terça-feira, 7 de junho de 2011

Mineiros chegam ao Guaporé

Mineiros chegam ao Guaporé

Em busca de novas jazidas

As lavras cuiabanas não eram, como em Minas Gerais, exploradas com técnicas ou instrumentos sofisticados, pois o ouro, sendo de aluvião, era extraído de forma muito rudimentar. Assim, os mineiros mais afoitos, na ânsia de encontrar ouro em maior profusão, deixavam Cuiabá, seguindo rumos diversos. Dessa movimentação, foram descobertas outras jazidas de menor proporção, responsáveis pelo povoamento de área a Oeste que, pelo Tratado de Tordesilhas, não pertenceria oficialmente a Portugal:

  • Lavras do Rio Galera (1734) - nos sertões dos índios Paresi - conquista dos irmãos Paes de Barros;
  • Lavras de Santana (1735) - atual Nortelândia - descoberta pelos irmãos Paes de Barros e Fernan­des de Abreu;
  • Lavras do Brumado e Corumbiara - Guaporé - pelos irmãos Paes de Barros;
  • Minas do Alto Paraguai (1747) - Alto Paraguai e Diamantino;
  • Lavras de Santana e São Francisco Xavier (1751) - Guaporé.

Segundo Paulo Pitaluga Costa e Silva (2000), para chegar ao rio Galera, no Vale do Guaporé, onde encontraram novo veio aurífero, os mineiros se depararam com uma mata espessa, formada de grossas e altas árvores. Impressionados com o porte das árvores, o emaranhado da vegetação que dificultava a penetração e a exuberância da floresta, denominaram a região de Mato Grosso.

A movimentação da fronteira humana terminou por fixar limites geográficos, pois a ocupação desses territórios deu garantia de sua posse a Portugal. Como resultado, as fronteiras portuguesa e espanhola terminaram por se encostar na região do rio Guaporé, que se avizinhava com o Vice-reino do Peru, próximo a Santa Cruz de la Sierra, capital de Chiquitos. A Coroa portuguesa, considerando a distância das minas descobertas no extremo Oeste da Capitania de São Paulo, resolveu criar uma nova: a de Mato Grosso, através da Carta Régia de 9 de março de 1748, nomeando, para governá-la, um nobre lusitano, D. Antônio Rolim de Moura.

Trecho da “Carta Patente” nomeando Dom António Rolim de Moura como capitão-general de Mato Grosso

Dom João V, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar em África, Senhor de Guiné e da conquista, navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e índia, faço saber aos que esta minha Carta Patente virem, que tendo consideração às qualidades, merecimentos e serviços que concorrem na pessoa de D. António Rolim de Moura, e a que dará inteira satisfação a tudo o que lhe for encarregado do meu serviço, conforme a confiança que dele faço; hei por bem de nomear como pela presente nomeio no cargo de governador e capitão-general da Capitania de Mato Grosso, por tempo de três anos, e o mais enquanto lhe não mandar sucessor, com o qual haverá o soldo de doze mil cruzados cada ano, pagos na forma das minhas ordens, e com o mesmo cargo gozará de todas as honras, poderes, mando, jurisdição e alçada que têm de que usam os governadores do Rio de Janeiro e do mais que por minhas ordens e instruções lhe for concedido, com subordinação somente ao vice-rei e capitão-general de mar e terra do Estado do Brasil, como o tem os governadores dele [...].

Fonte: Carta... (1988)

Antes de partir para o Brasil, o primeiro governador da Capitania de Mato Grosso recebeu, das mãos da rainha Mariana da Áustria, esposa do adoentado rei português, D. João V, uma série de instruções, que lhe serviram de orientação no encaminhamento das questões regionais. Constituída de 26 artigos, podem ser destacados os seguintes pontos:

  • Fundar a capital da nova Capitania no vale do rio Guaporé.
  • Fundar uma aldeia jesuítica para os índios mansos.
  • Incentivar a criação de gado (vacum e cavalar).
  • Conceder privilégios e isenções de impostos àqueles que desejassem residir nas imediações da nova capital.
  • Construir, na nova capital, residência para os capitães-generais.
  • Agir com muita diplomacia nas questões de fronteira, evitando entrar em confronto aberto com os espanhóis.
  • Tomar cuidado com os ataques dos índios bravios, especialmente os Paiaguá e Guaicuru.
  • Fornecer informações mais precisas sobre a capitania recém-criada, seus limites e potencialidades.
  • Proibir a extração e comercialização de diamantes.
  • Criar uma Companhia de Ordenanças.
  • Incentivar a pesca no rio Guaporé.
  • Informar sobre a viabilidade de comunicação fluvial com a Capitania do Grão-Pará.

Fonte: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: Da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002.

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