçamento Postal (CEP) próprio, tamanha a importância do local.

O que sobrou do antigo saladeiro o atual proprietário tenta restaurar com o apoio do governo federal. São barracões, casas, maquinário antigo e até mesmo uma igreja, com as imagens de São Braz e São Roque vindas de Portugal, que hoje estão necessitando de cuidados para que a memória daqueles tempos não seja apagada.

Cronologia - Em 1874 a Descalvados pertencia a João Carlos Pereira Leite, na época tinha mais de 210 mil hectares. Rafael Del Sar, um argentino arrendou as terras e construiu o saladeiro, em 1878. Nas mãos de Jaime Cibius Bucharel, em 1881, a fazenda recebeu um reforço financeiro de investidores da Bélgica, país, com o qual Bucharel deve estreitos laços. Depois, em 1911, passou às mãos de Percival Faguhar, que fundou a Brazil Land Cattlo and Packing Company. Na era Vargas, 1968, foi quando a fazenda ganhou um CEP próprio e passou para as mãos da família Lacerda, a quem pertence até hoje.



Memória milenar - Mas as histórias da Barranco Vermelho e da Descalvado são muito anteriores há 150 anos. No local das duas fazendas facilmente são encontrados vestígios de antigos povoamentos. Na Barranco Vermelho há um cemitério indígena, que, segundo a arqueologa Valéria Ferreira e Silva, indica a presença do homem na região há mais de mil anos. “Os últimos povos que viveram aqui foram os Xarayes. Mas aqui há indícios de habitantes que a arqueologia desconhece, coisa de mais de mil anos atrás”, explica.

Na Descalvado foi possível ver o que parece ser uma urna funerária. “Nos só vamos ter certeza disso quando a desenterrarmos e ver o que tem dentro. Mas é certo que estes são vestígios são muito antigos, mais de mil anos”, especula.

Segundo ela em qualquer lugar que se cave na fazenda é possível encontrar utensílios cerâmicos. “Fizeram uma fossa céptica aqui e tiraram um monte de artefatos e ossos”, conta.


Fonte: 24 Horas News

De capitania a Província: síntese da trajetória histórica de Mato Grosso

A Capitania de Mato Grosso foi criada 9 de maio em 1748, após ser desmembrada da Capitania de São Paulo e teve os seguintes governantes até 1821: Antônio Rolim de Moura de 1751 a 1765, fundou a primeira capital Vila Bela da Santíssima Trindade; João Pedro Câmara de 1765 a 1769; Luís Pinto de Souza Coutinho de 1769 a 1772, expulsou os jesuítas e fundou vários fortes e povoados; Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres de 1772 a 1789; João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres de 1789 a 1796; Caetano Pinto de Miranda Montenegro de 1796 a 1802; Manuel Carlos de Abreu e Meneses de 1802 a 1807; João Carlos Augusto d'Oeynhausen e Gravemberg de 1807 a 1819, iniciou a transferência da capital de Vila Bela para Cuiabá; e Francisco de Paula Magessi de Carvalho de 1819 e 1821.

Com a proclamação de Independência do Brasil todas as capitanias se tornaram províncias. O primeiro acontecimento político da época foi a Rusga, onde os grupos políticos liberais e conservadores que queriam reformas políticas, sociais e administrativas. Em 1864 inicia a Guerra do Paraguai, Paraguai fazia fronteira com Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), Mato Grosso participou com soldados e protegendo as fronteiras do Estado.

Depois de uma pequena divisão do Estado duante a revolta Constitucionalista onde o sul aproveitou a situação e formou um pequeno governo durante 90 dias, em 1977 o governo federal decretou a divisão do Estado de Mato Grosso, formando então Mato Grosso e Mato Grosso do Sul devido a "dificuldade em desenvolver a região diante da grande extensão e diversidade.

A mudança da capital foram por motivos de distância e dificuldade de comunicação com os grandes centros do Brasil, o processo de transferência foi iniciada no governo de João Carlos Augusto d'Oeynhausen e Gravemberg e grande parte da administração foi transferida no governo de Francisco de Paula Magessi de Carvalho que por dificuldades na administração, a capital retornou a Vila Bela, somente em 1825 por um decreto de Dom Pedro I a capital ficou definitivamente em Cuiabá.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Coração de Mato Grosso esconde trilhas e águas cristalinas

Em Nobres, há opções para aventureiros e para relaxar. A cachoeira Serra Azul é a recompensa para quem faz a trilha. Peixe de água doce é a base da culinária.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Expedição Langsdorff, delírio na Sapucaí











