2ª Fase comentada
Nesta fase, prosseguimos o
trabalho com diferentes documentos e temas em história do Brasil. Estudamos
juntos alguns assuntos menos conhecidos, como o significado social da moda ou a
participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial; mas também convidamos a
pensar em temas tradicionais a partir de novas abordagens. A tarefa lidou um
aspecto fundamental do ofício do historiador: as fontes de pesquisa e as
temporalidades que as definem. Em outras palavras, observar as diferenças entre
o período de produção de um documento e a data a que ele se refere, pois muitas
vezes os textos falam de épocas e acontecimentos distantes no tempo, sendo que
este “deslocamento” também interessa muito ao historiador.
11ª questão
O domínio das roupas
trecho de artigo de revista
Documento da 2ª Fase
Ver todos os documentos
“No dia 7 de março de 1808, o Rio de Janeiro parou para ver
a chegada da Corte portuguesa. O desembarque da nobreza na América impressionou
moradores da Colônia, que viam nas roupas e nos ornamentos dos recém-chegados
um luxo inacessível. No Antigo Regime, nem todo mundo podia vestir o que
quisesse (…)
(…)
Em Portugal e no Brasil, ainda permaneciam em vigor as leis
suntuárias, espécie de código que regulava o luxo e impunha limitações a certas
roupas, tecidos e cores. Era proibido às pessoas comuns usar bordados de ouro e
prata, e tecidos de seda também eram restritos. (…)
O costume das mercês régias – graças concedidas pelo rei a
seus vassalos – ainda continuava firme, determinando o uso de algumas roupas e
insígnias. Os uniformes, por exemplo, eram usados por quem trabalhava na
administração do Estado ou da Casa Real. Havia as “fardas grandes” para
cerimônias e as “fardas pequenas” para o dia a dia. Na maioria das vezes, eram
casacas bordadas, calções e meias de seda nas cores azul, branco e vermelho.
Os magistrados trajavam becas negras – as longas para o
Judiciário e as curtas para os funcionários que cuidavam das finanças. Quem não
tinha direito a uniforme – professores, pequenos negociantes, artesãos e
artistas – era obrigado a trajar diante do rei casaca preta, colete branco, calções
e sapatos pretos acompanhados de meias provavelmente brancas. As insígnias
também indicavam a posição social de quem as usava. Havia mantos, faixas e
medalhas das ordens militares (…) e das ordens criadas por D. João VI (…) As
comendas dessas ordens eram concedidas às pessoas que prestavam serviços ao rei,
e eram ostentadas com muito orgulho.
Uma vez instalada no Brasil, a monarquia abusou da pompa
como forma de se afirmar, tentando afastar as ameaças que vinham dos ideais da
Revolução Francesa (…) e o avanço do liberalismo. Por isso, os nobres se
cercavam de luxo nas festas. Não eram ocasiões apenas para divertimento, mas, principalmente,
para a apresentação à sociedade, como forma de alcançar distinção, prestígio e
reconhecimento.
“O luxo das mulheres é indescritível”, contou o viajante
alemão Theodor von Leithold
(1771-1826). “Jamais encontrei reunidas tantas pedras preciosas
e pérolas de extraordinária beleza quanto nos beija-mãos de gala e no teatro (…).
Seguem o gosto francês, ousadamente decotadas. Os vestidos são bordados a ouro
e prata. Sobre a cabeça colocam quatro ou cinco plumas francesas, de dois pés
de comprimento (…) e sobre a fronte, como em torno do pescoço e nos braços, diademas
incrustados de brilhantes e pérolas de excepcional valor”.
(…)
Durante a permanência da Corte no Brasil, até 1821, o
sistema político tradicional, representado pela monarquia, coexistiu com
elementos modernos – as ideias liberais – na política e também no traje. Assim,
permaneceu em voga a norma de que todos deveriam trajar de acordo com seu lugar
na hierarquia social e com seus cargos e distinções. Da mesma forma, o uso de
uniformes e insígnias só podia ser modificado com o crivo do rei, pois era
regulado pela tradição. Ao mesmo tempo, a moda passou a mudar com mais rapidez
e houve certa liberdade no vestir, dependendo somente das possibilidades
financeiras do comprador.
