sábado, 29 de dezembro de 2012

A Rusga



O SILÊNCIO SOBRE A RUSGA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA



                                                                    Maria de Lourdes Fanaia

 


De acordo com Leandro Karnal, as propostas curriculares e a produção didática nos instigam às reflexões sobre o ensino da História, pois alguns fatores interferem na historiografia e na construção dos currículos escolares e do mesmo modo na formação de profissionais de História.

Desse modo, a ausência do tema Rusga nos livros didáticos, está associado com o ensino de História nacional e regional bem como com a produção dos materiais didáticos daí ser necessário primeiramente comentar sobre essas questões. A disciplina de história surgiu no Brasil no século XIX, enquanto ciência e os objetivos de seus conteúdos era enfatizar as tradições de um passado homogêneo, com feitos gloriosos de célebres personagens históricos.

O propósito era justificar a colonização portuguesa. Esta abordagem priorizava a historia política factual, e os personagens como os escravos, mulheres, trabalhadores pobres ficaram excluídas das páginas da historiografia. Já no século XX, o ensino de história foi substituído em detrimento da disciplina de Estudos Sociais, depois na historiografia brasileira prevaleceu uma abordagem marxista, cujo objetivo do ensino de história era mostrar a estrutura economia do país. Durante o período militar, as disciplinas de: Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Educação Moral e Cívica misturou-se com os estudos da História e com isso os conteúdos de História e de Geografia ficaram descaracterizados. Somente na década de 80, com a História Nova, de modo geral, houve então no ensino uma revolução, dessa forma, no ensino de História houve deslocamentos: nas produções historiográficas, pelos variados temas e abordagens, na metodologia do ensino o paradigma da história factual foi abominado e ao mesmo tempo surgia uma difusão de cursos de licenciaturas plenas de História e Geografia que até então prevalecia as licenciaturas curtas que de certa forma comprometia com a formação de profissionais desqualificando o ensino. Ou seja, a partir dos anos 80, houve um repensar historiográfico, no campo da pesquisa surgiu o aumento de produções historiográficas especialmente sobre a região mato-grossense, pois o parâmetro do ensino da história do Brasil até essa década primava pelas regiões sudeste e sul do país (São Paulo, Rio Janeiro e Minas Gerais).

A História Nova permitiu também que a história regional/local e as experiências humanas mato-grossenses fossem valorizadas ausentes das páginas dos livros didáticos. Desse modo, reafirma-se que o ensino de história ao longo dos períodos históricos desde o século XIX, ao final do século XX deixou de enfatizar a história regional.

No entanto, mesmo com essas mudanças ocorridas no ensino nos anos 80, pode-se dizer que nos dias atuais essa problemática ainda tem continuidades. pois a história de Mato Grosso e a produção de materiais da mesma ainda é uma indagação.

Entre as deficiências do ensino dessa disciplina, destaca-se a carga horária reduzida dessa disciplina no ensino médio no território de Cuiabá, á exemplo, em algumas escolas públicas e privadas da localidade consta na matriz curricular uma aula por semana.

Vale lembrar que, analisando uma das escolas privadas da mesma localidade citada, especializada no Ensino Médio, consta na matriz curricular da mesma, uma média de quatro aulas por semana. Já no ensino fundamental de algumas escolas públicas consultadas não consta a disciplina na matriz curricular.

Pode-se dizer, que a problemática dessa não se resume somente na carga horária minimizada ou na falta de material didático especifico, pois uma reflexão aqui levantada é: de que modo o conteúdo é construído ou repassado para o aluno?