Langsdorff, Delírio na Sapucaí (1990)
G.R.E.S. Estácio de Sá (RJ)
Composição: Jorge Magalhães, Adalto Magalha, Adilson Gavião e Maneco

Num desfile fascinante
A Estácio vem mostrar e contar
A viagem deslumbrante
Que Langsdorff fez a mando do Czar
(Foi em Minas Gerais)
Minas Gerais
Onde a odisséia começou
Flora, fauna, minerais
Catalogando tudo aquilo que encontrou
Empalhando os animais
E revelando seus achados a Moscou
(Com muito amor)
Em Cuiabá, margeando um igarapé
Viu a tribo Apiacá
Povoação ribeirinha ao Guaporé

Alucinado com a febre do sertão
Viu a Rússia na Amazônia
Num delírio de ilusão

(Fascinação...)

Fascinação
O palácio do Czar estava ali
Por incrível que pareça
Viu a mula-sem-cabeça
Galopando com Saci
E os colibris
Num bailar tão sutil
Borboletas revoando entre as flores
Matizando em muitas cores
A aquarela do Brasil

Que maravilha
Coisa igual não vi
A Estácio é delírio
Na Sapucaí



Em 1990, a Escola de Samba Estácio de Sá levou para a Marquês de Sapucaí, a história da Expedição Langsdorff que explorou os sertões brasileiro entre 1821 e 1829, inclusive se aventurando pelo território mato-grossense. Naquele ano, a Estácio alcançou o 5º lugar no grupo especial, mas para nós foi motivo de orgulho ver um capítulo de nossa história contada na avenida.


Em breve, aqui no blog, postarei uma video-aula sobre as aventuras da Expedição Langsdorff em Mato Grosso, por enquanto vamos esquentando os tamborins nos preparativos do carnaval 2011. Confira o video.

Expedição Langsdorff no CCBB, em São Paulo
Confira um pouco da história da Expedição Langsdorff assistindo ao video a seguir que foi apresentado no programa Metrópolis, da TV Cultura, de São Paulo.

Veja abaixo uma amostra do trabalho da Expedição Langsdorff, no ano de 1827, em Cuiabá

A. Taunay

Camaleão/Iguana iguana

O popular Sininbú da folha verde, como dizem os ribeirinhos.

aquarela; 29x37,5 cm

AACSP; inv. 63/3/146

Inscrições: Feito em Cuiabá, em agosto, 1827/Reduzido/Adrien Taunay fecit

Espécie de ampla distribuição geográfica, ocorrendo desde o México e Caribe até o sul do Brasil e Paraguai. Este lagarto iguanídeo pode atingir mais de um metro de comprimento. Arborícola, fica camuflado no meio da folhagem das árvores, especialmente em matas de galeria e florestas próximas à água. Quando assustado, é comum que pule na água, em longos mergulhos. Tem hábitos alimentares basicamente herbívoros, comendo frutos, folhas e ocasionalmente insetos.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Marechal do Exército, patrono das comunicações no Brasil
Cândido Mariano da Silva Rondon

05/05/1865, Mimoso (MT)
19/01/1958, Rio de Janeiro (RJ)






O marechal Cândido Rondon foi indicado ao prêmio Nobel da paz


Ainda jovem, Rondon decidiu servir ao Exército e dedicar-se à construção de linhas telegráficas pela vastidão do interior brasileiro. Durante sua vida, percorreu mais de 100 mil quilômetros, abrindo caminhos. Elaborou as primeiras cartas geográficas de cerca de 500 mil km2. Fundou o Serviço de Proteção ao Índio. O marechal entraria para a história como o pacificador e o patrono das comunicações.

De origem indígena por parte de seus bisavós maternos e da bisavó paterna, Rondon tornou-se órfão precocemente, tendo sido criado pelo avô e depois por um tio. Quando adolescente, incluiu Rondon no seu nome de batismo, Cândido Mariano da Silva, para não ser confundido com um homônimo de má reputação.

Em 1881, aos 16 anos, formado professor primário, transferiu-se para o Rio de Janeiro para ingressar na Escola Militar. Em 1890, recebeu o diploma de bacharel em matemática e ciências físicas e naturais da Escola Superior de Guerra do Brasil. Partidário das idéias positivistas, participou dos movimentos abolicionista e republicano.


