segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DIALETO CUIABANO
Nova edição do Dicionário Cuiabanês

POR ODAIR DE MORAIS Especial para o DC Ilustrado


Segundo William Gomes, radialista e professor da UFMT, o lançamento da segunda edição do Dicionário Cuiabanês “está previsto para Março. Como dizia o cuiabano: beradiano 8 de Abril, aniversário de Cuiabá”. O livro é resultado de uma pesquisa realizada desde 1991, quando passou a apresentar um quadro diário na Rádio Cultura AM. William Gomes conta que costuma fazer perguntas ao vivo. Por exemplo: ‘Você sabe o que é quitute?’ Como os ouvintes passaram a ligar na rádio pra perguntar sobre termos que ele havia falado no ar semanas antes, dos quais muitas vezes nem se lembrava, passou a anotar. Num quitute, conforme o radialista, os jovens se reuniam pra cozinhar debaixo de um pé de árvore em um quintal da vizinhança; alguém se lembrava de levar um violão e todos passavam o domingo dançando e se divertindo de um modo bastante saudável. As anotações resultaram na primeira edição do Dicionário Cuiabanês (2000, sem editora) que tinha cerca de 5000 verbetes. “Certa vez um leitor chegou pra mim e disse: ‘Mas o seu livro não tem tal palavra’. Tirei meu caderninho do bolso e anotei. Tudo bem, respondi. Na próxima edição vai ter.” Devido a esta incansável pesquisa, a próxima edição trará 12 000 verbetes: palavras, ditos e expressões populares. O diferencial deste livro em relação a outros que abordam o assunto, é que William Gomes traz além da definição do termo, sua aplicação em uma frase e, como destacado anteriormente, um maior número de palavras. O autor explica que alguns verbetes estão presentes em outros dicionários. Cita como exemplo a palavra ‘vôte!’. Muita gente pensa que é uma expressão tipicamente cuiabana, mas sabemos que ela também é usada no nordeste, conforme registra o Aurélio. Segundo o autor, “o que caracteriza o vocábulo como regional não é o fato de ter surgido aqui. De repente pode ter em outro lugar, mas levo em consideração o uso que aqui em Cuiabá foi bastante expressivo.” 10 000 exemplares foram lançados na primeira edição e esgotados em menos de um ano. William Gomes atribui o sucesso de vendas à distribuição que foi feita estrategicamente em bancas de revistas por toda a cidade. “Pedra 90, Coophamil, CPA, Centro, Santa Rosa, Despraiado, etc. Conseguimos atingir leitores de todas as classes sociais.” O dicionário tem como principais propostas contribuir no processo de resgate da identidade local e servir de instrumento para fontes de consulta. Possui termos que em parte considerável o tempo, assim como outras variáveis, contribuíram para o esquecimento ou ao limitado uso. “Até porque”, acrescenta o autor, “este modo de falar, daqui a alguns anos, cara, babau. Acabou.” Num país em que a língua portuguesa é falada de diferentes modos por gaúchos, baianos, paulistas, cearenses, mineiros e cariocas, se não fosse a iniciativa de artistas e pesquisadores, dele talvez não sobrasse picilina nenhuma. Isto é, absolutamente nada.
* Odair de Morais é escritor e colabora com o DC Ilustrado professor_odair@hotmail.com

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