sábado, 23 de outubro de 2010

HISTÓRIA DE MATO GROSSO EM CONCURSOS

HISTÓRIA DE MATO GROSSO - MT FOMENTO - 2008
QUESTÃO 14
Leia o texto abaixo:
A colonização na década de 1970 teve um peso determinante para essas regiões. Expressando a realidade da ‘nova ocupação’, Rondônia e Mato Grosso viram nascer cidades e municípios, cuja expansão e organização foram fundamentais à conformação de um espaço social, em que os investimentos capitalistas, a constituição de um mercado de mão-de-obra e a extensão de um poder político tiveram um lugar privilegiado.
(GUIMARÃES NETO, Regina Beatriz. A lenda do ouro verde: política de colonização no Brasil
contemporâneo. Cuiabá: Unicen, 2002. p. 144).
Sobre o tema, assinale a alternativa correta.
a. As novas cidades a que o texto se refere são Alta Floresta, Sinop e Vila Bela da Santíssima Trindade.
b. O atual estado de Rondônia, referido no texto, foi desmembrado de Mato Grosso em 13/09/1943 pelo Decreto-lei 5.812.
c. O espaço social e geográfico mato-grossense, na década de 1970, era ocupado por diversos povos indígenas, dentre eles os Bororo e os Paiaguá.
d. A ‘nova ocupação’ a que o texto se refere foi um exemplo de colonização racional dos recursos naturais quando esta optou pela pequena propriedade da terra e pela diversificação da lavoura.
e. Os antigos caboclos que moravam nessa região, sobretudo no norte de Mato Grosso, e que viviam da agricultura de subsistência e do extrativismo, foram os mais beneficiados com essa ‘nova ocupação’.
QUESTÃO 15
A crise econômica mundial deflagrada no segundo semestre de 2008 deixou em alerta os agricultores e pecuaristas de Mato Grosso. Nesse sentido, é correto afirmar.
a. A totalidade dos produtos do campo matogrossense é vendida no mercado interno e, portanto, não tem qualquer relação com a crise internacional.
b. A agricultura e a pecuária mato-grossenses são subsidiadas pelo governo federal e por isso estão imunes a qualquer diminuição do consumo dos países estrangeiros.
c. A agricultura mato-grossense tem por base a diversificação da produção em pequenas e médias propriedades, o que a torna adaptável às mudanças externas.
d. O maior mercado dos produtos do campo matogrossense é a União Européia que, até este momento, está imune à crise econômica norteamericana.
e. Uma parte significativa da produção agropecuária de Mato Grosso é exportada para os mercados europeu e asiático que foram, em diferentes níveis, afetados pela atual crise econômica.
QUESTÃO 16
A escravidão negra em Mato Grosso teve início concomitantemente com a mineração no século XVIII e continuou a existir em outras atividades econômicas mesmo depois da decadência das minas. Na segunda metade do século XIX, a cidade de Cuiabá concentrava uma quantidade expressiva de escravos.
Sobre o tema, assinale a alternativa incorreta.
a. Os escravos que viviam na cidade, longe de feitores e capatazes, eram vigiados pela polícia que era responsável pela conservação da ordem e dos interesses dos seus proprietários.
b. Muitos escravos que trabalhavam no campo, algumas vezes, cultivavam um pequeno roçado, cujo excedente era vendido, obtendo-se assim um pequeno pecúlio.
c. O aluguel de escravos foi uma prática muito comum em Mato Grosso e era realizado tanto por particulares como por órgãos provinciais.
d. O escravo de ganho era uma prática predominantemente urbana e dentre as principais atividades que realizava, destacam-se a venda de doces e quitutes e o abastecimento das casas de água potável.
e. Os escravos podiam ter ‘casas de negócio’, uma atividade à parte, que não era condicionada à autorização do seu senhor.
QUESTÃO 17
Para muitos historiadores, as práticas políticas durante a Primeira República em Mato Grosso (1889-1930) tiveram algumas características que as aproximavam das de outras unidades da federação e de outras que as singularizavam.
Com relação ao tema, assinale a alternativa correta.
a. O confronto armado entre grupos políticos rivais foi uma exceção em Mato Grosso, durante esse período.
b. A violência política em Mato Grosso, nesse período, pode ser explicada pela existência de uma sociedade urbana e industrial.
c. A propriedade de grandes extensões de terra e o controle de um considerável contingente de trabalhadores constituem um dos pilares do mandonismo dos chefes políticos do período no Estado.
d. A violência política do período foi, em grande medida, amenizada devido à organização dos trabalhadores rurais que exigiam maior transparência nas ações políticas.
e. Mesmo devido à predisposição para o conflito armado, os partidos políticos rivais no Estado possuíam um programa amplo de reformas das bases econômicas e sociais que incluía a participação efetiva das mulheres.
GABARITO
14. B
15. E
16. E
17. E

