domingo, 7 de fevereiro de 2010

Talentos “ajojados”

Odair de Morais, que escreve textos para o DC Ilustrado, e Rodrigo Vinícius, que faz as tiras do caderno, estão juntos numa empreitada


Xá por Deus! Mas agora que qué esse? Espía só este guri. Larido demás. Nunca vi. Rapelô a bacia de pequi que eu ia cuzinhá no armoço. Vôte! Vô tchamá xá mãe quero ver se vai ficar cô moage.


Se há um tempo era feio falar assim, hoje com a mente um pouco mais aberta, a diversidade salta aos olhos e os acentos e palavras perdidas no baú da memória ganham contornos culturais de resistência. Amigos de longa data Rodrigo Vinícius (30) e Odair de Morais (27) resolveram ‘ajojar’ os talentos. A ideia nasceu com Odair. Professor de língua portuguesa da rede pública estadual Odair tem visto palavras típicas cuiabanas se perderem com o vento. “Meu irmão e eu conversamos muito e é clara a influência após a década de 80 com o aumento da migração. Os cuiabanos foram muito massacrados pelo seu modo de falar e aos poucos os jovens foram ficando com vergonha deste linguajar” explica Odair. O Rodrigo Vinícius estudou com Odair na Escola Técnica em 1999, mas ainda não tinham feito nada juntos. Ambos frequentam as páginas do DC Ilustrado. O Rodrigo publica sua filosofia de bar e as aventuras do Marcolino às quintas e sextas-feiras e o professor publica suas crônicas e demais textos aos domingos. Inspirado na própria família Odair propôs ao Vinícius a criação de dois personagens: Gonçalo e Antonio, ou melhor, Xalinho e Nono. Os dois viveriam situações em que a língua seria o diferencial, palavras moribundas ganhariam brilho e contornos visuais que dispensariam a tecla SAP (aquela que traduz o que está sendo dito na TV). Odair, sempre mais didático, esclarece que a maneira pela qual pretendem trabalhar este resgate é diferente do que vem sendo feito pelos humoristas atualmente. “Diferente porque tem uma preocupação com o resgate de termos e não só com o sotaque apenas. Também utilizamos a ilustração” o que a seu ver facilita a compreensão. Vinícius fala que o público do Diário de Cuiabá vai poder apreciar uns 10% do trabalho que deve virar um pocket book(livro de bolso) com direito a glossário e desenhos da típica arquitetura cuiabana, “um trabalho assim, inspirado no Moacyr de Freitas” conta Rodrigo rindo sem a pretensão de igualar ao mestre. As tiras com os dois personagens começaram a sair nesta semana passada, quinta e sexta-feira e deve continuar por pelo menos um mês. Os dois estão com o projeto pronto para a lei de incentivo à cultura que está com edital aberto. O livro deve ter 100 páginas e será todo em preto e branco. O título provisório é: “Xalinho e Nono: zanzano por Cuiabá”.


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