sábado, 15 de setembro de 2012

Confira os comentários da 4ª ONHB (2ª FASE)



2ª Fase comentada

 

Nesta fase, prosseguimos o trabalho com diferentes documentos e temas em história do Brasil. Estudamos juntos alguns assuntos menos conhecidos, como o significado social da moda ou a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial; mas também convidamos a pensar em temas tradicionais a partir de novas abordagens. A tarefa lidou um aspecto fundamental do ofício do historiador: as fontes de pesquisa e as temporalidades que as definem. Em outras palavras, observar as diferenças entre o período de produção de um documento e a data a que ele se refere, pois muitas vezes os textos falam de épocas e acontecimentos distantes no tempo, sendo que este “deslocamento” também interessa muito ao historiador.

 11ª questão

O domínio das roupas
trecho de artigo de revista
Documento da 2ª Fase
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“No dia 7 de março de 1808, o Rio de Janeiro parou para ver a chegada da Corte portuguesa. O desembarque da nobreza na América impressionou moradores da Colônia, que viam nas roupas e nos ornamentos dos recém-chegados um luxo inacessível. No Antigo Regime, nem todo mundo podia vestir o que quisesse (…)

(…)

Em Portugal e no Brasil, ainda permaneciam em vigor as leis suntuárias, espécie de código que regulava o luxo e impunha limitações a certas roupas, tecidos e cores. Era proibido às pessoas comuns usar bordados de ouro e prata, e tecidos de seda também eram restritos. (…)
O costume das mercês régias – graças concedidas pelo rei a seus vassalos – ainda continuava firme, determinando o uso de algumas roupas e insígnias. Os uniformes, por exemplo, eram usados por quem trabalhava na administração do Estado ou da Casa Real. Havia as “fardas grandes” para cerimônias e as “fardas pequenas” para o dia a dia. Na maioria das vezes, eram casacas bordadas, calções e meias de seda nas cores azul, branco e vermelho.

Os magistrados trajavam becas negras – as longas para o Judiciário e as curtas para os funcionários que cuidavam das finanças. Quem não tinha direito a uniforme – professores, pequenos negociantes, artesãos e artistas – era obrigado a trajar diante do rei casaca preta, colete branco, calções e sapatos pretos acompanhados de meias provavelmente brancas. As insígnias também indicavam a posição social de quem as usava. Havia mantos, faixas e medalhas das ordens militares (…) e das ordens criadas por D. João VI (…) As comendas dessas ordens eram concedidas às pessoas que prestavam serviços ao rei, e eram ostentadas com muito orgulho.

Uma vez instalada no Brasil, a monarquia abusou da pompa como forma de se afirmar, tentando afastar as ameaças que vinham dos ideais da Revolução Francesa (…) e o avanço do liberalismo. Por isso, os nobres se cercavam de luxo nas festas. Não eram ocasiões apenas para divertimento, mas, principalmente, para a apresentação à sociedade, como forma de alcançar distinção, prestígio e reconhecimento.
“O luxo das mulheres é indescritível”, contou o viajante alemão Theodor von Leithold

(1771-1826). “Jamais encontrei reunidas tantas pedras preciosas e pérolas de extraordinária beleza quanto nos beija-mãos de gala e no teatro (…). Seguem o gosto francês, ousadamente decotadas. Os vestidos são bordados a ouro e prata. Sobre a cabeça colocam quatro ou cinco plumas francesas, de dois pés de comprimento (…) e sobre a fronte, como em torno do pescoço e nos braços, diademas incrustados de brilhantes e pérolas de excepcional valor”.

(…)

Durante a permanência da Corte no Brasil, até 1821, o sistema político tradicional, representado pela monarquia, coexistiu com elementos modernos – as ideias liberais – na política e também no traje. Assim, permaneceu em voga a norma de que todos deveriam trajar de acordo com seu lugar na hierarquia social e com seus cargos e distinções. Da mesma forma, o uso de uniformes e insígnias só podia ser modificado com o crivo do rei, pois era regulado pela tradição. Ao mesmo tempo, a moda passou a mudar com mais rapidez e houve certa liberdade no vestir, dependendo somente das possibilidades financeiras do comprador.

A chegada da Corte ao Brasil também ampliou o comércio de roupas por causa da abertura dos portos às nações amigas. (…)

Os comerciantes da Inglaterra (…) não anunciavam apenas mercadorias inglesas, mas também as trazidas da França. Eram vendidos chapéus, plumas, xales, lenços, luvas, relógios, leques, vestidos e sapatos, entre outras peças. Casas comerciais especializadas em vender produtos de moda ainda não existiam no Brasil na época em que a Corte esteve por aqui. Elas só foram criadas na segunda metade do século XIX.
Nas lojas do início dos Oitocentos, era possível encontrar qualquer tipo de mercadoria, como alimentos, livros, móveis, objetos de decoração e até mesmo armas. Os anúncios desses comerciantes procuravam atrair os clientes afirmando serem produtos “de último gosto”, “de última moda” ou “de gosto mais moderno”.