A chegada da Corte ao Brasil também ampliou o comércio de
roupas por causa da abertura dos portos às nações amigas. (…)
Os comerciantes da Inglaterra (…) não anunciavam apenas
mercadorias inglesas, mas também as trazidas da França. Eram vendidos chapéus, plumas,
xales, lenços, luvas, relógios, leques, vestidos e sapatos, entre outras peças.
Casas comerciais especializadas em vender produtos de moda ainda não existiam
no Brasil na época em que a Corte esteve por aqui. Elas só foram criadas na
segunda metade do século XIX.
Nas lojas do início dos Oitocentos, era possível encontrar
qualquer tipo de mercadoria, como alimentos, livros, móveis, objetos de decoração
e até mesmo armas. Os anúncios desses comerciantes procuravam atrair os
clientes afirmando serem produtos “de último gosto”, “de última moda” ou “de
gosto mais moderno”.
Após 1815, o comércio da moda deixou de ser feito apenas por
comerciantes. Desembarcaram no Brasil muitos modistas, alfaiates e
cabeleireiros franceses que também ofereciam seus serviços nas páginas da
Gazeta do Rio de Janeiro. A presença desses profissionais possibilitou a
instalação de um mercado de moda na Corte do Rio de Janeiro, e seu
desenvolvimento se fará sentir por todo o século XIX.”
Sobre este documento
Título
O domínio das roupas
Tipo de documento
trecho de artigo de revista
Palavras-chave
cultura materialhistória da vestimentacorte portuguesa
Origem
Camila Borges Silva. “O domínio das Roupas”. Revista de
História da Biblioteca Nacional, 06/07/2011. Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/o-dominio-das-roupas
Créditos
Camila Borges Silva.
Alternativas
A. O luxo trazido pela Família
Real Portuguesa foi utilizado em benefício da política, na medida em que
reafirmava o poder da monarquia em contraposição aos ideais liberais e de
Igualdade, Liberdade e Fraternidade.
B. O vestuário, ao longo da
história, pode funcionar como um espaço de demarcação das distinções sociais, permitindo
reconhecer a hierarquização da sociedade.
C. Com a abertura dos portos em 1810
e a Queda de Napoleão em 1815, houve uma dinamização do comércio de moda e a
ampliação dos usos de vestuário e acessórios por parte da população, além da
implantação de novos ofícios e lojas.
D. Com a chegada da Família Real
ao Brasil o luxo da monarquia europeia do Antigo Regime foi transportado pelo
Atlântico, mas ficou restrito aos nobres portugueses o direito de fazer uso de
roupas e acessórios luxuosos.
Comentário
Em seu texto Camila Borges Silva
demonstra o impacto da chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil e as
mudanças ocorridas na sociedade a partir de então. Para isso sai do estudo dos
elementos clássicos e observa essa sociedade a partir de seu vestuário. Assim
como os nobres a cultura e a moda europeia chegam ao Brasil, uma sociedade
matizada pelas diferenças hierárquicas entre os indivíduos, nesse universo a
moda acabava por exteriorizar a distinção de classes e principalmente ostentar
o poder da monarquia ante as novas ideias impostas pela Revolução Francesa e o
Liberalismo. Segundo a autora, a política e a moda caminhavam conjuntamente, assim
acabavam por refletir os mesmos processos de manutenção e de mudança, um
exemplo disso é a convivência de um sistema político tradicional com ideais
liberais no campo político ou a manutenção de restrições no modo de vestir
impostas a várias camadas sociais com uma maior apropriação da moda vinda da
Europa – principalmente a francesa – por diversas camadas sociais, impulsionadas
pelo grande volume de importações propiciado pela abertura dos portos e pela
dinamização do comércio.
12ª questão
Geographia política
charge
Documentos relacionados
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documentos abaixo:
Geographia política
charge
humorformação do território
nacional
Sibéria brasileira
artigo de revista
Observe a charge e escolha a
opção mais pertinente:
Alternativas
A. Acre e Sibéria são entendidos
como vazios, isolados e distantes e, por isso, foram considerados locais
adequados para receber revoltosos degredados.