Em 1º de fevereiro de 1892, casou-se com Francisca Xavier, com quem teve sete filhos, e foi nomeado chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso. Foi então designado para a Comissão de construção da linha telegráfica que ligaria Mato Grosso e Goiás.

Rondon cumpriu essa missão abrindo caminhos, desbravando terras, lançando linhas telegráficas, fazendo mapeamentos e estabelecendo relações com os índios. Manteve contato com muitas tribos, entre elas os bororo, nhambiquara, urupá, jaru, karipuna, ariqueme, boca negra, pacaás novo, macuporé, guaraya, macurape. Em 1906 entregou uma linha telegráfica entre Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras de Paraguai e Bolívia.

Seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915. Nesta época estava sendo construída a ferrovia Madeira-Mamoré. A chamada Comissão Rondon deveria construir uma linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antonio do Madeira.

Em 1910 criou o Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Obteve a demarcação de terras de vários povos, entre eles os Bororo, Terena e Ofayé. Em 1912, Rondon foi promovido ao posto de coronel, depois de ter pacificado os índios das tribos caingangue e nhambiquara.

Em 1913, ganhou medalha de ouro "por trinta anos de bons serviços" prestados ao Exército e ao Brasil. No mesmo ano acompanhou o ex-presidente americano Theodore Roosevelt na sua expedição ao Amazonas. Em setembro de 1913, Rondon foi atingido por uma flecha envenenada dos índios nhambiquaras.

Salvo pela bandoleira de couro de sua espingarda, ordenou a seus comandados que não reagissem, demonstrando seu lema: "Morrer, se preciso for. Matar, nunca". Em 1914 a Sociedade Geográfica de Nova York conferiu a Rondon o Prêmio Livingstone, e determinou a inclusão de seu nome em uma placa de ouro, ao lado de outros grandes exploradores.

Em 1914, com a Comissão Rondon, construiu 372 km de linhas e mais cinco estações telegráficas: Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente Pena (depois Vila de Rondônia e atual Ji Paraná), Jaru e Ariquemes, na área do atual estado de Rondônia. Em 1º de janeiro de 1915 conclui sua missão com a inauguração da estação telegráfica de Santo Antonio do Madeira.

De 1919 a 1924 foi diretor de engenharia do Exército. Entre 1927 e 30 inspecionou toda a fronteira brasileira desde a Guiana até a Argentina. Após a revolução de 1930, Getúlio Vargas, o novo presidente, hostilizou Rondon que, para evitar perseguições ao Serviço de Proteção aos Índios, deixou sua direção.

Em 1938, Rondon promoveu a paz entre a Colômbia e o Peru que disputavam o território de Letícia. No ano seguinte foi nomeado presidente do Conselho Nacional de Proteção ao Índio.

Em 1952 Rondon propôs a fundação do Parque Indígena do Xingu. No ano seguinte inaugurou o Museu Nacional do Índio. Em 5 de maio de 1955, data de seu aniversário de 90 anos, recebeu o título de Marechal do Exército Brasileiro concedido pelo Congresso Nacional. Em 17 de fevereiro de 1956, o Território Federal do Guaporé teve seu nome alterado para Território Federal de Rondônia, em 1981 elevado a estado.

Em 1957 foi indicado para o prêmio Nobel da Paz, pelo ExplorerŽs Club de Nova York. O dia 5 de maio é a data em que se comemora o Dia das Comunicações no Brasil.


São Benedito, o protetor da cidade




Cultuado especialmente por pobres, negros, doentes e desempregados, São Benedito é o santo que superlota a igreja antes do dia amanhecer. Todas as terças-feiras centenas de idosos, jovens e até crianças acordam às 4h30 para ir ao santuário agradecer ou pedir alguma graça ao santo negro mais popular de Cuiabá.

São Benedito não é o padroeiro de Cuiabá - essa função há décadas foi atribuída ao Senhor Divino -, mas “carrega nos ombros” o peso do título de “protetor da cidade”.

Não há registro documental, mas uma pesquisa recente feita pelo devoto e coordenador das atividades paroquiais da igreja, Lucilo Libânio de Sousa, “Nonô”, mostra que em 1.721 São Benedito já era cultuado em Cuiabá. Inicialmente apenas pelos negros, através de uma imagem que pode ter vindo da Bahia décadas depois de chegar de Portugal.

A primeira igreja a abrigar a imagem do santo ficava na rua Pedro Celestino (na época, rua do Sebo) e foi construída entre 1.722 e 1.735, onde permaneceu por menos de 10 anos. A antiga igreja desabou devido a precariedade da construção.

