sábado, 26 de dezembro de 2009

História na Mídia

Dia dos Bandeirantes resgata a história da fundação de Cuiabá

Dois dos maiores bandeirantes que vieram a Mato Grosso estão sepultados na cripta da Catedral de Cuiabá
Marcy Monteiro Neto, da redação TVCA
  • TVCA.com.br

No dia 14 de novembro, é comemorado o Dia dos Bandeirantes. Foram esses homens que desbravaram o oeste brasileiro a partir do século XVII. Pascoal Moreira Cabral foi um deles e ficou marcado na história ao fundar, em 1719, a cidade de Cuiabá. Confira abaixo uma reportagem publicada originalmente em novembro do ano passado sobre a história da fundação de Cuiabá e sobre os bandeirantes.

Cripta abriga bandeirantes

Catedral Metropolitana de Cuiabá. Uma porta na entrada lateral esquerda da igreja dá acesso a um pequeno corredor. Lá, outra porta, fechada com cadeado, leva ao subsolo da catedral. São 13 passos em um piso íngrime, rumo à escuridão. Mais uma porta até a sala onde estão enterrados personagens históricos de Cuiabá. No pequeno recinto, a cripta da catedral, há um altar singelo e bancos de madeira. Em frente, as lápides informam os nomes das personalidades que fazem parte da história do Estado e que hoje descansam sob os pés dos fiéis que visitam a igreja matriz.

Pessoas influentes e respeitadas eram enterradas, tradicionalmente, nas igrejas. O fundador de Cuiabá, o bandeirante Pascoal Moreira Cabral, está enterrado na Catedral de Cuiabá. Miguel Sutil de Oliveira, que descobriu uma mina de ouro que mudou a história do oeste brasileiro, também está na Catedral. Os dois foram responsáveis pela povoação da região de Cuiabá mas raramente são lembrados no Dia do Bandeirante, comemorado nesta quarta-feira, 14 de novembro.

A data

Os bandeirantes desbravaram o oeste brasileiro a partir do século XVII. A princípio, estavam à procura de índios para trabalhar como escravos. O historiador Tadeu Silva ressalta que a atividade bandeirante foi essencial para povoar a região oeste do Brasil e fundamental para a criação do povoado que deu origem à cidade de Cuiabá. Ele ressalta que no início os bandeirantes apenas aprisionavam índios e retornavam para o sudeste. Eram feitas roças apenas para subsistência do grupo durante o pequeno período em que estavam em viagem. Depois, com a descoberta de ouro, até mesmo a Coroa Portuguesa incentivou a fixação de mais pessoas na região para participar da atividade mineradora.

O dia 14 de novembro foi escolhido para comemorar o Dia do Bandeirante porque foi nesta data que a vila de Santana do Paranaíba, no extremo do Piauí, foi fundada. O local foi alcançado pelo bandeirante Pascoal de Araújo, em 1672. Ele viajou, a cavalo, de São Paulo ao Piauí. Foi naquela época que outros bandeirantes vieram para o oeste do país. O primeiro registro que se tem é de Manoel de Campos Bicudo, que subiu o rio Cuiabá até chegar ao Morro da Canastra, atual Morro de São Jerônimo, situado em Chapada dos Guimarães. Foi Bicudo quem batizou de São Gonçalo a confluência do rio Cuiabá com o Coxipó.

Anos mais tarde, em 1717, o filho de Bicudo, Antônio Pires de Campos, acampou no mesmo local que seu pai chegara, rebatizando-o de São Gonçalo Velho. Lá combateu e aprisionou os índios coxiponés, para depois vendê-los como escravos em São Paulo. No ano seguinte, 1718, deixou o acampamento nas margens do Coxipó, desceu o rio Cuiabá levando centenas de índios escravizados e encontrou-se com a bandeira de Pascoal Moreira Cabral.

Fundação de Cuiabá

Pascoal enfrentou os índios bororos em uma batalha com muitos mortos, índios e brancos. Em 1719, o bandeirante encontrou pepitas de ouro na região e decidiu organizar o primeiro arraial e cobrar impostos em nome da Coroa Portuguesa. Outra jazida foi descoberta também no rio Coxipó, junto ao rio Mutuca. Foi ali que os bandeirantes fundaram o Arraial da Forquilha.

O governador da Capitania de São Paulo determinou que fosse confeccionada uma Ata de Fundação do descobrimento das novas minas. No dia 8 de abril de 1719, Pascoal Moreira Cabral e os bandeirantes ali reunidos lavraram a Ata de Fundação de Cuiabá, sendo Pascoal Moreira eleito Guarda-Mor das minas descobertas.

Bom Jesus de Cuiabá

Com a notícia do ouro encontrado em terras mato-grossenses, outras bandeiras vieram para essa região ainda não explorada. Em 1721, o sorocabano Miguel Sutil de Oliveira descobriu uma mina de ouro que mudaria a história do oeste brasileiro. A historiadora Elizabeth Madureira, no livro História de Mato Grosso, conta que Miguel Sutil mandou dois índios buscarem mel. "No retorno, ao invés do doce alimento, trouxeram pepitas de ouro. Estava descoberta a terceira jazida aurífera mato-grossense, desta vez situada no leito do córrego chamado Prainha, afluente do rio Cuiabá", conta a historiadora.

Os exploradores que procuravam por ouro na Forquilha e também em São Gonçalo decidiram tentar a sorte na Prainha, no sopé do Morro da Prainha, hoje conhecido como Morro da Luz. Lá criaram um pequeno vilarejo sob a proteção do Senhor Bom Jesus. Em 1º de janeiro de 1727, Cuiabá foi elevada à categoria de vila e passou a ser chamada de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.

No dia 17 de setembro de 1818, Cuiabá tornou-se cidade, de acordo com a Carta Régia de D. João VI. Cinco anos depois, por decisão do Imperador D. Pedro I, tornou-se a capital da Província, no lugar de Vila Bela da Santíssima Trindade.

Mito bandeirante

O historiador Tadeu Silva esclarece que há um mito em torno dos bandeirantes que se aventuravam pelo interior do Brasil. Segundo o historiador, os bandeirantes não tinham o esteriótipo de super-heróis que se embrenhavam na mata para descobrir tesouros e conquistar civilizações. "Os bandeirantes foram muito pobres. A figura dos bandeirantes que as pessoas têm na cabeça é mito, virou alegoria", diz o historiador. Ele afirma que mesmo os bandeirantes mais conhecidos, como Pascoal Moreira Cabral e Borba Gato, por exemplo, eram pessoas muito simples. "As pesquisas atuais e os escritos deixados por eles permitem refazer a história", concluiu.

Pouco lembrados no Dia do Bandeirante, os desbravadores estão presentes no dia-a-dia dos cuiabanos. Bairro Bandeirantes, avenida Miguel Sutil, Praça Pascoal Moreira Cabral e Praça dos Bandeirantes são algumas das homenagens prestadas aos personagens históricos.

Além de Pascoal Moreira Cabral e Miguel Sutil, na Catedral Metropolitana também estão os túmulos com os restos mortais de outras personalidades como Dom Orlando Chaves e Dom Francisco de Aquino Corrêa.

fonte: mtonline.globo.com

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