Após 1815, o comércio da moda deixou de ser feito apenas por comerciantes. Desembarcaram no Brasil muitos modistas, alfaiates e cabeleireiros franceses que também ofereciam seus serviços nas páginas da Gazeta do Rio de Janeiro. A presença desses profissionais possibilitou a instalação de um mercado de moda na Corte do Rio de Janeiro, e seu desenvolvimento se fará sentir por todo o século XIX.”



Sobre este documento

Título
O domínio das roupas
Tipo de documento
trecho de artigo de revista
Palavras-chave
cultura materialhistória da vestimentacorte portuguesa
Origem
Camila Borges Silva. “O domínio das Roupas”. Revista de História da Biblioteca Nacional, 06/07/2011. Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/o-dominio-das-roupas

Créditos
Camila Borges Silva.




Alternativas

A. O luxo trazido pela Família Real Portuguesa foi utilizado em benefício da política, na medida em que reafirmava o poder da monarquia em contraposição aos ideais liberais e de Igualdade, Liberdade e Fraternidade.
B. O vestuário, ao longo da história, pode funcionar como um espaço de demarcação das distinções sociais, permitindo reconhecer a hierarquização da sociedade.
C. Com a abertura dos portos em 1810 e a Queda de Napoleão em 1815, houve uma dinamização do comércio de moda e a ampliação dos usos de vestuário e acessórios por parte da população, além da implantação de novos ofícios e lojas.
D. Com a chegada da Família Real ao Brasil o luxo da monarquia europeia do Antigo Regime foi transportado pelo Atlântico, mas ficou restrito aos nobres portugueses o direito de fazer uso de roupas e acessórios luxuosos.



Comentário

Em seu texto Camila Borges Silva demonstra o impacto da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil e as mudanças ocorridas na sociedade a partir de então. Para isso sai do estudo dos elementos clássicos e observa essa sociedade a partir de seu vestuário. Assim como os nobres a cultura e a moda europeia chegam ao Brasil, uma sociedade matizada pelas diferenças hierárquicas entre os indivíduos, nesse universo a moda acabava por exteriorizar a distinção de classes e principalmente ostentar o poder da monarquia ante as novas ideias impostas pela Revolução Francesa e o Liberalismo. Segundo a autora, a política e a moda caminhavam conjuntamente, assim acabavam por refletir os mesmos processos de manutenção e de mudança, um exemplo disso é a convivência de um sistema político tradicional com ideais liberais no campo político ou a manutenção de restrições no modo de vestir impostas a várias camadas sociais com uma maior apropriação da moda vinda da Europa – principalmente a francesa – por diversas camadas sociais, impulsionadas pelo grande volume de importações propiciado pela abertura dos portos e pela dinamização do comércio.




12ª questão
 
Geographia política
charge



Documentos relacionados

Para saber mais, veja estes documentos abaixo:
Geographia política
charge
humorformação do território nacional

Sibéria brasileira
artigo de revista


Observe a charge e escolha a opção mais pertinente:


Alternativas

A. Acre e Sibéria são entendidos como vazios, isolados e distantes e, por isso, foram considerados locais adequados para receber revoltosos degredados.
B. A anexação da região do Acre ao Brasil foi fruto da assinatura de um acordo diplomático negociado pelo Barão do Rio Branco - o Tratado de Petrópolis - depois de um processo de ocupação militar brasileira e do fim da Revolução Acreana.
C. A comparação entre a Sibéria e o Acre faz referência à difícil conquista desses territórios, visto que ambos pertenciam a outras nações e foram incorporados através de longas guerras, no final do século XIX.
D. A associação construída pela charge entre o Acre e a Sibéria deve-se ao fato dos dois territórios apresentarem baixo índice demográfico e dificuldade de acesso.




Comentário

O território do Acre foi anexado ao Brasil após a assinatura de um acordo diplomático, o Tratado de Petrópolis, negociado por José Maria da Silva Paranhos Jr, o Barão do Rio Branco – o Tratado de Petrópolis – depois de um processo de ocupação militar brasileira e do fim da Revolução Acreana. A associação construída pela charge entre o Acre e a Sibéria deve-se ao fato de os dois territórios apresentarem baixo índice demográfico e dificuldade de acesso, fatores que levaram à utilização de ambos como espaço para enviar degredados isso está indicado no próprio título da charge.


 13ª Questão



Relação do português anônimo, 1500
relato de viajante
Documento da 2ª Fase

Capítulo LXIII
Onde o rei Manoel, em pessoa, entregou a bandeira real ao capitão

No ano de 1500, o Sereníssimo rei de Portugal chamado Dom Manoel mandou às partes da Índia uma armada sua, de naus e navios, a qual tinha Pedro Álvares Cabral, fidalgo, por capitão geral (…) Dessas 12 naus, ordenou que dez descarregassem em Calicut, e que as outras duas [fossem] à Arábia, para irem a um lugar chamado Sofala, porque queriam contratar mercadorias no dito lugar, o qual lugar de Sofala acharam estar no caminho de Calicut. (…)
E aos oito do mês de março do dito milésimo ficaram prontos. (…)
Aos 14 do dito mês, passou a dita armada pela ilha de Canária.
Aos 22, passou pela ilha de Cabo Verde.
Aos 23, desgarrou uma nau da dita armada, de modo que dela nunca mais se soube notícia até o presente, nem se pôde saber.