No alto do morro onde antes ficava as “minas do Cuiabá” foi edificada a igreja onde até hoje são celebradas as missas e festas. Numa capela anexa foi criada a “sala dos milagres”, onde os devotos deixam as provas das graças alcançadas pela fé ao santo, que pode variar de fotografia a próteses de braços e pernas.

Mas é ao lado do altar do salão principal que está a maior relíquia da comunidade paroquial. Uma partícula da pele de São Benedito, trazida de Roma (Itália) em 1983, que fica guardada no relicário. No período da festa que homenageia o santo ou extraordinariamente, por decisão do pároco, a relíquia é exposta aos devotos.

No largo da igreja, ao invés do cruzeiro, como acontece na maioria dos templos católicos, fica uma imagem gigante de São Benedito, com dois metros de altura. A atual foi esculpida em argila, mas a antiga, que lá ficou por 20 anos, era em madeira maciça.



SOFRIMENTO – São Benedito nasceu em cinco de outubro de 1524, no vilarejo de São Filadelfo, região da Sicília, sul da Itália. Era filho de Cristóvão Manasseri e Diana Larcan, casal de descendentes de escravos da Etiópia. Muito pobre, ainda criança foi trabalhar com o pai como pastor de ovelhas. Devoto de São Francisco, o menino pobre tinha o hábito de rezar enquanto olhava as ovelhas pastando.

Ainda adolescente, ouviu o chamado de Deus numa frase que dizia: “Venda tudo que tem ou doe aos pobres e siga-me”. Ingressou na vida dos Irmãos Eremitas Franciscanos, uma congregação que unia solidão e extrema pobreza. Aos 38 anos, já como Frei Benedito, partiu para o convento de Santa Maria de Jesus, em Palermo (Itália).

No convento, seu primeiro ofício foi de cozinheiro. Em pouco tempo transformou o espaço da cozinha em santuário de oração. Anos depois tornou-se superior do convento e modelo de devoção na comunidade. Apesar de analfabeto, dava lições aos mais ilustres teólogos e era procurado por muitos para esclarecer textos das escrituras sagradas.

Toda sua dedicação e inteligência, porém, não o livraram do preconceito, até por parte de religiosos, pelo fato ser negro. Uniu-se a outros religiosos negros e juntos criaram a Confraria dos Negros Escravos, entidade que durante décadas lutou contra o escravismo.


Morreu em 4 de abril de 1589, às 19h, em Palermo, na Itália. Em 1.763 foi beatificado pelo papa Clemente XIII, sendo canonizado em 25 de maio de 1807, durante a festa da Santíssima Trindade, pelo papa Pio VII.
A cara de Cuiabá





Liu Arruda continua sendo o artista mato-grossense mais popular desde a década de 80. Sua galeria com quase 40 personagens permanece no imaginário coletivo, como se de repente a Comadre Nhara estivesse apenas tirando férias. Com a irreverência conquistou a massa. Foi o primeiro artista local a estrear com sucesso uma campanha publicitária (Supermercado Trento) e ser unanimidade em todas as classes sociais. Do lixeiro ao governador quem não deu uma sonora gargalhada com Ramona, Dedê, Juca, ou mesmo Xapola.

A primeira apresentação aconteceu em 1968, no colégio São Gonçalo. Fez uma dublagem de “Balada para um Louco”, uma versão de Moacir Franco para a música de Astor Piazzola. A partir daí mostrou que teatro não seria apenas uma brincadeira.

Nos anos 70, junto com Ivan Belém, participou do grupo de teatro do Sesi “Pequenos Gigantes”, atuando na peça Camilo Ramos Suing. Atuou em várias apresentações em escolas, entre elas “As Moreninhas”.

Depois disso foi para o Rio Janeiro cursar Comunicação Social na Faculdade Gama Filho. Por necessidade financeira, buscou dinheiro nas festas de aniversário de crianças e, ainda no Rio, participou do espetáculo “Desgraças de uma Criança”, que foi seu último trabalho na universidade. Voltou para Cuiabá em 84 e permaneceu por mais dois anos fora dos palcos. Trabalhou como professor de educação artística e repórter da TV Centro América.

Em 86 se juntou ao grupo Gambiarra de Ivan Belém, Meire Pedroso, Mara Ferraz, entre outros. O grupo realizava intervenções nas ruas, e em bares, sempre usando roupas coloridas. O primeiro trabalho do grupo Gambiarra foi “Avoar”, um espetáculo infantil que marca uma trajetória. Em 1999 a peça “Avoar” foi o último espetáculo apresentado por Liu Arruda, e novamente com o amigo Ivan Belém.