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Confidências mineiras na parte mais central da América do Sul

Carlos Rosa

Em fins de julho de 1784 chegaram algumas canoas ao porto da Vila Real do Bom Jesus do Cuiabá. Antonio José Pinto de Figueiredo, maior autoridade policial da vila, logo informou o governador Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres:

(...) chegaram duas canoas de Povoado com algum sal, açúcar e farinha, ambas pertencentes a Joaquim José Ferreira, vindo das Gerais, onde advogou muitos anos e pretende aqui exercer a mesma ocupação (...). Dizem-me que é bastantemente remediado e que conserva uns poucos de mil cruzados (...).

Em agosto Joaquim José Ferreira pediu autorização para advogar, declarando ser "natural da Cidade do Rio de Janeiro". Em dezembro o governador autorizou.

Mas em meados de 1787 caíra em desgraça junto ao chefe policial. Em julho o juiz-de-fora do Cuiabá, Diogo de Toledo Lara Ordonhes, denunciou ao governador uma “cabala” formada pelo Mestre de Campo Antonio José Pinto de Figueiredo, contra Joaquim José Ferreira. Diogo de Toledo não se precipitaria em denunciar cabala do mestre-de-campo, sem provas. O jogo do poder na Vila Real não permitia precipitações, por parte de um "Ministro das Justiças de Sua Majestade".

Com a denúncia ao governador, Diogo de Toledo obrigou este a se manifestar, ainda que com cautela: "como esta matéria se acha pelo que vejo extremamente confusa e desordenada, não será possível talvez que se tomem providências mais ulteriores sem que primeiro se aclare um pouco melhor (...)" - respondeu Luiz de Albuquerque.

Cerca de um ano antes tinham chegado à vila do Cuiabá engenheiros e astrônomos, da comissão demarcadora do Tratado de Santo Ildefonso. Hospedaram-se em sobrado próximo à casa de Diogo de Toledo, durante quase um mês. Cinco dias antes de partirem, o astrônomo paulista Francisco José Lacerda e Almeida denunciou seu colega das Gerais ao ministro Martinho de Melo e Castro:

(...) raríssimos são os dias em que o Dr. Antonio Pires da Silva Pontes, com insultos e impropérios ditados pelo seu natural satírico e insultante, diretamente não desafie a nossa tolerância (...). (...) Este seria o menor de seus crimes, se pelo espírito de rebelião que nele reina, pudesse por em prática os discursos que imprudentemente tem proferido de dever ser Minas Gerais, sua Pátria, cabeça de um grande Reino, faltando à obediência devida a nossa soberana e aos deveres de cidadão.

Naquele mesmo setembro três padres, filhos de famílias “principais” do Cuiabá, designados para a repartição do Mato Grosso, fugiram para São Paulo pelo “caminho dos rios”. O caso, pelo apoio que receberam, levou o governador Luiz de Albuquerque a mal contido destempero verbal: "Temerária insolência(...), (...)péssimos Clérigos(...), (...)celerados(...), (...)desmedida temeridade (...)".

Pouco depois, ainda mais irritado pela resistência de uma certa família Frias em transferir-se do Cuiabá para o Mato Grosso, o governador disparou palavras como tiros:

(...) andam como pregando malvadamente (...), que ninguém se mude desse domicílio para este País, (...) que todos o abominem, pintando-lhe como um agregado de misérias com outras mais cores denegridas e ingratíssimas, (...) quando o dito País excede muito e em muitas coisas a esse do Cuiabá, não lhe cedendo em nada mais que em haver nesse um pouco mais de peixe ruim com alguma carne de vaca.