Capitulo LXIV
Como as naus correram com a tormenta

Aos 24 dias do mês de abril (…) a dita armada houve vista de terra, de que houve grande prazer. E chegaram à terra para ver que terra era, a qual terra acharam muito abundante de árvores e gentes que por ali andavam, pela costa do mar. Lançaram ferro na foz de um pequeno rio. E depois de lançadas as ditas âncoras, o capitão mandou baixar um batel ao mar, pelo qual mandou ver que gentes eram aquelas. E acharam que eram gentes de cor parda, entre branco e preto, bem dispostas, com os cabelos corredios; andam nus, como nasceram, sem nenhuma vergonha. Cada um deles levava seu arco com flechas, como homens que estavam em defesa do dito rio.
Na dita armada não havia ninguém que entendesse sua língua (…) E um dos nossos fiéis foi até onde esses tais homens estavam e agarraram dois deles e os levaram ao capitão para saber que gente era. E como foi dito, não se entenderam, nem por fala nem por gestos. E aquela noite o capitão os reteve consigo.
No dia seguinte, mandou-os vestir com uma camisa e uma roupa e [pôr] um barrete vermelho – ficaram muito contentes com o vestuário e maravilhados com as coisas que lhes mostraram. Depois, mandou-os colocar em terra.

Capítulo LXV
Raíz de que fazem o pão e outros costumes

Naquele mesmo dia (…) o capitão determinou ouvir missa. Mandou armar uma tenda naquele espaço, onde ordenou erguer um altar. Todos aqueles da dita armada foram ouvir missa e pregação. Ali muitos homens daqueles se juntaram, bailando e cantando com seus cornos. Logo que a missa foi dita, todos foram para as suas naus. E aqueles homens da terra entraram no mar, até [dar água] debaixo dos braços, cantando e divertindo-se. Depois de o capitão ter jantado, a gente da dita armada tornou para terra, tomando recreio e prazer com aqueles homens da terra. E começaram a negociar com os da armada: davam seus arcos e flechas por guizos, folhas de papel e pedaços de pano (…)
O outro dia, o capitão-mor determinou colher água e lenha. Todos aqueles da dita armada foram à terra. E os homens daquele lugar vieram ajudar a pegar água e lenha (…) Negociaram papagaios e uma raiz chamada inhame, que é o pão deles, que comem os árabes; pelas ditas coisas, os da armada lhes davam guizos e folhas de papel. Nesse lugar ficamos cinco ou seis dias.
(…)

Capitulo LXVI
Papagaios na terra recentemente descoberta

Nessa terra não vimos ferro, faltam-lhes também outros metais. Cortam a madeira com pedra. Há muitas aves de várias espécies, especialmente papagaios de muitas cores, entre os quais alguns grandes como galinha, e outros pássaros mui bonitos. Das penas das ditas aves fazem chapéus e barretes, que usam. A terra tem abundantes árvores, muitas águas boas, inhames e algodão. Nesses lugares não vimos nenhum animal.
A terra é grande e não sabemos se é ilha ou terra firme; pela sua grandeza, achamos que seja terra firme e tem muito bom ar (…)
Nesses dias que ali estivemos, o capitão determinou de fazer saber o nosso Santíssimo Rei o achado desta terra e de deixar nela dois homens banidos e condenados à morte, que tínhamos na dita armada para tal fim. E logo o dito capitão despachou um navio que tinham para mantimentos, além das 12 naus sobreditas, o qual navio levou carta ao rei, na qual se continha quanto tínhamos visto e descoberto (…) Como foi dito, deixou os dois homens banidos no dito lugar, os quais começaram a chorar. E os homens daquela terra os confortavam e mostravam ter piedade deles.
(…)

Glossário
Sofala: rica cidade comercial, perto da África Oriental, na atual região de Moçambique, onde era comerciado o ouro vindo dos antigos reinos de Zimbábue e Monomopata, trazido do interior pelos árabes, da qual Vasco da Gama, em 1498, tivera notícias, mas onde não aportara, para lá tentar negociar ouro.



Sobre este documento

Título
Relação do português anônimo, 1500
Tipo de documento
relato de viajante
Palavras-chave
relato de viajantegrandes navegaçõesdescobrimento
Origem
Janaina Amado; Luis Carlos Figueiredo. Brasil 1500. Quarenta documentos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001, p.131-141.

Créditos
Janaina Amado; Luis Carlos Figueiredo.



Escolha a alternativa mais pertinente:



Alternativas

A. A descrição do encontro dos portugueses com os nativos da terra é marcado pelas trocas culturais conflituosas e violentas, da mesma forma que é descrita na Carta de Pero Vaz de Caminha.
B. Ao mesmo tempo em que cada nova terra encontrada aumentava o território e o poder do rei, a ausência de metais preciosos ou de outros produtos comercialmente valorizados, motivava a busca por novas possessões.
C. O banimento ou degredo, além de significar exílio, desterramento, pode ser entendido como um instrumento utilizado pela Coroa não só para punir os condenados, mas para povoar o território.
D. O documento situa e descreve o descobrimento do Brasil no conjunto de toda viagem empreendida por Cabral, a qual tinha como objetivo principal chegar à Índia, para ali consolidar a primazia do comércio português.