Liu Arruda nasceu em 30 de maio de 1957, filho de Nilson Arruda e Tanita Marques de Pinho Arruda. Foi o único cuiabano da família - os outros irmãos nasceram em Corumbá - e o único a herdar da mãe o interesse pelo teatro. Quem conta essa estória é a irmã mais velha, Cleuza de Arruda. Segundo ela, Dona Tanita, desde mocinha sempre gostou de teatro e, mais tarde, de espalhar aos quatro ventos o sucesso do rebento.

De acordo com a irmã, a relação do artista com a família foi se distanciando. Os familiares tornaram-se evangélicos, e Liu foi se aproximando cada vez mais dos amigos e de sua platéia. Para Cleuza a grande característica do irmão foi o profissionalismo. “Ele só fazia as coisas por inteiro”.

Com Ivan Belém, o artista tomou conta da noite com as poderosas Creonice e Comadre Nhara. Uma união que emplacou de vez com o espetáculo “Elas por Eles“. “Foi com este espetáculo é que percebemos que teatro podia ser um bom negócio”, comenta Ivan Belém que também dividiu o palco em “Nossa Gente, Nossos Valores” e várias outras peças.

O público tornou-se um dos componentes principais para o estilo dos atores que foram dirigidos por vários diretores, como Chico Amorim, Juarez Compertino, Maurício Leite, Oscar Ribeiro, e Meire Pedroso.

A improvisação sempre foi uma das grandes qualidades do Liu, além da facilidade para memorizar rapidamente, relembra Ivan, que também esteve junto em “Cuiabá Digoreste”, texto de Chico Amorim, que tratava com irreverência e bom humor o modo de falar cuiabano. “Durante esse período de convivência, muitas vezes ficamos de mal, mas acabávamos fazendo as pazes. Ele aprontava com os amigos, mas ninguém conseguia ficar com raiva das suas brincadeiras”.

Para Ivan, Liu Arruda provou que santo de casa também faz milagres. ”Ganhamos dinheiro com os espetáculos e o apoio da platéia com nossas apresentações”.

“Cidade Pedra Lascada” marca o encontro com o amigo Chico Amorim. A partir daí, políticos, e dondocas passaram a ser matéria prima da parceria.

De acordo com Chico Amorim, as produções sempre foram rápidas. “Em 10 dias montávamos um espetáculo. Escolhíamos alguns personagens e os principais acontecimentos. A partir daí montávamos os quadros”. Chico foi o responsável por algumas mudanças na galeria de personagens. Foi dele a idéia do casamento entre Comadre Nhara e Juca, que resultou nos irreverentes filhos: Ramona e Gladstone.

Para Amorim, um dos melhores espetáculos da dupla foi “Aniversário da Comadre Nhara”, apresentada na Escola Técnica Federal em 1991, e com grande repercussão entre o público.

Em mais de 25 anos de carreira e um sem número de apresentações teatrais, Liu ainda participou da novela “O Campeão”, da Rede Bandeirantes, e teve participação no especial “A Lenda”, apresentado pela TV Manchete. Manteve colunas em jornais e espetáculos que tiveram temporadas de quase um mês de casa lotada. Além de ter lançado o CD “Ocê qué vê, escuta”, com catorze faixas, sete músicas e sete piadas. Gostava de dizer para os amigos: “Não caí de pára-quedas na escalada de sucesso. Tenho credibilidade junto ao público porque sou sério. Quem faz humor sem seriedade perde a sua platéia”.

Liu Arruda morreu no dia 24 de outubro de 1999. Na memória coletiva deixa a marca de alegria, vontade de viver, e, principalmente, de amor à arte, e à sua terra natal.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Inacreditável Futebol Clube - goleiro do SINOP sai do gol e Operário-MT marca

Semifinal da Copa Mato Grosso: Operário-MT x SINOP. Temporal, falta de luz, campo encharcado, pênalti cobrado mal e... um goleiro que saiu do gol.
Variedades