Luiz de Albuquerque explicitava confronto, espacializava conflito, desnudava diferenças entre o Cuiabá e o Mato Grosso.

Essas diferenças vinham já de meio século, quando começou a aplicação das palavras mato e grosso como nome de um trecho desta parte mais central:

(...) saindo uma tropa de gente da vila do Cuiabá a explorar as campanhas dos gentios chamados Pareci(...), (...)logo que baixaram à planície da parte oposta aos campos dos Pareci (que só tem algumas ilhas de arbustos agrestes), toparam com matos virgens de arvoredo muito elevado e corpulento, que entrando a penetrá-lo o foram apelidando Mato Grosso; e este é o nome que ainda hoje conserva todo aquele distrito.

A capitania de Mato Grosso foi assim composta por dois termos, ou repartições: o Cuiabá e o Mato Grosso. Essas eram também as duas comarcas, laica e eclesiástica, da capitania. Usava-se inclusive a expressão capitanias, para referi-las.

Incentivos fiscais e privilégios legais beneficiadores da “repartição” do Mato Grosso, nos vinte primeiros anos da implantação da capitania (1751-1771), não sustentaram ali povoamento maior que o do Cuiabá. O atrelamento comercial à Companhia Geral de Comércio do Grão Pará e Maranhão impôs ao Mato Grosso maiores ligações com o Estado do Grão Pará e Maranhão, que com o Estado do Brasil.

Já o Cuiabá esteve muito mais ligado ao Estado do Brasil, não se atrelou a nenhuma companhia de comércio, manteve intensas relações comerciais com Bahia, Rio, São Paulo e Minas Gerais.

Havia portanto, no interior da capitania de Mato Grosso, dois projetos de colonização espacializados, territorializados. Essa dualidade ecoava em 1783, na correspondência do poderoso Contratador das Entradas João Rodrigues de Macedo, residente em Vila Rica:

(...) o Livro do rendimento das entradas pertencentes ao Cuiabá (...) e os cinco subsequentes com uma tal diminuição que bem certificam a opressão que experimentam os transitores que conduzem o negócio para essas minas (...). Não menos me causou novidade e admiração a falta de rendimentos dos direitos das Minas do Mato Grosso, querendo-se valer da provisão de 14 de novembro de 1752 (...).

Opressão sobre o Cuiabá, sonegação no Mato Grosso: crítica desabrida ao tratamento diferenciado das duas “repartições” da capitania.

É nesse quadro que se inseria o caso do advogado Joaquim José Ferreira, ameaçado no Cuiabá pela “cabala” do poderoso representante militar do governo sediado no Mato Grosso. Logo essa “cabala” desdobrou-se de modo ainda mais intrigante:

(...) o chamado Joaquim José Ferreira comprara o sítio de Antonio de Magalhães, abaixo de Santo Antonio (...); (...) dou a V. Exª esta parte para não (...) fazer daqui o mesmo que fez das Gerais.

Joaquim José Ferreira deixava de ser ele mesmo, passava a ser outro, um outro que fizera alguma coisa nas Gerais que não deveria fazer no Cuiabá. Em seguida o mestre-de-campo informou ao governador:

(...) chegou a esta vila onde assiste, José Antonio do Amaral, casado, natural e batizado no arraial de Santa Rita, próximo à Vila de S. João Del Rei, (...) e disse conhecia o padre Domingos, (...) que tinha três irmãos, o padre Antonio da Silva, Joaquim e José, e três irmãs, a Vitória, (...) Catarina (...) Antonia Rita; e o tal Joaquim (...), por alcunha O Tiradentes (...).

Intrigado com a alcunha do "tal Joaquim", o mestre-de-campo obteve o seguinte esclarecimento:

(...) quando fugiu, quebrado do negócio que tinha, inteiramente tinha falta de dentes e voltando daí a bastantes anos, apareceu com dentes de marfim postiços, e com tal arte, que os tirava quando queria e chegava a comer biscoito com eles, e daqui lhe ficou O Tiradentes (...).

