domingo, 29 de março de 2009

Resenha: CANAVARROS, Otávio. O poder metropolitano em Cuiabá (1727-1752). Cuiabá, Editora da UFMT, 2004, 241 p.

D. João V, rei de Portugal


Nesta obra o historiador Otávio Canavarros dedicou-se a estudar a ação política de Coroa portuguesa no Extremo Oeste do Brasil-Colônia durante a primeira metade do século XVIII e, dessa forma, verificar quais as estratégias utilizadas pela Metrópole para colocá-las em execução. Isto porque, através da documentação consultada, o autor percebeu que o Reino luso tinha finalidades claras de conquista em relação às regiões até então não ocupadas pela Espanha. Foi uma deliberada política de conquista dos territórios de soberania duvidosa ou indefinida, pela qual a Coroa Portuguesa, ora tentando direcionar os mineiros, ora se servindo dos seus préstimos e achados, na maior parte das vezes, procurou surpreender os Bourbons e seus funcionários das Índias de Castela com o fato consumado da posse.

O arraial de Cuiabá foi a base para a consolidação da conquista territorial lusitana na região, assim houve uma relação intrínseca entre os objetivos geopolíticos portugueses e a instalação do poder metropolitano no dito arraial.

O balizamento analisado foi o período da constituição da "territorialidade" lusitana na região Oeste da Colônia. Dentro da periodização estabelecida, a referente pesquisa se circuscreve ao período do passado colonial compreendido entre 1727 e 1752. O recorte se refere à elevação do antigo arraial de Cuiabá à categoria de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá (1° de janeiro de 1727) e a fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade (19 de março de 1752), eventos de grande relevância no processo de ocupação territorial do Brasil, porque entre eles se estabeleceu a delimitação de espaços a serem ocupados pelos súditos de Portugal e Espanha em duas frentes colonizadoras que, enfim se encontraram a Oeste, com a assinatura do Tratado de Madri em 1750.

Em 1727 ocorreu a elevação do povoado de Cuiabá à categoria de Vila, com a criação de provedorias e a posterior transformação da área em Capitania Geral à partir do desmembramento da Capitania de São Paulo, ocorrida no ano de 1748. A criação de uma vila-capital em 1752, Vila Bela da Santíssima Trindade, no vale do Guaporé, região limítrofe com as Missões de Moxos dos jesuítas espanhóis marca outra etapa dessa estratégia portuguesa. Sendo assim a pesquisa teve como objetivos acompanhar a geografia da expansão para o Oeste assinalando além das motivaçõs gerais e políticas, aquelas específicas que originaram cada passo.

A tarefa de consolidar essa conquista territorial acabou recaindo sobre os ombros da população da Capitania de Mato Grosso que assumiu a tarefa de transformar a região no "antemural" da colônia.

De acordo com a doutora Maria de Fátima G. Costa, "trata-se de um bem fundamentado estudo sobre os primeiros cinquenta anos da presença luso-brasileira nas terras hoje mato-grossenses. Ler este trabalho é adentrar no universo fascinante que só um historiador erudito pode fornecer. Canavaros conduz o seu leitor a revisitar as páginas daqueles que, em lugares e tempos diversos e de forma diferenciadas, contribuiram para a contrução da história da região, cujas terras sempres estão próximas de algum rio paraguaio ou amazônico. E mais ainda, apresenta uma farta documentação, tanto manuscrita como impressa. É no profícui diálogo que se estabelece com autores e fontes que faz surgir sua segura argumentação sobre a história de Mato Grosso, ao mesmo tempo em que põe forma no seu objeto e, página a página, comprova suas hipóteses."

O objetivo principal que moveu a pesquisa de Canavarros foi o de demonstrar que a estruturação do poder metropolitano em Cuiabá fez parte da estratégia lusitana de assegurar a posse das terras conquistadas dos espanhóis, a Oeste do meridiano de Tordesilhas. O autor buscou demonstrar a política desenvolvida pelo reinado de D. João V através de passos seguros e documentação farta, a maneira pela qual se procurou consolidar definitivamente a conquista desses novos territórios para a Coroa lusitana.



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