Na memória do povo
Roberta Penha


Na grande maioria das cidades do Brasil há avenidas, ruas, praças ou parques com nomes como Brasil, Getúlio Vargas, Marechal Floriano Peixoto e Juscelino Kubitschek. Mas como surgem os nomes desses lugares? O Secretário Adjunto de Cultura do Município, Moisés Martins conta que os logradouros são nomeados, geralmente, para homenagear pessoas que tiveram importância para o país, como no caso dos ex-presidentes e, em âmbito regional, figuras locais importantes ou que se destacaram de alguma forma na região.
Em Cuiabá há muitos lugares com nomes de ex-presidentes, ex-govenadores e figuras políticas que já fizeram ou ainda fazem parte do dia-a-dia da capital. Mas há locais que receberam nomes de figuras folclóricas e pitorescas da cultura mato-grossense, que são lembrados com nostalgia por moradores mais antigos. É o caso, por exemplo, do Parque Zé Bolo Flô, que tem esse nome em homenagem a uma das figuras mais conhecidas do folclore cuiabano.

Zé Bolo Flô
O geógrafo e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Aníbal Alencastro, conta que Zé Bolo Flô viveu em Cuiabá em meados dos anos 60 e 70. Era um mendigo negro, pobre e muito simpático, que vagava pelas ruas da capital, usando uma bengalinha. Estava sempre na porta das igrejas e os padres, freqüentemente, o ajudavam. “Eu sempre o via sentado na calçada, alegre e cantando”, relata o geógrafo. Foi compositor, poeta e músico e fez sucesso na sociedade cuiabana, que sempre requisitava sua presença nas festas religiosas e nos carnavais realizados nas praças e ruas da cidade. Ele acompanhava os blocos e cordões que dançavam ao som da banda que a Prefeitura disponibilizava durante as festividades. Em seus últimos dias, Zé Bolo Flô viveu no hospital Adauto Botelho, onde sempre manteve uma atitude otimista, levando para lá a mesma alegria que contagiava os cuiabanos nas praças públicas.




Antônio Peteté
Outra figura muito lembrada por habitantes mais antigos da capital é Antônio Peteté. Assim como Zé Bolo Flô, Peteté também era negro e andarilho, andava mancando pelas ruas do centro de Cuiabá nos anos 50. De acordo com Alencastro, ele andava bem trajado e limpo, o que sugere que ele tinha um lugar para morar. Era afeminado e dizia que não gostava dos alunos de uma determinada escola da capital, porque não eram educados, mas gostava dos alunos de um outro colégio da cidade. Saía com estes alunos em desfiles pelas ruas de Cuiabá. Também participava de procissões e brincava com as crianças que encontrava no caminho. Era conhecido por não largar seu leque e também devido à fala engraçada, pois tinha a língua presa. “Era uma pessoa calma e simpática”, conta o geógrafo.


Maria Taquara
Maria Taquara também é uma personalidade bastante presente na memória dos cuiabanos. Segundo Aníbal Alencastro, ela era uma pessoa do povo, mas que fugia aos padrões da época. Era muito alta e magra, daí o apelido de Taquara. Trabalhava como lavadeira e andava pela cidade com uma mala para carregar as roupas dos clientes que moravam no centro. Maria Taquara morava em uma tapera atrás de um quartel e à noite, costumava receber visitas de soldados que estavam de plantão. De acordo com Aníbal, ela costumava dizer aos soldados que a chamavam de taquara: “De noite sou Maria meu bem, de dia sou Maria Taquara”. Não era uma pessoa simpática, bebia muito e fumava charutos e cigarros de palha. Foi a primeira mulher a usar calças compridas em Cuiabá.


Mãe Bonifácia
Uma das figuras históricas mais conhecidas do povo cuiabano é, com certeza, Mãe Bonifácia. Era uma escrava velha e doente e por não ser mais ativa, raramente era importunada. Morava em um barraco na frente de um quartel da cidade. Era conhecida como curandeira, devido ao seu conhecimento sobre ervas e era bastante procurada para fazer poções. No final do século XIX, quando ainda havia escravidão no Brasil, alguns negros escravos que pertenciam a senhores de Cuiabá, fugiam e tinham a ajuda de Mãe Bonifácia para se esconderem. Ela os ensinava a andar pelo córrego, para que os cães dos seus donos não conseguissem achar os rastros dos fugitivos. Os negros se escondiam na mata, onde hoje é o parque que leva o nome da senhora que os ajudou.

fonte: http://www.circuitomt.com.br/impresso/materia/67

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Saiba mais sobre a resistência negra em Mato Grosso





Os escravos negros chegaram ao Mato Grosso logo no ínicio da colonização, nas primeiras décadas do século XVIII. Foram utilizados em diferentes frentes de trabalho. Estabeleceram variadas formas de resistência, tais como, fugas, assassinatos e a formação de quilombos.