Curiosa informação. Reviravolta. E então, em março de 1790,

(...) se declarou sacerdote o Reverendo Domingos da Silva Xavier, denominado antes Joaquim José Ferreira, debaixo de cujo nome negociou e advogou muitos anos nesta vila (...), cuja mudança para o verdadeiro estado sacerdotal fez achando-se havia poucos dias preso na cadeia (...), a requerimento dos seus credores, os quais incendiaram-se com a dita declaração (...).

Ficava agora confirmado e público: o advogado Joaquim José Ferreira era o padre Domingos da Silva Xavier, irmão mais velho do alferes Joaquim José da Silva Xavier, “o Tiradentes” – que também fora preso, cerca de um ano antes, no Rio de Janeiro.

Pela correspondência do mestre-de-campo com o governador, fica claro que a identidade do padre Domingos era conhecida pelas autoridades pelo menos desde abril de 1788. Mesmo assim o governador autorizara Ferreira a advogar na Vila Real em 1789.

Estevão de Mendonça afirmou que o padre Domingos era "inconfidente que, por motivos que a história pátria ensina, homiziou-se por algum tempo em Cuiabá." Pela data da confissão de identidade a afirmação faz sentido; mas pelo que aqui vem sendo exposto, haveria que recuar as articulações da Inconfidência a 1783.

Domingos da Silva Xavier nasceu em 1738 na Vila de São João d’El Rei. Em 1765, no Rio, recebeu Ordens de Diácono e Presbítero. Entre 1765 e 1783 foi capelão em São João d’El Rei, Pároco e Vigário da Vara em Cuieté, Vigário da Vara em Pitangui e em Sabará. Aí permaneceu até setembro de 1783, quando partiu para o Cuiabá. Tinha 45 anos.

No Cuiabá, parece que o padre Domingos foi pessoa próxima ao juiz-de-fora Diogo de Toledo. Este, que era paulista, foi acusado de “favorecimento” de parentes e discriminação de “emboabas”. Em 1787, foi denunciado, agora como cabeça de sinistra "parcialidade", intitulada Parlamento Alto”, soturnamente assessorada por capitão-do-mato encarregado de ameaçar adversários.

Nesse ano 121 signatários encaminharam à rainha uma “súplica”, pedindo a permanência de Diogo de Toledo no Cuiabá. O pedido visava evitar “Despotismos”, “discórdias, intrigas e partidos”. Mas entre os signatários não estava nem o mestre-de-campo, nem qualquer pessoa de seu “séquito”. Domingos foi um dos signatários, no mesmo momento em que era vítima da cabala armada pelo mestre-de-campo. Confronto claro. Diogo de Toledo, ao denunciar a cabala, deixou possível indício de intimidade com Domingos. O Barão de Melgaço afirmou, sem citar fonte, que "muito anteriormente" a março de 1790 Domingos “revelara” a Diogo de Toledo sua verdadeira identidade.

Domingos tornou-se “Homem de Negócios” vultosos e em 1789 arrematou “Datas de S. Majestade e outras, de Preferência”, no descoberto aurífero do Sapateiro, dali “tirando muito ouro”. Mas suas dívidas tinham crescido muito. Em março de 1790 foi preso, por execução de seus credores. Então tornou pública sua verdadeira identidade, invocando privilégios sacerdotais. Comprovadas suas afirmações, ficou em prisão “relaxada”, sob controle de “fiéis carcereiros”. Nessa situação, não participou (pelo menos ostensivamente) das festas de aniversário de Diogo de Toledo.

O aniversário do juiz-de-fora foi comemorado na Praça Real da vila, em agosto e setembro de 1790: 23 espetáculos teatrais - óperas, tragédias, comédias, entremezes (alguns de autores locais); 18 contradanças, passapiés de dois e quatro, minuetes simples, a quatro, figurados, da Corte, tirana, rancho dos pardos, rancho de capitães do mato; sete cavalhadas; dois bailes. Não havia entre os participantes diretos dessas atividades nenhum representante do grupo encabeçado pelo mestre-de-campo.