Comentário

A Relação do Português Anônimo foi composta após o retorno da armada de Pedro Álvares Cabral da Índia, e não quando esta ainda se encontrava em terra americana. É um documento que relata a viagem desde Lisboa até a terra que seria chamada mais tarde de Brasil e a permanência dos membros da esquadra nessa terra. A relação descreve o empreendimento das conquistas coloniais e coloca o descobrimento da América portuguesa dentro deste contexto.

Descreve, ainda, o contato com as populações nativas, as trocas entre portugueses e nativos vai ao encontro da descrição obtida na Carta de Pero Vaz de Caminha, em que o contato se dá sem a narração de conflitos marcados por violência.

Pode-se dizer que a Relação do Português Anônimo, relativiza o descobrimento da terra americana, pois transmite uma noticia alvissareira – cada nova terra encontrada aumentava o território, o poder do rei e a possibilidade de enriquecimento dos mercadores e do governo de Portugal, mas não o de uma notícia espetacular, pois no Brasil não foram encontrados sinais de metais preciosos ou de outros produtos comercialmente valorizados, nem a existência de atividades mercantis.

Por haver sido escrita após o termino da viagem à Índia (diferentemente da carta de Caminha, redigida quando a esquadra se encontrava no Brasil) a relação do piloto Anônimo é o único documento coevo a descrever a cena dos dois degredados abandonados em terra pelos portugueses e consolados pelos índios. Trata-se de uma imagem forte, rica de conteúdo simbólico, recriada depois em prosa, pintura, etc.



14ª Questão




A Primeira Guerra Mundial

trecho de livro acadêmico
Documento da 2ª Fase

“Quando, em abril de 1917, entraram no conflito os Estados Unidos, país com o qual o Brasil tentava estabelecer uma aliança especial desde anos antes, as pressões internas para a entrada na guerra cresceram. O afundamento de vários navios mercantes brasileiros na zona de exclusão criada pelos submarinos alemães nas águas próximas à Europa apenas piorou a situação. Multidões atacaram firmas comerciais alemãs em várias cidades brasileiras (…) Em 26/10/1917, finalmente, o Brasil declarou guerra à Alemanha. (…) As forças armadas do Brasil eram, de fato, extremamente pequenas e pouco eficientes (…) [Eram] uma força auxiliar para manter a ordem interna, especialmente para o controle de oligarquias dissidentes dos Estados e para sufocar revoltas populares, como a de Canudos na Bahia e do Contestado no Sul (…). [Q]uando da declaração de guerra, o Exército brasileiro ainda era muito pequeno, mal-equipado e pouco treinado. Em 1917 havia apenas trinta e quatro mil homens nas suas fileiras, alojados em quartéis precários, com armamento antigo e em quantidade insuficiente. (…) A Alemanha dispunha, em 1917, de quinze mil metralhadoras, contra apenas cem dos militares brasileiros.”



Sobre este documento

Título
A Primeira Guerra Mundial
Tipo de documento
trecho de livro acadêmico
Palavras-chave
história militar I Guerra Mundial história contemporânea
Origem
João Fábio Bertonha. A Primeira Guerra Mundial – o conflito que mudou o mundo (1914-1918). Maringá. Editora da Universidade Estadual de Maringá, 2011, p. 103-106.

Créditos
João Fábio Bertonha.



Escolha a alternativa mais pertinente:


Alternativas

A. A crescente animosidade contra os alemães que viviam no Brasil e a desigualdade de forças entre o Exército Brasileiro e o Exército Alemão no contexto da Primeira Guerra Mundial são ressaltadas no texto.
B. A Primeira Grande Guerra atingiu o Brasil de diferentes maneiras, como por exemplo, pela crise da economia agroexportadora de café e pelo acirramento do sentimento de nacionalismo.
C. O mau estado das tropas e das munições e as condições precárias da frota naval da Marinha do Brasil trouxeram a morte a centenas de marinheiros brasileiros no confronto direto com os alemães.
D. A entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial levou à adoção de medidas contra a comunidade alemã que aqui vivia como, por exemplo, o fechamento de escolas alemãs no sul do país.




Comentário

A participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial é um episódio menos conhecido do que sua efetiva participação na Segunda Guerra Mundial. Com um exército mal-equipado, a participação do Brasil foi limitada ao envio de oficiais médicos e militares para atuar junto aos Aliados e o envio da Divisão Naval de Operações de Guerra, cujos marinheiros foram vítimas de um surto de Gripe Espanhola a bordo e não de combates. Aliás, os navios brasileiros chegaram a Gibraltar em 10/11/1918, um dia antes do fim da Guerra. Internamente, porém, a situação foi outra. A crise da economia exportadora perante a impossibilidade de os países em guerra continuarem comprando o café originou um surto industrial e o crescimento do número de operários. As colônias de imigrantes alemães e austríacos sofreram diversas hostilidades, como a proibição do ensino em alemão em escolas; e o nacionalismo entrou definitivamente na agenda nacional, com Ligas Organizadas em defesa do serviço militar obrigatório, dos “Tiros de Guerra” e de uma educação cívica.