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Saiba mais sobre a resistência indígena no período colonial



Edenilson Morais tece comentários sobre a relação entre colonizadores e índios na Capitania de Mato Grosso ao longo do século XVIII. Segundo o historiador, os índios foram os habitantes originais do território mato-grossense e muito antes da chegada dos europeus, toda essa região já era habitada por diversos povos indígenas, entre eles os Bororo, Cayapó, Guaná-Chané, Kaiowá e muitos outros. Em Mato Grosso, a relação entre índios e colonizadores foi geralmente conflituosa e marcada pela violência.
Edenilson afirma que algumas nações indígenas que habitavam a periferia da capitania estabeleceram relações de escambo com o colonizador português. Governos da Capitania de Mato Grosso utilizaram índios capturados na defesa da fronteira, na construção de fortes, fortalezas e em outras atividades militares.


Por outro lado, algumas etnias efetuaram uma tenaz resistência ao avanço do colonizador em seu território, afirma o professor.
Os índios Paiaguá, por exemplo, foram os primeiros a atacar as monções e o faziam quando as embarcações estavam transitando pelos rios, esse índios eram conhecidos como exímios canoeiros, pois sulcavam as correntezas como grande agilidade e destreza, tendo ficado famosos pelos ataques que empreendiam as monções. A tática utilizada tinha por base o fator surpresa: como exímios nadadores, viravam as canoas de cabeça para baixo e mantinham-se escondidos sob elas. No momento em que se aproximavam do alvo a ser atingido, desviravam as embarcações e com rapidez, nelas subiam já armados de arcos, lanchas e flechas. Emitindo sonoros urros, lançavam-se sobre o inimigo, surpreendentemente.
Os Guaicuru, por sua vez, ficaram conhecidos como cavaleiros, uma vez que se utilizavam, com destreza e agilidade, da arte hípica. Montados a pêlo, debruçavam-se no dorso do cavalo parecendo, a quem observava de longe, tratar-se de uma correria de animais, sem cavaleiro. No momento em que atingiam o ponto a ser atacado, montavam rapidamente nos cavalos, já armados de lanças e, urrando, desfechavam o ataque.
Para garantir a dominação do território e o avanço da colonização o governo passou a organizar expedições militares para reprimir essas nações indígenas. Por meio das Cartas Régias, a Coroa Portuguesa permitia, que os colonizadores estabelecessem em casos específicos, a chamada "guerra justa" contra os índios.
De acordo com o relato, a "guerra justa" foi altamente prejudicial aos índios pois dezenas de nações indígenas perderam seus territórios, foram escravizados ou completamente dizimados.
Lamento Paiaguá
Senhores do Pantanal resistiram até a extinção total



Índio Paiaguá.
Podem montanhas de água vir abaixo, tempestades cair até cansar, que o payaguá, de pé na extremidade de sua embarcação, continuará a remar completamente impávido.
As palavras do jesuíta Martin Dobrizhoffer atestam a bravura dos índios paiaguás. Nômades, dominavam os rios do Pantanal, que fazia parte de territórios espanhóis e portugueses.
Guerreiros por excelência, sempre lutaram contra o domínio europeu, pela autonomia de seu povo.
Em 1730, com 90 canoas de guerra, só deixaram escapar 17 dos 400 homens da monção portuguesa que invadiu seus domínios. Mas, em 3 de outubro de 1734, nova expedição de 842 homens os pega de surpresa. Mata 600 e aprisiona 266. Eles resistem por dois séculos, acossados por guerras, atacados por epidemias. Em 1943, morre Maria Dominga Miranda, a última índia paiaguá.
A existência desse povo pode ser lembrada na canção Lamento do Paiaguá, do cd Serestas de Mato Grosso, de Moisés Martins.

SAIBA MAIS
Payaguá: Os senhores do rio Paraguai, tese de mestrado de Magna Lima Magalhães.

Em http://www.anchietano.unisinos.br/

Fonte: Almanaque Brasil (outubro 2005)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Conheça a importância histórica do rio Cuiabá



Na história da consolidação do território mato-grossense, o rio Cuiabá sempre foi protagonista. De fonte de sustento dos índios paiaguás a principal destino do esgoto de uma cidade com 800 mil habitantes, o velho rio e sua saga contam três séculos de invasão, conquista, vida e morte. “Se não houvesse o rio Cuiabá, a tentativa de povoar essa região teria resultado em desastre”, isso é o que nos garante o historiador Lenine de Campos Póvoas, autor da obra “História Geral de Mato Grosso”.

