sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Variedades



Na memória do povo
Roberta Penha


Na grande maioria das cidades do Brasil há avenidas, ruas, praças ou parques com nomes como Brasil, Getúlio Vargas, Marechal Floriano Peixoto e Juscelino Kubitschek. Mas como surgem os nomes desses lugares? O Secretário Adjunto de Cultura do Município, Moisés Martins conta que os logradouros são nomeados, geralmente, para homenagear pessoas que tiveram importância para o país, como no caso dos ex-presidentes e, em âmbito regional, figuras locais importantes ou que se destacaram de alguma forma na região.
Em Cuiabá há muitos lugares com nomes de ex-presidentes, ex-govenadores e figuras políticas que já fizeram ou ainda fazem parte do dia-a-dia da capital. Mas há locais que receberam nomes de figuras folclóricas e pitorescas da cultura mato-grossense, que são lembrados com nostalgia por moradores mais antigos. É o caso, por exemplo, do Parque Zé Bolo Flô, que tem esse nome em homenagem a uma das figuras mais conhecidas do folclore cuiabano.

Zé Bolo Flô
O geógrafo e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Aníbal Alencastro, conta que Zé Bolo Flô viveu em Cuiabá em meados dos anos 60 e 70. Era um mendigo negro, pobre e muito simpático, que vagava pelas ruas da capital, usando uma bengalinha. Estava sempre na porta das igrejas e os padres, freqüentemente, o ajudavam. “Eu sempre o via sentado na calçada, alegre e cantando”, relata o geógrafo. Foi compositor, poeta e músico e fez sucesso na sociedade cuiabana, que sempre requisitava sua presença nas festas religiosas e nos carnavais realizados nas praças e ruas da cidade. Ele acompanhava os blocos e cordões que dançavam ao som da banda que a Prefeitura disponibilizava durante as festividades. Em seus últimos dias, Zé Bolo Flô viveu no hospital Adauto Botelho, onde sempre manteve uma atitude otimista, levando para lá a mesma alegria que contagiava os cuiabanos nas praças públicas.




Antônio Peteté
Outra figura muito lembrada por habitantes mais antigos da capital é Antônio Peteté. Assim como Zé Bolo Flô, Peteté também era negro e andarilho, andava mancando pelas ruas do centro de Cuiabá nos anos 50. De acordo com Alencastro, ele andava bem trajado e limpo, o que sugere que ele tinha um lugar para morar. Era afeminado e dizia que não gostava dos alunos de uma determinada escola da capital, porque não eram educados, mas gostava dos alunos de um outro colégio da cidade. Saía com estes alunos em desfiles pelas ruas de Cuiabá. Também participava de procissões e brincava com as crianças que encontrava no caminho. Era conhecido por não largar seu leque e também devido à fala engraçada, pois tinha a língua presa. “Era uma pessoa calma e simpática”, conta o geógrafo.


Maria Taquara
Maria Taquara também é uma personalidade bastante presente na memória dos cuiabanos. Segundo Aníbal Alencastro, ela era uma pessoa do povo, mas que fugia aos padrões da época. Era muito alta e magra, daí o apelido de Taquara. Trabalhava como lavadeira e andava pela cidade com uma mala para carregar as roupas dos clientes que moravam no centro. Maria Taquara morava em uma tapera atrás de um quartel e à noite, costumava receber visitas de soldados que estavam de plantão. De acordo com Aníbal, ela costumava dizer aos soldados que a chamavam de taquara: “De noite sou Maria meu bem, de dia sou Maria Taquara”. Não era uma pessoa simpática, bebia muito e fumava charutos e cigarros de palha. Foi a primeira mulher a usar calças compridas em Cuiabá.


Mãe Bonifácia
Uma das figuras históricas mais conhecidas do povo cuiabano é, com certeza, Mãe Bonifácia. Era uma escrava velha e doente e por não ser mais ativa, raramente era importunada. Morava em um barraco na frente de um quartel da cidade. Era conhecida como curandeira, devido ao seu conhecimento sobre ervas e era bastante procurada para fazer poções. No final do século XIX, quando ainda havia escravidão no Brasil, alguns negros escravos que pertenciam a senhores de Cuiabá, fugiam e tinham a ajuda de Mãe Bonifácia para se esconderem. Ela os ensinava a andar pelo córrego, para que os cães dos seus donos não conseguissem achar os rastros dos fugitivos. Os negros se escondiam na mata, onde hoje é o parque que leva o nome da senhora que os ajudou.

fonte: http://www.circuitomt.com.br/impresso/materia/67

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