Ainda que, o objetivo deste texto não seja apontar uma receita para melhor qualidade de ensino dessa disciplina nos parâmetros curriculares nacionais elaborados pelo ministério da educação, há indicações impreteríveis para que os conteúdos de história do ensino fundamental e médio, sejam articulados: o passado com o presente, assim também é relevante para o profissional enfatizar nas aulas de história o tempo e espaço de qualquer grupo social. Enquanto profissional atuante na áerea de história percebe-se que muitos alunos do ensino médio ou fundamental, ou mesmo acadêmicos seja de universidades públicas ou privadas, apresentam debilidades inigualáveis, desinformações e noções extremamente vagas, por vezes desconhecimentos sobre determinados conteúdos como é o caso da Rusga que parece ser algo exógeno no vocabulário do estudante e consequentemente do cotidiano escolar.

Livros didáticos e Rusga Os Parâmetros Curriculares (PCNs) explicitam a necessidade do estudo sobre a história do cotidiano, e a identidade do aluno embora isso ainda seja uma complexidade. Conforme consta nos Parâmetros Curriculares: Os estudos da história local conduzem aos estudos dos diferentes modos de viver no presente e em outros tempos, que existem ou que existiram no mesmo espaço.

No entanto, o estudo sobre a história local no território mato-grossense é um paradoxo, longe de abranger os objetivos dos Parâmetros curriculares.

Segundo Circe Bittencourt, são enormes as deficiências apresentadas nas produções dos livros didáticos do ensino de História e a História de Mato Grosso sendo ainda silenciada nos livros didáticos só reforça o problema da historicidade dessa região mais central da América do Sul como algo externo à realidade brasileira.

Nas produções didáticas de História há temas da História do Brasil, como os movimentos sociais ocorridos em variadas regiões do país na década de 1830. Entre os movimentos constam: a Cabanagem (1832, Pará), a Farroupilha (1835, Rio Grande do Sul), Sabinada (1837, Bahia), a Balaiada (1838, Maranhão) com exceção da Rusga (1834, Mato Grosso). Esses movimentos sociais inclusive a Rusga, eclodiram nas províncias também durante o período regencial, devido a instabilidade política e formação dos partidos políticos que até então não havia ainda no Brasil.

Para Sena, os “movimentos provinciais e forças locais já ocorriam em diversas províncias do país, a fronteira oeste do império também demonstrava seu potencial que poderia ameaçar a integridade do país que se formava”.

A necessidade da ordem previa restringir uma maior participação das camadas que, desde os tempos coloniais estavam alijadas de uma maior participação, efetivamente institucionalizada na política e nas esferas administrativas, desde os tempos da colônia. Era a direção da ordem que se apresentava fundamental num momento em que cresceram no Império em número as insurreições negras, as disputas pelas terras, os levantes urbanos, a insubordinação da tropa e as diversas rebeliões.

De modo geral, mediante insatisfação social a reação provocou os conflitos com participação de várias camadas sociais, não somente envolvia a elite cuiabana mas homens livres pobres, escravos, pequenos proprietários de terras.

Vale lembrar que enquanto a Rusga fica como um fato inexistente na historiografia brasileira, o conteúdo sobre a Farroupilha, além de estar nas páginas dos livros didáticos é um episódio que ganhou visibilidades na mídia há alguns anos atrás por meio de uma minissérie, é também um fato comemorado na região Sul do Brasil, uma forma de manter a identidade e a memoria.

Observa-se que o problema não reduz apenas a ausência do tema enquanto conteúdo do ensino de história do Brasil, porém a invisibilidade da história de Mato Grosso, de modo geral, na produção de materiais didáticos para o ensino médio e fundamental, ou seja, faltam materiais didáticos ou paradidáticos.

Na região de Mato Grosso são poucos os autores que focalizam o tema e mesmo sobre as produções de materiais didáticos. Elizabeth Madureira e a autora Else Cavalcanti, além de produzirem outros estudos historiográficos na década de 70 e 80, produziram obras que reúne diversos aspectos da historicidade de Mato Grosso em diversos tempos históricos. As autoras abarcam fatos históricos do século XVIII ao século XX servindo de suporte para profissionais, que atuam nos Ensinos, Médio e Fundamental. No entanto, muitos profissionais desconhecem as publicações. Ressalte-se que uma das produções acadêmicas específica e mais recente sobre o tema é de autoria de Ernesto Cerveira, que trata dos aspectos políticos antes, durante e após o fato. Para esse autor, o tema Rusga permite mostrar a dinâmica política na fronteira oeste do Brasil, com destaques para os partidos políticos e as facções, bem como a atuação dos personagens políticos.