 15ª questão


Observe o quadro da Batalha dos Guararapes e escolha a opção mais pertinente:


Batalha dos Guararapes

pintura
Documento da 2ª Fase


 


Sobre este documento


Título
Batalha dos Guararapes
Tipo de documento
pintura
Técnica
óleo sobre tela
Dimensões
1,22x2,17 m
Palavras-chave
formação do território nacionalPernambucoinvasão holandesa
Origem
Batalha dos Guararapes. Autor desconhecido. Óleo sobre tela, 1758. Medidas: 1, 22 × 2, 17m. Museu Histórico Nacional. Disponível em: http://www.museuhistoriconacional.com.br

Créditos
Autor desconhecido.
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Alternativas

A. A presença do elemento católico do lado luso-brasileiro, como o frade que aparece carregando um crucifixo, impõe uma dimensão religiosa ao acontecimento e sugere um embate contra o calvinismo dos holandeses.
B. Como fica evidente na pintura, não existia a presença de negros e indígenas na frente de batalha, o que demonstra tratar-se de uma batalha europeia travada em território americano.
C. A religiosidade presente na pintura marca, por um lado, as diferenças de credo das tropas envolvidas (os luso-brasileiro de tradição católica e os holandeses calvinistas), e por outro, a função social do quadro, já que se trata de um ex-voto.
D. Trata do confronto entre tropas holandesas e tropas locais luso-brasileiras no episódio que marcou a gradual retomada do domínio do Nordeste açucareiro pelos portugueses na capitania de Pernambuco.



Comentário

A pintura trata do confronto entre tropas holandesas contra tropas locais, na capitania de Pernambuco. Realizada mais de um século após o acontecimento retratado, a obra registra a importante participação de índios e negros. As duas batalhas de Guararapes, em 1648 e 1649, foram centrais para a gradual restauração do domínio do Nordeste açucareiro pelos portugueses. A presença do elemento católico do lado luso-brasileiro, como o frade que aparece carregando um crucifixo, impõe, por um lado, uma dimensão religiosa ao acontecimento e sugere um embate contra o calvinismo dos holandeses. Por outro lado, a presença da Virgem dos Prazeres, envolta em nuvens com o menino Jesus, dá indícios da função social e religiosa da pintura, já que se trata de um ex-voto.



16ª Questão


História da Indústria e do Trabalho no Brasil

trecho de livro acadêmico
Documento da 2ª Fase

“Durante os três primeiros séculos da nossa história, as atividades industriais (aqui entendidas no sentido genérico do termo) reduziram-se, praticamente, à fabricação do açúcar e à mineração. As técnicas utilizadas em ambos os casos eram bastante rudimentares, havendo pouca diferença entre o processo de fabricação do açúcar e da aguardente no século XVI e no início do século XIX. A produção de ouro já era bastante reduzida em 1808, entrando a mineração em decadência cada vez mais acentuada, apesar da contratação de técnicos e engenheiros europeus e de outras medidas adotadas por D. João. Durante esse longo período colonial, uma série de outras atividades industriais – artesanais e manufatureiras – foram aqui desenvolvidas, porém todas elas com um caráter de atividade acessória, ocupando um papel secundário no conjunto da economia.

(…)

A construção naval foi a atividade industrial que reuniu, junto com os engenhos, o maior número de trabalhadores por unidade de produção durante a colônia. Nela, a divisão do trabalho era bastante acentuada e exigia-se, para certas tarefas, uma especialização muito grande. No início, eram serviços de assistência aos navios em trânsito, quando necessitados de reparos. Logo a seguir, ainda no século XVI, pequenas embarcações para o desenvolvimento da navegação de cabotagem começaram a ser construídas. O estaleiro mais importante era o da Bahia, por ser a capital da colônia e por estar Salvador na rota dos navios da Carreira da índia. No século XVIII, foi relativamente grande o número de navios ali construídos, inclusive galeões para a travessia oceânica, naus, fragatas, corvetas e escunas. Havia estaleiros menores em Belém, São Luís, Recife, Ilhéus, Rio de Janeiro e São Vicente. O de Salvador apresentava-se como um ‘complexo de edifícios ocupando largo espaço da ribeira e comportando fundições, carpintaria, armazéns, casa de velas, oficinas de pintores, alfaiates, etc. Assemelhar-se-ia a uma colmeia…’ O Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro também passou a construir embarcações de grande porte a partir de 1764. Essa indústria de construção naval estimulou o aparecimento de várias outras manifestações manufatureiras nos séculos XVII e XVIII: confecção de cordas, velas, cabos, estopas e óleos.”



Sobre este documento

Título
História da Indústria e do Trabalho no Brasil
Tipo de documento
trecho de livro acadêmico
Palavras-chave
história da industrializaçãohistória do trabalhoBrasil colonial
Origem
Francisco Foot Hardman e Victor Leonardi. História da Indústria e do Trabalho no Brasil. São Paulo, Global Editora, 1982, p. 23-25.

Créditos
Francisco Foot Hardman e Victor Leonardi.