B. A anexação da região do Acre
ao Brasil foi fruto da assinatura de um acordo diplomático negociado pelo Barão
do Rio Branco - o Tratado de Petrópolis - depois de um processo de ocupação
militar brasileira e do fim da Revolução Acreana.
C. A comparação entre a Sibéria e
o Acre faz referência à difícil conquista desses territórios, visto que ambos
pertenciam a outras nações e foram incorporados através de longas guerras, no
final do século XIX.
D. A associação construída pela
charge entre o Acre e a Sibéria deve-se ao fato dos dois territórios
apresentarem baixo índice demográfico e dificuldade de acesso.
Comentário
O território do Acre foi anexado
ao Brasil após a assinatura de um acordo diplomático, o Tratado de Petrópolis, negociado
por José Maria da Silva Paranhos Jr, o Barão do Rio Branco – o Tratado de
Petrópolis – depois de um processo de ocupação militar brasileira e do fim da
Revolução Acreana. A associação construída pela charge entre o Acre e a Sibéria
deve-se ao fato de os dois territórios apresentarem baixo índice demográfico e
dificuldade de acesso, fatores que levaram à utilização de ambos como espaço
para enviar degredados isso está indicado no próprio título da charge.
13ª Questão
Relação do português anônimo, 1500
relato de viajante
Documento da 2ª Fase
Capítulo LXIII
Onde o rei Manoel, em pessoa, entregou
a bandeira real ao capitão
No ano de 1500, o Sereníssimo rei
de Portugal chamado Dom Manoel mandou às partes da Índia uma armada sua, de
naus e navios, a qual tinha Pedro Álvares Cabral, fidalgo, por capitão geral (…)
Dessas 12 naus, ordenou que dez descarregassem em Calicut, e que as outras duas
[fossem] à Arábia, para irem a um lugar chamado Sofala, porque queriam
contratar mercadorias no dito lugar, o qual lugar de Sofala acharam estar no
caminho de Calicut. (…)
E aos oito do mês de março do
dito milésimo ficaram prontos. (…)
Aos 14 do dito mês, passou a dita
armada pela ilha de Canária.
Aos 22, passou pela ilha de Cabo
Verde.
Aos 23, desgarrou uma nau da dita
armada, de modo que dela nunca mais se soube notícia até o presente, nem se
pôde saber.
Capitulo LXIV
Como as naus correram com a
tormenta
Aos 24 dias do mês de abril (…) a
dita armada houve vista de terra, de que houve grande prazer. E chegaram à
terra para ver que terra era, a qual terra acharam muito abundante de árvores e
gentes que por ali andavam, pela costa do mar. Lançaram ferro na foz de um
pequeno rio. E depois de lançadas as ditas âncoras, o capitão mandou baixar um
batel ao mar, pelo qual mandou ver que gentes eram aquelas. E acharam que eram
gentes de cor parda, entre branco e preto, bem dispostas, com os cabelos
corredios; andam nus, como nasceram, sem nenhuma vergonha. Cada um deles levava
seu arco com flechas, como homens que estavam em defesa do dito rio.
Na dita armada não havia ninguém
que entendesse sua língua (…) E um dos nossos fiéis foi até onde esses tais
homens estavam e agarraram dois deles e os levaram ao capitão para saber que
gente era. E como foi dito, não se entenderam, nem por fala nem por gestos. E
aquela noite o capitão os reteve consigo.
No dia seguinte, mandou-os vestir
com uma camisa e uma roupa e [pôr] um barrete vermelho – ficaram muito
contentes com o vestuário e maravilhados com as coisas que lhes mostraram. Depois,
mandou-os colocar em terra.
Capítulo LXV
Raíz de que fazem o pão e outros
costumes
Naquele mesmo dia (…) o capitão
determinou ouvir missa. Mandou armar uma tenda naquele espaço, onde ordenou
erguer um altar. Todos aqueles da dita armada foram ouvir missa e pregação. Ali
muitos homens daqueles se juntaram, bailando e cantando com seus cornos. Logo
que a missa foi dita, todos foram para as suas naus. E aqueles homens da terra
entraram no mar, até [dar água] debaixo dos braços, cantando e divertindo-se. Depois
de o capitão ter jantado, a gente da dita armada tornou para terra, tomando
recreio e prazer com aqueles homens da terra. E começaram a negociar com os da
armada: davam seus arcos e flechas por guizos, folhas de papel e pedaços de
pano (…)
O outro dia, o capitão-mor
determinou colher água e lenha. Todos aqueles da dita armada foram à terra. E
os homens daquele lugar vieram ajudar a pegar água e lenha (…) Negociaram
papagaios e uma raiz chamada inhame, que é o pão deles, que comem os árabes; pelas
ditas coisas, os da armada lhes davam guizos e folhas de papel. Nesse lugar
ficamos cinco ou seis dias.