Pesquisando juntamente com os alunos durante os estágios sobre a prática de alguns profissionais que atuam em escolas públicas e privadas no ensino da História, observa-se que alguns profissionais possuem uma visão mais crítica sobre o problema em questão, elaboram o material, ou seja, reúnem e organizam os textos, já que não existe um material específico. Outros profissionais não possuem material devido à falta de conhecimentos sobre onde encontrar as ferramentas necessárias, dessa forma obtém algumas informações pelos sites da internet sem, contudo, contextualizá-las, justificando a falha do sistema educacional. Isso significa que os conteúdos de História de Mato Grosso, por vezes, são ainda repassados como fatos isolados e, portanto, simplificados. O que se observa na prática pedagógica é talvez a necessidade de revisar, repensar, sobre o conjunto de saberes que norteiam a comunidade escolar, a começar pela matriz curricular.

Segundo Marcos Silva, a construção de currículos culturalmente inclusivos incorporam tradições culturais e sociais de grupos específicos, características econômicas e culturais das realidades locais e regionais. Breves comentários sobre o fato: 30 de maio de 1834 em Cuiabá Uma das vertentes historiográficas mato-grossenses caracteriza a Rusga como um movimento “nativista” ou um simples movimento da província de Mato Grosso.

Em outras vertentes historiográficas, a Rusga, em linhas gerais, tinha por finalidade excluir os portugueses do território mato-grossense, devido ao monopólio que detinham sobre a população no período regencial. Desse modo, temos a concepção naturalizada de que, o movimento só eclodiu devido o monopólio dos portugueses. Sobre essa questão cabe uma maior atenção.

A Rusga, enquanto um fenômeno político brasileiro ocorrido em 1834, no Centro-Oeste do Brasil, no período das regências, situava entre o discurso da centralização e descentralização do poder. Esse conflito esteve ligado aos partidos políticos que até então estavam emergindo no país e tais partidos políticos estavam associados aos “liberais e/ou sociedades dos zelosos da independência ”e os conservadores e/ou Caramurus”.

Os dois grupos pretendiam obter o controle politico da província. Os liberais ou sociedade dos zelosos da independência almejavam a expulsão dos portugueses e de alguns estrangeiros também chamados de adotivos. Segundo Ernesto Cerveira a sociedade dos zelosos intencionavam derrubar o governo da província, nesse caso, o alvo não era os portugueses, pois brasileiros também ocupavam cargos políticos desde o período colonial e compunham a elite cuiabana.

O mesmo autor cita o presidente de província Augusto Leverger em que o mesmo afirma que não era grande o numero de portugueses existentes na província não passando de centena e meia em toda província mas muitos deles estavam ligados a atividade mercantil e outros ocupavam cargos burocráticos. Quanto aos “caramurus ou conservadores” queriam o retorno de D. Pedro I, que estava em Portugal para que o mesmo continuasse como imperador do Brasil.

Elizabeth Madureira, também defende que a partir dos dois grupos políticos eclodiu o conflito. A autora Else Cavalcante, comenta que a Rusga não pode ser considerada uma revolução porque não houve uma mudança estrutural na economia, no social da província, foi um movimento social de reivindicação, isso porque a província de Cuiabá passava por crise econômica, pagamentos de salários atrasados, gerando ainda mais a miséria social.