Sobre a Industrialização brasileira no período colonial, assinale a questão mais pertinente:



Alternativas

A. A indústria manufatureira desenvolvida na América Portuguesa foi drasticamente afetada pelo alvará de D. Maria I, de 1785, que proibia a indústria na colônia, tendo como justificativa a escassez de mão-de-obra para a agricultura.
B. Havia poucas manufaturas, a maioria de caráter doméstico e com baixa concentração de trabalhadores, com exceção da indústria naval, que teve em Salvador uma organização industrial com divisão de tarefas.
C. Salvador como centro do Governo Geral da colônia portuguesa e principal porto de parada na América no caminho para as Índias foi o centro do desenvolvimento da indústria naval e de outras manufaturas ligadas à construção e manutenção dos navios.
D. A indústria manufatureira começou a se desenvolver de modo contínuo a partir de meados do século XVIII e progrediu de modo acentuado com a chegada dos imigrantes na segunda metade do século XIX.




Comentário

No período colonial havia poucas manufaturas de tipos artesanais e manufatureiras, a maioria de caráter doméstico e com baixa concentração de trabalhadores, com exceção da indústria naval, que teve em Salvador uma organização industrial segmentada, que pode crescer pelo significado e importância das embarcações no contexto, sem os entraves criados pela metrópole. A indústria manufatureira brasileira foi drasticamente afetada pelo alvará de D. Maria I, de 1785, que proibia e extinguia as indústrias e manufaturas na colônia, com a justificativa de garantir mão-de-obra para a agricultura.


17ª Questão

 



Serro Frio
pintura
Documento da 2ª Fase

Sobre este documento

Título
Serro Frio
Tipo de documento
pintura
Técnica
aquarela
Palavras-chave
Minas Geraishistória da escravidãomineração
Origem
Carlos Julião. Serro Frio, aquarela, séc. XVIII. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. http://bndigital.bn.br/redememoria/images/Zoomify/iconc1_2_8i42.htm

Créditos
Carlos Julião.


Observe a imagem e escolha a alternativa mais pertinente:



Alternativas

A. É possível notar que a fiscalização e a cobrança do “quinto” sobre a produção de diamantes se dava no momento da extração, forma que evitava o contrabando e a evasão.
B. O alto valor das pedras e os lucros gerados pelo comércio de diamantes explica o rígido controle e intensa vigilância sobre o trabalho dos escravos, o que é representado de forma idealizada na imagem.
C. Descobertas após o primeiro impulso da exploração aurífera, as jazidas de diamante receberam uma organização diferenciada pela Coroa Portuguesa, que concedia pequenos trechos de terras a serem explorados pelos donatários.
D. A imagem representa um método organizado de extração de diamantes, na região do Serro das Minas Gerais em meados do séc. XVIII.




Comentário

A imagem de Carlos Julião insere-se no contexto da exploração aurífera e diamantífera no Brasil Colônia, representando um método de extração de diamantes na região do Serro das Minas Gerais em meados do séc. XVIII. Descobertas após o primeiro impulso da exploração aurífera, as jazidas de diamante receberam uma organização diferenciada pela Coroa Portuguesa, que concedia pequenos trechos de terras (ruas) a serem explorados pelos donatários. O alto valor das pedras e os lucros gerados pelo comércio de diamantes explica o rígido controle e a constante vigilância sobre o trabalho dos escravos, que na imagem é representado de forma idealizada, devido a determinadas condições de trabalho como a estrutura física montada para a exploração. Entretanto, não se pode afirmar que a fiscalização e a cobrança do “quinto” (imposto) sobre a produção de diamantes se dava diretamente no momento da extração, sendo na verdade cobrado em locais específicos tais como as casas de fundição; ainda que o controle sobre as jazidas de diamantes fosse rígido, o contrabando e a contravenção ainda continuavam existindo.

18ª Questão


Observe a imagem, leia o fragmento do Cordel “Jesuíno Brilhante”, de Gonçalo Pereira da Silva, e assinale a alternativa mais pertinente:
 

Capa do Jesuíno Brilhante
gravura
visualizar o documento completo
A vida de Jesuíno apresenta-se humana depois que saiu perfeita ao cabo de uma semana do prodigioso bico da pena gonçaliana. (...)
Cordel: Jesuíno Brilhante, 2009
trecho de texto literário
visualizar o documento completo


Cordel: Jesuíno Brilhante, 2009

trecho de texto literário
Documento da 2ª Fase
Ver todos os documentos
JESUÍNO BRILHANTE.
Braço avançado da justiça.

A vida de Jesuíno
apresenta-se humana
depois que saiu perfeita
ao cabo de uma semana
do prodigioso bico
da pena gonçaliana.

(…)

Ao longo da narrativa
por natureza empolgante
em razão do nosso estilo
envolvente e fascinante
veremos parte da vida
de Jesuíno Brilhante.

(…)

No sítio Tuiuiú
de Patu bem afastado
então Vila Potiguá
foi nascido e batizado
o menino Jesuíno
Alves de Melo Calado.

Cresceu sempre demonstrando
ter apurado juízo,
empunhando a baladeira
tinha arremesso preciso
e no rosto iluminado
um permanente sorriso.

(…)

Tornou-se assim Jesuíno
por todos muito querido
e em todo o Rio Grande
do Norte reconhecido
e nos locais que chegava
festivamente aplaudido.

Famoso por proteger
famílias abandonadas,
pobres velhos indefesos,
viúvas desamparadas,
crianças desprotegidas
e donzelas ultrajadas.

