Pedaços da escravidãoPeças descobertas em pesquisas arqueológicas no Mato Grosso revelam a diversidade cultural dos cativos Luís Cláudio Pereira Symanski O município de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, já é conhecido por suas dezenas de sítios arqueológicos. Mas escavações feitas de Os engenhos Rio da Casca, Água Fria e Quilombo, ocupados entre os séculos XVIII e XIX, revelaram uma grande quantidade de cerâmicas artesanais, predominando panelas, tigelas, potes e pratos. Louças europeias de baixo custo também foram encontradas, além de garrafas de vidro. Pesquisas como essas têm sido feitas sistematicamente nos últimos quarenta anos nos Estados Unidos, onde há uma intensa discussão sobre a identidade dos produtores das cerâmicas artesanais. Muitos artefatos encontrados em sítios ocupados por escravos teriam sido confeccionados pelos próprios cativos ou por índios da região, mas também podem ser produto das trocas culturais com os europeus. Essa polêmica se deve à pouca similaridade entre as tradições ceramistas ricamente decoradas da África Ocidental e as cerâmicas norte-americanas, que apresentam formas simples e sem decoração. Mas nos engenhos de Chapada a decoração é muito comum, estando presente em mais de um quarto das amostras cerâmicas. Muitas dessas peças são decoradas com motivos bastante similares àqueles dos artefatos do período pré-colonial tardio e do período colonial da África Subsaariana (a partir do século XVI), o que indica a influência de grupos africanos específicos sobre esse material. As cerâmicas são decoradas com motivos bastante similares aos que os ovimbundus de Benguela aplicam em ornamentos e nas tatuagens O trabalho com fontes escritas também ajuda a recriar este panorama. Pesquisas em listagens de escravos presentes nos inventários dos senhores de escravos demonstra que os africanos compunham uma parcela que variava de 40% a 60% no período entre 1790 e 1870. Já entre 1870 e 1888, os afro-brasileiros dominaram demograficamente, constituindo 80% - aumento provavelmente provocado pela proibição do tráfico de escravos, efetivado a partir de Na maioria dos engenhos, o número de escravos variava entre vinte e cinquenta, mas cerca de um terço desses estabelecimentos mantinha plantéis que podiam chegar a ter cem escravos. A maioria trabalhava em atividades agrícolas, mas alguns eram pedreiros, marceneiros, ferreiros e tropeiros. Eles viviam em pequenas senzalas, construídas de pau a pique com cobertura de folhas de palmeira de babaçu. Alguns desses alojamentos eram provavelmente destinados a famílias nucleares - um casal com seus filhos - pois era comum o casamento de escravos na região. Benguela, Mina, Congo e Moçambique foram os grupos de procedência africana, as chamadas nações, majoritários na região em diferentes intervalos entre 1790 e 1870. Mina constituía um rótulo genérico, que poderia se referir a qualquer escravo embarcado no Golfo de Benim, então chamado de Costa da Mina. Em Mato Grosso, esses escravos eram principalmente nagôs (povos de língua iorubá) e gegês (povos de língua gbe). Chamavam-se benguelas, localizado no sul de Angola. Em sua maioria, eram nativos daquela região, sobretudo do planalto ocupado por povos agricultores conhecidos no século XIX como ovimbundus. Congo se referia aos bakongos do norte de Angola e do sul da República Democrática do Congo, bem como a outros grupos étnicos comercializados na bacia do Zaire. Por fim, moçambiques eram aqueles que tinham embarcado no porto da ilha de Moçambique, na costa oriental da África. Enquanto os escravos minas predominaram entre 1790 e 1810, os benguelas foram o grupo majoritário entre 1810 e 1850. O número de escravos congos aumentou significativamente a partir de 1830, e eles se tornaram predominates entre 1850 e 1870, seguidos, então, pelos moçambiques. fonte: www.revistadehistoria.com.br |
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
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