Na época em que ocorreu o episódio em 1834, o presidente de província de Mato Grosso era Poupino Caldas, membro da sociedade dos zelosos administrou a província entre maio e setembro de 1834. No entanto, Ernesto Cerveira afirma que não foi esse o idealizador da sociedade dos zelosos, e sim Patrício da Silva Manso. Vale lembrar que este governante, havia assumido cargo de presidente da província dias antes do movimento ocorrer porque Correa da costa se ausentou do cargo. A “Rusga” para Rubens de Mendonça, foi o movimento armado de 30 de maio de 1834, denominada de “a noite de São Bartolomeu mato-grossense”, em que a massa popular se agitava, o povo reclamava a retirada dos portugueses do solo pátrio.

Segundo Rubens de Mendonça, o Coronel João Poupino Caldas assumindo o governo no dia 26 de maio de 1834, quatro dias depois a 30 de maio, por volta das 11 horas da noite “se ouviu tocar rebate de cornetas e caixas de guerras, tiros de arcabuzes, e gritos de morram os bicudos. Na escuridão da noite apenas se ouviam barulhos de machados e alavancas arrombando as portas dos negociantes adotivos ali residentes”. O nome de bicudo era alcunha pejorativa que os cuiabanos davam aos portugueses.

Conforme Else Cavalcante, esse momento representou mais uma ocasião encontrada para os pobres usufruírem de benefícios passageiros e extravasarem anseios e mudanças.

Para Elizabeth Madureira, o movimento foi impulsionado não somente pelas elites, mas pelos mulatos e crioulos. Esses últimos grupos sociais fora motivados por uma questão racista, pois para a autora Madureira eles se sentiam inferiorizados diante da cor branca, a quem chamavam os brancos de caiados. Os participantes do movimento, também chamados de rusguentos pela historiografia, eram membros da guarda nacional, escravos, e segundo Madureira, entre eles estavam os membros da elite cuiabana. Segundo o caderno de memória do legislativo de Cuiabá, produzido em 2002, na noite de 30 de maio uma multidão revoltada e enraivecida que sob toque de tambores e cornetas, comandadas pela própria guarda nacional, percorreram as ruas de Cuiabá, passando a atacar mortalmente os portugueses.

Esse fato se passou em Cuiabá no campo D’Ourique, atualmente praça Pascoal Moreira Cabral, onde situa a Câmara Municipal dos Vereadores. Tal movimento teve durabilidade de aproximadamente quatro meses. Nessa noite, os participantes do movimento arrombaram as casas comerciais, saqueando e matando os portugueses chamados de “bicudos”.

Sobre isso, Virgilio Correia comenta: “Pelas ruas até então silenciosas de Cuiabá, propaga-se a anarquia desenfreada, em berreiro macabramente capadoçal, em que se misturam o sinal de alarma, o estrondo de portas e janelas, o hino da desordem, tiros e depredações das vítimas.” Cavalcante, enfatiza que os saques, roubos e mortes são explicados mediante um contexto caótico com crises social, econômica e política pela qual passava Cuiabá.

Os registros documentais também contam que o bispo D. José, com o crucifixo nas mãos, implorava o término da “carnificina”, pois esse movimento se deu em torno da opressão que os portugueses exerciam nas camadas mais pobres das comunidades.

Desse modo, para conter tal movimento, Poupino promoveu a dissolução da guarda municipal e reorganização da guarda nacional. E também expediu guarnições a várias localidades da província como, Serra acima, Rio baixo e Diamantino onde vários portugueses foram mortos, esposas e filhas violentadas e os corpos proibidos de ser enterrados, com orelhas cortadas e levadas para Cuiabá.

De acordo com Ernesto Cerveira, Poupino Caldas até então expressava liderança contra os portugueses porém no momento da manifestação da Rusga ficou contra os participantes do movimento, aderiu à política central, inclusive prendendo alguns na vila de Diamantino. Poupino e Pedro Alencastro fizeram uma parceria para oprimir o movimento e desse modo acabou desagradando os companheiros que até então estavam apoiando, acusado pelos rusguentos de traidor.