(…)

Assim Jesuíno tinha
de todos a simpatia,
pregava a fraternidade
distribuía alegria
trocava abraços fraternos
em toda parte que ia.

(…)

O cangaceiro romântico
foi-lhe nome apropriado
mesmo tendo sido apenas
mais um grande predicado
dos muitos que conquistou
o nosso biografado.

(…)

Vamos porém aos motivos
que fez esse brasileiro
tão solidário com o mundo
tão fraterno e tão ordeiro
abraçar a perigosa
carreira de cangaceiro.

Raimundo Nonato informa
que houve uma diferença
dos Limões com Jesuíno
com muita troca de ofensa
que acabou finalmente
numa grande desavença.

A família dos Limões
não era de tolerar
insulto de rico ou pobre
muito menos de levar
desaforo ou ódio para
o aconchego do lar.

Conhecidos como negros
por todo o grande sertão
os Limões eram tratados
com tal discriminação
é tanto que o repentista
chamavam “Preto Limão”.

Já os Limões como aquele
autor de muitos martelos
subestimavam os Brilhantes
chamando-os de amarelos
desclassificação que
provocou muitos duelos.

O furto de uma cabra
que pertencia aos Brilhantes
alimentou mais o ódio
que já existia antes
e os confrontos mortais
também muito mais constantes.

Jesuíno e os irmãos
empreenderam a procura
ao caprino que sumiu
e o acharam em certa altura
na panela dos Limões
já na primeira fervura.

Depois de uma enxurrada
de palavrões nordestinos
deu Jesuíno uma surra
oportuna nos meninos
e a recomendação
de não roubar seus caprinos.

Não houve perdas humanas,
não calou nenhuma voz,
nem Jesuíno Brilhante
se transformou num algoz
mas o ódio entre as famílias
ficou muito mais feroz.

E Jesuíno Brilhante
continuou seu destino
de protetor da pobreza
e em qualquer desatino
causado por valentões
davam parte a Jesuíno.

(…)

Jesuíno era de fato
um líder por excelência
e o grupo lhe rendia
a mais cega obediência
pelas provas demonstradas
de soberba competência.

(…)

O grupo de Jesuíno
sou muito franco em dizer
era pequeno mas certo
do que devia fazer
daqueles que matam ou morrem
pois nada tem a perder.

(…)

No entanto o episódio
de fato surpreendente
ocorreu quando Brilhante
foi propositadamente
soltar em Pombal um preso
que ele achava inocente.

(…)

Num silêncio conferido
ao ardiloso felino
Brilhante entrou na cadeia
e de modo repentino
chocou-se com um sujeito
supostamente assassino.

Numa luta suicida
mas sem emissão de voz
os dois homens se agarraram
numa decisão feroz
os dois sem arma nenhuma
escravizada no cós.

Brilhante em dado momento
pensou: – Decretei meu fim
este homem ao que parece
é superior a mim
nem eu que sou ambidestro
não sou tão perfeito assim.

Continuando na mesma
linha de raciocínio: – Golpes certeiros assim
só davam finado Ermínio,
o meu querido irmão Lucas
e o falecido Virgínio.

Em plena luta ele teve
a brilhante inspiração
de gritar: – Caro irmão Lucas
e na mesma ocasião
viu que o lutador feroz
era Lucas seu irmão.

Os dois emocionados
depois de um longo abraço
Jesuíno disse a Lucas
faça do jeito que eu faço
lute da forma que eu luto
mas não entre no cangaço.

(…)

Jesuíno foi cumprir
espiritual destino
porém até nossos dias
todo o sertão nordestino
tem grata recordação
do seu herói Jesuíno.

Glossário
Baladeira: Pequena forquilha de madeira, com elástico, para atirar pedras; estilingue; atiradeira.
Algoz: Carrasco, verdugo. Pessoa desumana, cruel. Torturador.

AULETE, Caldas. Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa [Portugal]: Parceria Antonio Maria Pereira, 1925, Disponível em: http://www.auletedigital.com.br/



Sobre este documento

Título
Cordel: Jesuíno Brilhante, 2009
Tipo de documento
trecho de texto literário
Palavras-chave
cultura popularliteratura
Origem
Jesuíno Brilhante. Site da Academia Brasileira da Literatura de Cordel. Texto disponível em: http://www.ablc.com.br/popups/cordeldavez/cordeldavez047.htm

Créditos
Jesuíno Brilhante



Alternativas

A. O cangaceiro Jesuíno Brilhante (1844-1879) é descrito como uma figura ambígua do Rio Grande do Norte desde o subtítulo “Braço avançado da justiça”.
B. A biografia de Jesuíno Brilhante é apresentada pela imagem e por um texto rimado na forma de estrofes de seis linhas.
C. A literatura de cordel, bastante comum no nordeste, trata de temas regionais e folclóricos e não se aplica ao estudo da diversidade de temas da história do Brasil.
D. Em “Jesuíno Brilhante” é perceptível a oposição entre a justiça formal e a justiça informal, exemplificada pelo ataque à cadeia diante da crença na inocência do preso.




Comentário

A proposta desta questão era apresentar ao aluno a literatura de cordel como um documento para o estudo da história do Brasil. O cordel é um gênero literário popular, escrito frequentemente na forma rimada e seu nome tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para a venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes. Alguns dos poemas são ilustrados com xilogravuras, como em “Jesuíno Brilhante”.

