terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Uma deposição idealizada
A queda de um governador na ótica de Moacyr de Freitas

Um ato de ousadia e insubordinação que aglutinou os estamentos superiores da sociedade cuiabana. Esses são alguns dos elementos que compõem a cena demonstrada na tela "A deposição de Magessi" do pintor Moacyr de Freitas, um arquiteto com vasta folha de serviços prestados no estado e ao mesmo tempo um profundo conhecedor e amante da História de Mato Grosso.

Nesta obra o autor transporta o espectador para o cenário que se via em 20 de agosto de 1821 nos arredores do Palácio dos Capitães-Generais, residência oficial dos governadores desta capitanaia, em Cuiabá, que diga-se de passagem naquele época não possuía o status de capital. Ainda assim, os dois últimos governantes do período colonial, alegando a propalada insalubridade de Vila Bela, passaram a maior parte de suas gestões residindo em Cuiabá.

Esta tela de Moacyr de Freitas, pintada no ano 2000, ilustra bem a idealização do autor a respeito da conspiração elitista que depôs o principal representante da coroa portuguesa em solo matogrossense. Evidentemente que por ser um pintor contemporâneo, Freitas não presenciou a cena, a imaginou e concebeu-a seguindo influências do Romantismo, movimento artístico muito em voga no século XIX e compôs esta bela peça da nossa história colonial.

Ao se fazer uma leitura atenta da cena retratada pelo artista, percebe-se que esse movimento foi encabeçado por elementos oriundos das camadas mais abastadas da sociedade local, fato que pode ser evidenciado ao se observar as vestimentas utilizadas pelas pessoas que se aglomeravam às portas do referido palácio. As pessoas retratadas na tela representam a elite cuiabana, gente que ocupava postos de relevância nas esferas civil, militar e clerical, e que posteriormente constituiríam a Junta Governativa encarregada de administrar essa região depois da derrubada do Capitão-General e Governador de Mato Grosso, Francisco Magessi.

Pouco antes de ser deposto, o referido governador havia jurado fidelidade à Constituição portuguesa, fato que deixava claro seu consentimento com as idéias defendido pelas elites lusitanas que desejavam o regresso do Brasil à sua antiga condição de colônia.

Entretanto esses ideais iam na contra-mão dos interesses da elite cuiabana que partidária do liberalismo, almejava preservar seus privilégios desfrutados naquele período. Dessa forma, planejaram e executaram um golpe que literalmente retirou o tapete sob os pés de Vossa Excelência. Isso não só serviu como demonstração de força ao derrubar o principal representante do poder metropolitano nesta capitania, como também contribuiu para a afirmação de Cuiabá como epicentro da política matogrossense, o que gerou na sequência uma contenda com Vila Bela que desejava manter para si a condição de centro administrativo, acirrando ainda mais a rivalidade entre as duas principais vilas de Mato Grosso.

Freitas demonstra em sua composição harmônica o conluio que se formou em torno dos elementos da classe dominante cuiabana que ao efetuar uma intervenção cirúrgica no plano político, desejava acima de tudo, a manutenção de seu status quo e impedir a todo custo a perda de suas prerrogativas políticas, econômicas e sociais.

No teatro das disputas de poder protagonizaram apenas a camadas dirigentes, uma vez que a maioria esmagadora da população assumiu apenas a função de meros espectadores, alheios ao que se passava, sem direito à participação ativa na definição dos rumos a serem seguidos pela região.

A mencionada obra de Moacyr de Freitas, apesar das limitações impostas, devido ao fato de ser fruto da idealização e do talento do artista e considerando-se ainda as indagações que podem ser feitas sobre a referida obra, esta configura-se com uma peça importantíssima para se ilustrar uma relevante página da história matogrossense. A grande coleção obras de Freitas possibilita releituras da historiografia matogrossense e contribui para que as novas gerações possam ter acesso à riqueza da história regional.

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