De acordo com os estudos de Elizabeth Siqueira os cabeças do movimento eram: Pascoal Domingues, Juiz de Direito em Cuiabá, Brás P. Mendes, Prof. de Filosofia, José J. Carvalho, Promotor Público, Bento Franco de Camargo, Vereador da Câmara de Cuiabá, Caetano Xavier da S. Pereira, bacharel em Direito, Vereador da Câmara de Cuiabá e major da Guarda Nacional. Diante do fato o governo mato-grossense estendia um mês de prazo para os fugitivos saírem da província, mas os líderes exigiam que os bicudos escapos pelo primeiro assalto deixassem a província em vinte e quatro horas. De acordo com Virgilio Correa Filho: Requisitavam a remoção de todos os adotivos menores de 60 anos para fora da província, por não convir que continuem no exercício de seus empregos civis ou militares, visto que pelas provas que tem dado de inimigos declarados das nossas instituições se achavam armados em suas casas, esperando a noticia da restauração do Duque de Bragança neste império.

No relatório do presidente da província Antonio Pedro Alencastro, que havia tomado posse em setembro de 1834, consta que foram presos os cidadãos de posição social responsáveis pela desordem social enviados à Corte pela navegação fluvial de São Paulo. Assim diz o presidente: [...] depois do 30 de maio os cabeças de tão horrorosos crimes tentaram pela segunda vez levar avante seus nefandos desígnios tramando acabar com nosso sistema de governo monárquico constitucional [. ..].são estigmatizados, surpreendidos e presos pelos cautos e pacíficos cidadãos que indignados estão e reclamam o seu destino para fora da província [...]. Como consequência do acontecimento da noite de 30 de maio, Poupino foi criticado pelos zelosos, pela conivência com o governo central. foi assassinado no ano de 1836, pois alguns dos que haviam sido presos no Rio rearticularam-se e acabaram retornando, conseguiram habeas corpus. Como o presidente de província Antonio Pedro Alencastro havia sido deposto, Poupino ficou sem a força política resolvendo partir da região, mas antes de partir foi assassinado. Segundo Taunay, a vítima pode sacar do bolso uma pistola, mas caiu logo de bruços morto na calçada.

Como postula Elizabeth Madureira: Vinha Poupino, nas visitas que estava fazendo, de chapéu de chile e botas, aliás armado, como sempre andava. Sendo o dia de festividades religiosa, segundo uns do Espírito Santo, o estrondear dos foguetes e o repique de sino impediram que se ouvisse o tino homicida, dando ensanchas ao assassino de se retirar incólume, depois de negra façanha. Ainda pode a vitima sacar do bolso uma pistola, mas caiu logo de bruços morto na calçada. Nos relatos de Moutinho se percebe outra visão sobre esse fato; este cronista era de descendência portuguesa, segundo ele, na época os cuiabanos pouco se afeiçoavam aos estrangeiros, aos portugueses dão nome de “bicudos” e aos filhos de outras nações de “carcamanos” .

A carnificina de 1834, é o ponto negro no Céu daquele torrão, e o pesadelo ainda de muitos indivíduos, de cujas memórias o espaço de sete lustros não tem podido afugentar as imagens de suas vítimas. A página em que se escrever a história desse extermínio de portugueses será uma nódoa de sangue nos anais da província, e jamais o tempo poderá apaga-la. Não tentaremos descrevê-la; apesar de sermos portugueses, queimamos muitos documentos que diziam respeito aos negócios de 1834.

Ainda de acordo com a historiografia mato-grossense várias foram as críticas sobre o episódio, culminando em anedotas: Embarca bicudo, embarca canalha vil que os brasileiros não querem Bicudos no seu brasil. Em suma, o foco central deste estudo não foi apontar opiniões sobre as facções dos partidos políticos ou das correntes ideológicas, mas tecer comentários críticos de como a produção historiográfica mato-grossense justamente porque se encontra exclusa dos conteúdos da história brasileira, longe dos temas contidos nos livros didáticos, consequentemente do ensino de História fundamental e médio que ainda mantêm suas fragilidades. Essa data histórica aqui apresentada não é também enfatizada como algo célebre na historiografia matogrossensse, mas como parte de um acontecimento nacional, de uma concepção de história e de certa forma a crítica é talvez uma forma de o conteúdo adquirir visibilidade já que está silenciada como tema da História do Brasil. De acordo com Circe Bittencourt, “cada data traz um acontecimento muitas vezes invisíveis, pois nas datas podem surgir outros acontecimentos relacionados a ela, mesmo que algumas não sejam exclusivamente nacionais.”