Segundo ele, toda a conformação territorial do oeste brasileiro está ligada aos rios. Dois séculos antes da chegada das bandeiras paulistas a Mato Grosso, já havia espanhóis explorando a região, em busca de rotas mais seguras rumo ao território peruano. “E o caminho que eles utilizavam era o fluvial”.

Quando vieram, no início do século 18, os paulistas buscavam escravos e ouro E as bandeiras só foram viabilizadas pela existência de uma rota fluvial partindo de São Paulo rumo ao centro do país. “Em São Paulo, ao contrário dos outros estados do litoral, os grandes rios caminham da Serra do Mar para o interior, ou seja, eles foram feitos para ajudar o conquistador”.

Saindo do rio Tietê, as expedições geralmente seguiam pelos rios Pardo, Taquari e Paraguai, rumo a territórios repletos de povos indígenas – escravos em potencial – e ouro. Repleta de perigos e obstáculos, a jornada durava cerca de seis meses. Algumas comitivas chegavam a ter 400 pessoas. “Muitos trechos de cachoeiras tinham que ser cumpridos a pé, carregando as embarcações nas costas”.

O primeiro a dar notícias sobre esta região foi o bandeirante Antônio Pires de Campos que, em 1718, explorou o ribeirão Mutuca e o rio Coxipó até o encontro com o Cuiabá. “Naquela época, o rio, que não era esse esgoto de agora, permitia embarcações grandes, os chamados batelões”, conta Póvoas. “Mas Pires de Campos não encontrou o ouro, só índios”.

Mais sorte teve Pascoal Moreira Cabral. Em 1719, sua bandeira descobriu ouro no rio Coxipó, dando partida à ocupação do território mato-grossense. Nascia ali o Arraial da Forquilha (hoje o distrito de Coxipó do Ouro).

Em 1722, uma descoberta mudaria os rumos da história e o destino do rio Cuiabá. “Miguel Sutil construiu sua casa às margens do rio Cuiabá. Certo dia, ao ver que faltava açúcar, pediu os índios lhe trouxessem mel. Eles trouxeram ouro”,. “Eis que havia sido encontrada uma das maiores jazidas de ouro do país”.

Com a descoberta das novas jazidas, a povoação inicial foi gradativamente se mudando para a região do rio Cuiabá. “A partir do córrego da Prainha, onde estavam as lavras do Sutil, uma cidade começou a se constituir rumo ao Porto”.

Em condições extremamente desfavoráveis aos colonizadores, os rios fizeram a diferença. Todo o comércio com São Paulo era feito por meio do Paraguai, o Cuiabá, o Vermelho e o São Lourenço. “Eram a espinha dorsal de Mato Grosso”.

Pelo rio Cuiabá, chegavam escravos, alimentos, remédios e roupas, além de novos exploradores, interessados não só nas jazidas de ouro, mas nas terras férteis da região do rio abaixo. “O rio Cuiabá, após suas enchentes, deixava grandes campos fertilizados e propícios à agricultura. Era um terreno muito produtivo. As beiras do rio foram se povoando nesta época e, mais tarde, surgiriam ali muitos engenhos de açúcar e fazendas de gado”.

Em meados do século 18, já havia indícios de que aquela ocupação não seria transitória, ajudando a consolidar a porção portuguesa das terras do “novo mundo”. “Quando o vice-reinado do Prata foi se dividindo (Argentina, Paraguai e Uruguai), o Brasil já tinha sua unidade garantida, graças aos rios, inclusive o Cuiabá”.

Como meio de comunicação com os grandes centros políticos e econômicos do litoral, os rios perderam importância no final do século 18. Segundo Lenine Póvoas, a longa duração das expedições fluviais (que só permitiam o abastecimento de Mato Grosso duas vezes ao ano) e os cada vez mais freqüentes ataques dos índios paiaguás forçaram os colonizadores a buscar rotas terrestres até o litoral - cortando o território de Goiás.

A assinatura de um tratado bilateral, em 1856, faria novamente deslanchar a hidrovia do Prata, em franca operação até o início do século 20 (ver matéria). Por outro lado, o desenvolvimento do núcleo urbano começou a exigir mais do rio como fonte de água, alimento e via de escoamento dos dejetos. Mais uma vez, o velho Cuiabá correspondeu, sustentando o desenvolvimento da cidade até os dias de hoje.