Em janeiro de 1791 gravíssima acusação explodiu contra Domingos: contrabando de diamantes. Denúncia feita por três testemunhas juradas em Devassa Diamantina. Em fevereiro Domingos foi preso novamente. Foram-lhe seqüestrados três escravos, algum mobiliário, alguns objetos de ouro, prata e marfim, e uma estante de madeira pintada, com 119 “livros de Direito e Ordenação grande e alguns deles históricos, todos velhos e alguns desencadernados”.

Por volta de março de 1791 noventa e sete pessoas assinaram petição ao novo governador João de Albuquerque, “sobressaltados e aflitos” com

(...) horroroso caso (...), que a todos nos ameaça à última ruína e precipício, e que fará inabitável este delicioso País. Vemos (...), preocupados uns ânimos diabólicos do infernal espírito de vingança, se arrojaram na Devassa Diamantina (...) a irem jurar que (...) contratara neste continente em diamantes brutos (...).

A petição provocou ordem do governador a Diogo de Toledo, para que reinquirisse as testemunhas acusadoras. Diogo de Toledo montou minucioso parecer, em que fez cautelosa mas firme defesa de Domingos.

Neste passo é interessante notar que ao governador João de Albuquerque não era desconhecido o fato de Domingos contar com apoio na Vila Real:

(...) se conservou (...) incógnito em traje e vida de secular feito negociante, com o suposto nome de Joaquim José Ferreira, sem se dar a conhecer senão em particular a alguns confidentes, isto pelo espaço de quase seis anos.

Se foi um desses “confidentes”, Diogo de Toledo nunca assumiu isso. Mas por duas vezes defendeu Domingos.

Em outubro de 1791 o governador mandou soltar Domingos, sob fiança. Capelão em Santo Antonio do Rio Abaixo, Domingos pode ter recebido ali a notícia da morte de seu irmão Joaquim José. Em 1792 ordem régia mandou remover Domingos para a cadeia do Limoeiro, em Lisboa. Mas só em fevereiro de 1794 Domingos chegou à Vila Bela.

Provavelmente partiu dali em julho ou agosto, chegando a Lisboa ou em fins de 1796, ou já em 1797. Em inícios de 1797, o Príncipe Regente determinou: “seja solto debaixo de fiéis carcereiros”. Por quase dois anos Domingos ficou em Lisboa. Por fim, a liberdade, em outubro de 1799:

Ao padre Domingos da Silva Xavier, houve Sua Alteza Real por absolvido e perdoado do crime de contrabandista de diamantes brutos (...), e por desonerados os seus fiéis carcereiros, mandando-lhe fazer entrega dos bens que lhe foram seqüestrados (...).

Recebeu ainda autorização vitalícia para advogar no Brasil, menos no Rio e em Salvador. Estava com 61 anos.

Embora nenhum documento tenha sido até agora localizado nos arquivos de Cuiabá, referindo a prisão do Tiradentes no Rio e dos outros “inconfidentes” em Vila Rica, é possível supor que a notícia desses acontecimentos tenha circulado na Vila Real desde fins de 1789.

Domingos veio para o Cuiabá com falsa identidade, tendo recebido de Joaquim Silvério dos Reis pelo menos dois contos e 700 mil réis. A prisão do Tiradentes envolveu o capitão Manoel Joaquim de Sá Pinto do Rego Fortes, parente por afinidade de Diogo de Toledo. Rego Fortes foi preso no Rio em 1789, por tentar favorecer a fuga do Tiradentes via São Paulo, com apoio de um primo do juiz-de-fora do Cuiabá.

As presenças de Diogo de Toledo e Domingos da Silva Xavier no Cuiabá e não no Mato Grosso, na Vila Real e não na Vila Bela, em plena conjuntura de crise do Antigo Sistema Colonial, podem ser tomadas como indícios preciosos.

Na capitania dividida em “repartições” que espacializavam políticas de colonização divergentes, as inconfidências mineiras do Estado do Brasil tinham mais "confidências" no Cuiabá que no Mato Grosso.

O estudo desses aspectos pode contribuir para re-conhecimentos dos processos formadores de uma sociedade colonial nesta parte mais central da América do Sul.



* Carlos Rosa é professor de história da UFMT e doutor em história social pela USP

http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=98131