(…)
Capitulo LXVI
Papagaios na terra recentemente
descoberta
Nessa terra não vimos ferro, faltam-lhes
também outros metais. Cortam a madeira com pedra. Há muitas aves de várias
espécies, especialmente papagaios de muitas cores, entre os quais alguns
grandes como galinha, e outros pássaros mui bonitos. Das penas das ditas aves
fazem chapéus e barretes, que usam. A terra tem abundantes árvores, muitas
águas boas, inhames e algodão. Nesses lugares não vimos nenhum animal.
A terra é grande e não sabemos se
é ilha ou terra firme; pela sua grandeza, achamos que seja terra firme e tem
muito bom ar (…)
Nesses dias que ali estivemos, o
capitão determinou de fazer saber o nosso Santíssimo Rei o achado desta terra e
de deixar nela dois homens banidos e condenados à morte, que tínhamos na dita
armada para tal fim. E logo o dito capitão despachou um navio que tinham para
mantimentos, além das 12 naus sobreditas, o qual navio levou carta ao rei, na
qual se continha quanto tínhamos visto e descoberto (…) Como foi dito, deixou
os dois homens banidos no dito lugar, os quais começaram a chorar. E os homens
daquela terra os confortavam e mostravam ter piedade deles.
(…)
Glossário
Sofala: rica cidade comercial, perto
da África Oriental, na atual região de Moçambique, onde era comerciado o ouro
vindo dos antigos reinos de Zimbábue e Monomopata, trazido do interior pelos
árabes, da qual Vasco da Gama, em 1498, tivera notícias, mas onde não aportara,
para lá tentar negociar ouro.
Sobre este documento
Título
Relação do português anônimo, 1500
Tipo de documento
relato de viajante
Palavras-chave
relato de viajantegrandes
navegaçõesdescobrimento
Origem
Janaina Amado; Luis Carlos
Figueiredo. Brasil 1500. Quarenta documentos. São Paulo: Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, 2001, p.131-141.
Créditos
Janaina Amado; Luis Carlos
Figueiredo.
Escolha a alternativa mais pertinente:
Alternativas
A. A descrição do encontro dos
portugueses com os nativos da terra é marcado pelas trocas culturais
conflituosas e violentas, da mesma forma que é descrita na Carta de Pero Vaz de
Caminha.
B. Ao mesmo tempo em que cada
nova terra encontrada aumentava o território e o poder do rei, a ausência de
metais preciosos ou de outros produtos comercialmente valorizados, motivava a
busca por novas possessões.
C. O banimento ou degredo, além
de significar exílio, desterramento, pode ser entendido como um instrumento
utilizado pela Coroa não só para punir os condenados, mas para povoar o
território.
D. O documento situa e descreve o
descobrimento do Brasil no conjunto de toda viagem empreendida por Cabral, a
qual tinha como objetivo principal chegar à Índia, para ali consolidar a
primazia do comércio português.
Comentário
A Relação do Português Anônimo
foi composta após o retorno da armada de Pedro Álvares Cabral da Índia, e não
quando esta ainda se encontrava em terra americana. É um documento que relata a
viagem desde Lisboa até a terra que seria chamada mais tarde de Brasil e a
permanência dos membros da esquadra nessa terra. A relação descreve o
empreendimento das conquistas coloniais e coloca o descobrimento da América
portuguesa dentro deste contexto.
Descreve, ainda, o contato com as
populações nativas, as trocas entre portugueses e nativos vai ao encontro da
descrição obtida na Carta de Pero Vaz de Caminha, em que o contato se dá sem a
narração de conflitos marcados por violência.
