domingo, 31 de janeiro de 2010

HISTÓRIA NA MÍDIA

Arquivo de batismos de 116 anos no PortoParóquia São Gonçalo tem registros ainda feitos em pergaminho, que revelam peculiaridades quanto à forma de dar nomes aos batizados na Capital
Geraldo Tavares/DC

Igreja quer microfilmar certidões, porém custo impede serviço


O registro de batismo da Paróquia São Gonçalo, do bairro Porto, completa, no mês de junho, 116 anos e revela uma série de curiosidades quanto aos hábitos dos cuiabanos ao longo do período, sobretudo quanto à forma de identificação. A primeira cerimônia de batismo é datada no ano de 1894, celebrada pelo padre Antônio Mallam, que batizou uma pessoa chamada Ernestina, filha de Germano Lerrandosk e Manuela Corassa. O primeiro livro contém registros de 1894 a 1900. Os dados eram organizados por data, primeiro nome da criança, nome dos pais e padrinhos. A caligrafia e o papel em pergaminho, couro de carneiro, são as principais características que remetem à época. Hoje, mesmo com cuidado, os livros estão em avançado estado de decomposição. Muitas folhas estão rasuradas, rasgadas, erroneamente presas com fitas adesivas e com um odor intenso. Para o padre Giulio Boffi, responsável pela paróquia, o desejo de microfilmar os primeiros livros datados do século 19 é inviabilizado pelo custo. Quem confirma é a historiadora da Secretaria de Cultura do Estado, Dulcineia Silva Martins, que salienta que os únicos lugares que fazem a microfilmagem são a Biblioteca e Arquivo Nacional, ambos localizados no Rio de Janeiro. Ela cita como exemplo os anais do Senado da Câmara de Cuiabá, que passaram pelo processo de restauração. “Por ser um custo alto esses documentos recuperados, na maioria das vezes, são custeados através de projetos de banco privados ou públicos”, explica. Outro detalhe salientado por Dulci é referente à caneta utilizada na época, bico de pena e tinta ferrogálica, por isso, a perfeição na caligrafia, somada à dedicação dos calígrafos, profissão comum em registro de documentos. Outro detalhe característico era a forma como os nomes eram escritos. Por exemplo, Anna com dois “enes”, Benedicto e Victoria com C antes da consoante, o que dá um som nasal diferente, mas ainda não ganham dos mais comuns, como Maria, José, João e Antônio, que prevalecem até hoje. Destaque para nomes diferentes como Hermenegilda, Cesinando, Sinhorinha, Horminda, Leovegilda, Aceste, Petronillo, Cordolina, Hangrio, Cordeolina, dentre muitos outros. Nomes incomuns são explicados pela historiadora como uma forma de homenagear o santo do dia. Eles têm representação nos 365 dias do ano. Por exemplo, Justicimiliano, que foi batizado no dia 1° de julho de 1898, dia de São Justino. “Possivelmente seus pais queriam homenagear o santo e deram o nome da criança associando com o nome dos seus pais, só assim para explicar um nome tão diferente e com pouco sentido”, explica Dulci. Outra prática muito comum na época explicada pela secretária paroquial Dalva Ribeiro da Silva Carvalho era que os pais demoravam para registrar os filhos no cartório e, muitas vezes, mudavam o nome na hora do batismo. Isso causava muita confusão, porque, na certidão de nascimento, era um nome e no registro de batismo, outro. Um exemplo, mas já nos dias de hoje, é de Marcos Vinícius da Silva. Quando precisou apresentar a certidão de batismo para se casar, não encontrava o documento, porque sua mãe mudou seu nome no registro de batizado, o chamando de Marcos Camargo da Silva. “As pessoas moravam na zona rural e só registravam seus filhos anos depois, ao contrário do batismo, que acontecia nos primeiros anos de vida da criança. O batizado já foi mais importante do que registrar o filho no cartório. As pessoas seguiam a risca a tradição de batizar seu filho”, completa. Hoje, todo o registro de batismo é feito pelo computador, catalogado e organizado em pastas. Em 2009, foram 725 batismos realizados na Paróquia São Gonçalo. Não há um número preciso de quantos batizados foram realizados desde de 1894 até os dias atuais.
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