segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Mosca" na sopa do Fogão

Uma certa partida do Brasileirão de 1984 ficou eternizada na retina de todo torcedor operariano e imortalizada nas páginas de nossa história futebolística.
Acompanhávamos atentos ao desenrolar do jogo entre o Operário de Várzea Grande e o poderoso Botafogo do Rio. A partida fora realizada no estádio Verdão, em Cuiabá, e naquele dia infelizmente não pudemos ir. Então a alternativa foi acompanharmos tudo através das ondas do rádio. Estávamos reunidos em volta do aparelho, eu, meu pai, meus irmãos e primos, todos na maior expectativa.
Os mixtenses diziam que levaríamos uma surra, "goleada na certa" apregoavam na véspera, os nossos rivais.
Acreditávamos que o "chicote da fronteira" não nos decepcionaria, que venderia caro uma eventual derrota e que sairia de campo de cabeça erguida e aplaudido pela torcida.
O poderoso clube da estrela solitária, que naquela época, é bem verdade, não tinha um elenco tão imponente assim, apenas seu arqueiro, que já havia disputado uma Copa do Mundo, na reserva, mas ainda assim tinha bagagem internacional e merecia respeito. Ah, sem falar no treinador botafoguense, ninguém menos que Didi, o "folha seca" detentor de um vasto currículo no futebol internacional.
Apesar de todas as adversidades, acreditávamos que o Operário seria guerreiro naquele dia.
Voltando ao jogo, o Botafogo, favorito disparado, não demorou muito em abrir o placar, gol do atacante Amarildo. Seria esse o prenúncio de uma jornada mal lograda para os mato-grossenses? Porteira que passa um boi... Já viu né?
Que nada! O Operário não se deixou intimidar e passou a pressionar o adversário em busca da igualdade no marcador. Mas todas as nossas investidas eram rechaçadas pela zaga adversária ou pelo seu goleiro, em tarde inspirada.
Parecia que aquele não era o nosso dia...
Já no crepúsculo da partida, eis que temos um escanteio a favor pela direita.
Na bola o ponta-esquerda Ivanildo, "de pé trocado é perigo dobrado" diziam os antigos locutores. Era a nossa derradeira esperança, a partida já se encaminhava para o seu final. Dedos cruzados, respiração paralisada, o coração disparado. Agora ou nunca!
O narrador Márcio de Arruda, "o categoria que não muda", carregava na adrenalina, "é fogo, é fogo, torcida tricolor, aguenta coração!", bola na área, um perde-ganha danado, disputa de cabeça, até que a bola sobra pra Mosca, nosso principal jogador naquela tarde, e ele, como todo artilheiro que se preze, fez o imponderável.
A torcida tricolor viu a genialidade do artilheiro no desfecho da jogada.  Um lance acrobático, insinuante e inesperado que deixou perplexo o experiente goleiro botafoguense.
"Golaço, um lindo gol de Mosca, gol de bicicleta! O "Chicote da Fronteira" empata no apagar das luzes do espetáculo!". A narração eufórica aguçava mais ainda a nossa imaginação. Começávamos a desenhar em nossas mentes aquela pintura de gol. Teria sido tão lindo assim, ou o locutor exagerou na emoção? "Ah, se for tão belo assim vai passar no Fantástico!" profetizou meu pai, tricolor convicto.
Em casa festejamos pra valer. assim como a galera tricolor nas arquibancadas lotadas do governador Fragelli.
À noite, ficamos reunidos em frente à TV, aguardando ansiosamente aos gols da rodada. Até que a voz emblemática de Leo Batista anunciou: "Mosca do Operário-MT, é dele o Gol do Fantástico!". Comemoramos como se fosse a conquista de um título.
Aquilo nos encheu de orgulho, massageou nosso ego, aumentou a nossa auto-estima de operariano, de mato-grossense!
No dia seguinte ainda teve matéria no Globo Esporte com o herói da tarde anterior aparecendo em rede nacional de televisão. Realmente naquele dia ele foi uma verdadeira mosca na sopa do Botafogo, com direito à trilha sonora de Raul Seixas e tudo, "eu sou a mosca que pousou em sua sopa..."
Esse golaço do Mosca foi com certeza inesquecível.

2 comentários:

  1. Gostei dessa crônica, que na verdade são suas reminicências de infância, não é?
    Você poderia escrever uma nova a cada semana.
    Que tal?
    Bjus...

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  2. Ok vou tentar, produzir um texto por semana.
    Beijos

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