Pode-se dizer que a Relação do
Português Anônimo, relativiza o descobrimento da terra americana, pois
transmite uma noticia alvissareira – cada nova terra encontrada aumentava o
território, o poder do rei e a possibilidade de enriquecimento dos mercadores e
do governo de Portugal, mas não o de uma notícia espetacular, pois no Brasil
não foram encontrados sinais de metais preciosos ou de outros produtos
comercialmente valorizados, nem a existência de atividades mercantis.
Por haver sido escrita após o
termino da viagem à Índia (diferentemente da carta de Caminha, redigida quando
a esquadra se encontrava no Brasil) a relação do piloto Anônimo é o único
documento coevo a descrever a cena dos dois degredados abandonados em terra
pelos portugueses e consolados pelos índios. Trata-se de uma imagem forte, rica
de conteúdo simbólico, recriada depois em prosa, pintura, etc.
14ª Questão
A Primeira Guerra Mundial
trecho de livro acadêmico
Documento da 2ª Fase
“Quando, em abril de 1917, entraram
no conflito os Estados Unidos, país com o qual o Brasil tentava estabelecer uma
aliança especial desde anos antes, as pressões internas para a entrada na
guerra cresceram. O afundamento de vários navios mercantes brasileiros na zona
de exclusão criada pelos submarinos alemães nas águas próximas à Europa apenas
piorou a situação. Multidões atacaram firmas comerciais alemãs em várias
cidades brasileiras (…) Em 26/10/1917, finalmente, o Brasil declarou guerra à
Alemanha. (…) As forças armadas do Brasil eram, de fato, extremamente pequenas
e pouco eficientes (…) [Eram] uma força auxiliar para manter a ordem interna, especialmente
para o controle de oligarquias dissidentes dos Estados e para sufocar revoltas
populares, como a de Canudos na Bahia e do Contestado no Sul (…). [Q]uando da
declaração de guerra, o Exército brasileiro ainda era muito pequeno, mal-equipado
e pouco treinado. Em 1917 havia apenas trinta e quatro mil homens nas suas
fileiras, alojados em quartéis precários, com armamento antigo e em quantidade
insuficiente. (…) A Alemanha dispunha, em 1917, de quinze mil metralhadoras, contra
apenas cem dos militares brasileiros.”
Sobre este documento
Título
A Primeira Guerra Mundial
Tipo de documento
trecho de livro acadêmico
Palavras-chave
história militar I Guerra
Mundial história contemporânea
Origem
João Fábio Bertonha. A Primeira
Guerra Mundial – o conflito que mudou o mundo (1914-1918). Maringá. Editora da
Universidade Estadual de Maringá, 2011, p. 103-106.
Créditos
João Fábio Bertonha.
Escolha a alternativa mais pertinente:
Alternativas
A. A crescente animosidade contra
os alemães que viviam no Brasil e a desigualdade de forças entre o Exército
Brasileiro e o Exército Alemão no contexto da Primeira Guerra Mundial são
ressaltadas no texto.
B. A Primeira Grande Guerra
atingiu o Brasil de diferentes maneiras, como por exemplo, pela crise da
economia agroexportadora de café e pelo acirramento do sentimento de
nacionalismo.
C. O mau estado das tropas e das
munições e as condições precárias da frota naval da Marinha do Brasil trouxeram
a morte a centenas de marinheiros brasileiros no confronto direto com os
alemães.
D. A entrada do Brasil na
Primeira Guerra Mundial levou à adoção de medidas contra a comunidade alemã que
aqui vivia como, por exemplo, o fechamento de escolas alemãs no sul do país.
Comentário
A participação do Brasil na
Primeira Guerra Mundial é um episódio menos conhecido do que sua efetiva
participação na Segunda Guerra Mundial. Com um exército mal-equipado, a
participação do Brasil foi limitada ao envio de oficiais médicos e militares
para atuar junto aos Aliados e o envio da Divisão Naval de Operações de Guerra,
cujos marinheiros foram vítimas de um surto de Gripe Espanhola a bordo e não de
combates. Aliás, os navios brasileiros chegaram a Gibraltar em 10/11/1918, um
dia antes do fim da Guerra. Internamente, porém, a situação foi outra. A crise
da economia exportadora perante a impossibilidade de os países em guerra
continuarem comprando o café originou um surto industrial e o crescimento do
número de operários. As colônias de imigrantes alemães e austríacos sofreram
diversas hostilidades, como a proibição do ensino em alemão em escolas; e o
nacionalismo entrou definitivamente na agenda nacional, com Ligas Organizadas
em defesa do serviço militar obrigatório, dos “Tiros de Guerra” e de uma
educação cívica.