Desse modo, porque não falar do tema em estudo quando são apresentadas as rebeliões (Cabanagem, Sabinada, Balaiada, Farroupilha) já que são movimentos sociais ocorridas no Brasil numa mesma temporalidade? Alguns historiadores argumentam que os fatos históricos são como as pontas do iceberg, pois em cada tempo histórico pode conter outros acontecimentos invisíveis e como a Rusga não é e não deve ser um fato acabado no discurso historiográfico, novos questionamentos podem emergir diante do tema.

De acordo com as breves considerações feitas sobre o conflito, o ensino da história e a produção dos livros didáticos pode-se dizer que, as mudanças historiográficas trazem novas indagações, inquietações polêmicas logo, as práticas do processo ensino-aprendizagem precisam ser revisadas, ao invés de manter as naturalizações como o silêncio sobre o conflito, que elas possam começar a ser intermediadas pelas nossas práticas historiográficas, pois delas podem emergir diversas problematizações.

Mediante múltiplas produções didáticas que apontam conteúdos do ensino de História cujos parâmetros da História do Brasil são estudos voltados apenas para as regiões litorâneas, portanto, excluindo aspectos sobre a região mato-grossense, cabe a nós, historiadores, o ofício de quebrar os paradigmas pré-estabelecidos e repensarmos mais na nossa arte do fazer o ensino da História.

Para Selva Guimarães a disciplina tem como papel central a formação da consciência histórica dos homens, possibilitando a construção de identidades, a elucidação do vivido, a intervenção social e a praxes individual coletiva.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITTENCOURT, Circe. Dicionário de datas da história do Brasil. Contexto. São Paulo, 2010.

___________________. O saber histórico na sala de aula. Contexto. São Paulo. ___________________. Identidade nacional e ensino de História do Brasil. In: KARNAL. Leandro. (org) História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. Contexto. São Paulo, 2003. Cadernos da Memória do legislativo Cuiabano. Câmara Municipal de Cuiabá. Vol. I, Cuiabá, 2002.

CAVALCANTE, Else Dias de Araújo; Costa, Maurim Rodrigues. Mato Grosso e sua história. Cuiabá; Ed. dos autores, 1999.

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MELGAÇO, Barão de. Apontamentos chronológicos da Provincia de Mato Grosso. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Nº 19, 2001, p. 162. MENDONÇA, Rubens de. História de Mato Grosso. Cuiabá: Fundação Cultural de Mato Grosso, 1982.

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SILVA, Marcos. Ensinar história no século XXI: Em busca do tempo entendido. Marcos Silva; Selva Guimarães Fonseca. Campinas-SP, Papirus, 2007.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

INAUGURAÇÃO DO ESTÁDIO VERDÃO EM CUIABÁ



 Confira as imagens da inauguração do estádio Verdão em Cuiabá durante a Ditadura Militar


 


PRESIDENTE ERNESTO GEISEL em Mato Grosso: comparece ao lançamento do Programa de Desenvolvimento da região do Grande Dourados, inaugura trecho de rodovia, entre Dourados e Rio Brilhante, participa da solenidade de aniversário de Cuiabá, inaugura o Estádio Governador José Fargelli e assiste a uma partida de futebol; presentes os ministros Hugo Abreu, Alisson Paulinelli, Rangel Reis, Dirceu Nogueira, Shigeaki Ueki e o governador José Garcia Neto.
Autor: Agência Nacional (Brasil)