O conteúdo do cordel faz referência a Jesuíno Alves de Melo Calado (1844-1879), potiguar, chefe de cangaço e figura ambígua: de um lado intervia em prol dos humildes em diversas oportunidades, como na grande seca de 1877-1879, atacando comboios de víveres enviados pelo governo imperial, distribuindo-os com famintos e desvalidos dos sertões ermos e esquecidos; de outro lado, indispunha-se com o mandonismo local.


19ª questão



A ditadura civil-militar

trecho de artigo de jornal
Documento da 2ª Fase
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“Tornou-se um lugar comum chamar o regime político existente entre 1964 e 1979 de “ditadura militar”. Trata-se de um exercício de memória, que se mantém graças a diferentes interesses, a hábitos adquiridos e à preguiça intelectual. O problema é que esta memória não contribui para a compreensão da história recente do país e da ditadura em particular.
É inútil esconder a participação de amplos segmentos da população no golpe que instaurou a ditadura, em 1964. É como tapar o sol com a peneira.

As marchas da Família com Deus e pela Liberdade mobilizaram dezenas de milhões de pessoas, de todas as classes sociais, contra o governo João Goulart. A primeira marcha realizou-se em São Paulo, em 19 de março de 1964, reunindo meio milhão de pessoas. Foi convocada em reação ao Comício pelas Reformas que teve lugar uma semana antes, no Rio de Janeiro, com 350 mil pessoas. Depois houve a Marcha da Vitória, para comemorar o triunfo do golpe, no Rio de Janeiro, em 2 de abril. Estiveram ali, no mínimo, a mesma quantidade de pessoas que em São Paulo. Sucederam-se marchas nas capitais dos estados e em cidades menores. Até setembro de 1964, marchou-se sem descanso. (…) Trata-se de um impressionante movimento de massas. (…) É impossível não ver as multidões — civis — que apoiaram a instauração da ditadura.

(…)

Não, não se trata de esclarecer um equívoco. Mas de desvendar uma interessada memória e suas bases de sustentação.

São interessados na memória atual as lideranças e entidades civis que apoiaram a ditadura. Se ela foi “apenas” militar, todas elas passam para o campo das oposições. Desde sempre. Desaparecem os civis que se beneficiaram do regime ditatorial. Os que financiaram a máquina repressiva. Os que celebraram os atos de exceção. O mesmo se pode dizer dos segmentos sociais que, em algum momento, apoiaram a ditadura. E dos que defendem a ideia não demonstrada, mas assumida como verdade, de que a maioria das pessoas sempre fora — e foi — contra a ditadura.
Por essas razões é injusto dizer — outro lugar comum — que o povo não tem memória. Ao contrário, a história atual está saturada de memória. Seletiva e conveniente, como toda memória. No exercício desta absolve-se a sociedade de qualquer tipo de participação nesse triste — e sinistro — processo. Apagam-se as pontes existentes entre a ditadura e os passados próximo e distante, assim como os desdobramentos dela na atual democracia, emblematicamente traduzidos na decisão do Supremo Tribunal Federal em 2010, impedindo a revisão da Lei da Anistia. Varridos para debaixo do tapete os fundamentos sociais e históricos da construção da ditadura.

Enquanto tudo isso prevalecer, a História será uma simples refém da memória, e serão escassas as possibilidades de compreensão das complexas relações entre sociedade e ditadura.”



Sobre este documento

Título
A ditadura civil-militar
Tipo de documento
trecho de artigo de jornal
Palavras-chave
história políticaditaduraBrasil contemporâneo
Origem
Daniel Aarão Reis. A ditadura civil-militar (O Globo, 31/3/2012)

Créditos
Daniel Aarão Reis.


A partir da leitura, pode-se afirmar que o texto:


Alternativas

A. Celebra o insucesso da revisão da Lei de Anistia de 2010, para que estes temas do passado não tragam instabilidade à democracia atual.
B. Defende que a memória é seletiva para ocultar relações e benefícios que setores da sociedade obtiveram com a ditadura.
C. Associa a memória que busca elidir a participação civil na ditadura ao desejo de ocultar as pontes entre o passado recente e o presente
D. Argumenta que a instauração da ditadura militar no Brasil teve apoio civil que se manifestou, por exemplo, por meio de marchas.




Comentário

O autor do texto chama a atenção para o fato de a ditadura militar ter sido uma ditadura civil-militar, no sentido de que era apoiada por grandes parcelas da população. A repressão agiu sobre os opositores, e neste processo houve ambivalências, mas ressalta-se o fato de que, movido por receio do comunismo ou outras razões, a permanência dos militares no poder, sobretudo com as vitórias da Arena nas eleições, apontam para a necessidade de se estudar e compreender melhor este período, inclusive à luz de acontecimentos recentes como supostas “comemorações” em clubes militares do Golpe Militar de 1964, chamado por vezes de “Revolução” (sic). A seletividade da memória, que oculta, por exemplo, os benefícios que setores sociais tiveram com os anos de ditadura, se expressa também no caso da Revisão da Lei da Anistia de 2010, cujo insucesso o autor lamenta.





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