15ª questão
Observe o quadro da Batalha dos
Guararapes e escolha a opção mais pertinente:
Batalha dos Guararapes
pintura
Documento da 2ª Fase
Sobre este documento
Título
Batalha dos Guararapes
Tipo de documento
pintura
Técnica
óleo sobre tela
Dimensões
1,22x2,17 m
Palavras-chave
formação do território nacionalPernambucoinvasão holandesa
Origem
Batalha dos Guararapes. Autor desconhecido. Óleo sobre tela,
1758. Medidas: 1, 22 × 2, 17m. Museu Histórico Nacional. Disponível em: http://www.museuhistoriconacional.com.br
Créditos
Autor desconhecido.
Documentos relacionados
Alternativas
A. A presença do elemento
católico do lado luso-brasileiro, como o frade que aparece carregando um
crucifixo, impõe uma dimensão religiosa ao acontecimento e sugere um embate
contra o calvinismo dos holandeses.
B. Como fica evidente na pintura,
não existia a presença de negros e indígenas na frente de batalha, o que
demonstra tratar-se de uma batalha europeia travada em território americano.
C. A religiosidade presente na
pintura marca, por um lado, as diferenças de credo das tropas envolvidas (os
luso-brasileiro de tradição católica e os holandeses calvinistas), e por outro,
a função social do quadro, já que se trata de um ex-voto.
D. Trata do confronto entre
tropas holandesas e tropas locais luso-brasileiras no episódio que marcou a
gradual retomada do domínio do Nordeste açucareiro pelos portugueses na
capitania de Pernambuco.
Comentário
A pintura trata do confronto
entre tropas holandesas contra tropas locais, na capitania de Pernambuco. Realizada
mais de um século após o acontecimento retratado, a obra registra a importante
participação de índios e negros. As duas batalhas de Guararapes, em 1648 e 1649,
foram centrais para a gradual restauração do domínio do Nordeste açucareiro
pelos portugueses. A presença do elemento católico do lado luso-brasileiro, como
o frade que aparece carregando um crucifixo, impõe, por um lado, uma dimensão
religiosa ao acontecimento e sugere um embate contra o calvinismo dos
holandeses. Por outro lado, a presença da Virgem dos Prazeres, envolta em
nuvens com o menino Jesus, dá indícios da função social e religiosa da pintura,
já que se trata de um ex-voto.
16ª Questão
História da Indústria e do
Trabalho no Brasil
trecho de livro acadêmico
Documento da 2ª Fase
“Durante os três primeiros
séculos da nossa história, as atividades industriais (aqui entendidas no
sentido genérico do termo) reduziram-se, praticamente, à fabricação do açúcar e
à mineração. As técnicas utilizadas em ambos os casos eram bastante
rudimentares, havendo pouca diferença entre o processo de fabricação do açúcar
e da aguardente no século XVI e no início do século XIX. A produção de ouro já
era bastante reduzida em 1808, entrando a mineração em decadência cada vez mais
acentuada, apesar da contratação de técnicos e engenheiros europeus e de outras
medidas adotadas por D. João. Durante esse longo período colonial, uma série de
outras atividades industriais – artesanais e manufatureiras – foram aqui
desenvolvidas, porém todas elas com um caráter de atividade acessória, ocupando
um papel secundário no conjunto da economia.
(…)
A construção naval foi a
atividade industrial que reuniu, junto com os engenhos, o maior número de trabalhadores
por unidade de produção durante a colônia. Nela, a divisão do trabalho era
bastante acentuada e exigia-se, para certas tarefas, uma especialização muito
grande. No início, eram serviços de assistência aos navios em trânsito, quando
necessitados de reparos. Logo a seguir, ainda no século XVI, pequenas
embarcações para o desenvolvimento da navegação de cabotagem começaram a ser
construídas. O estaleiro mais importante era o da Bahia, por ser a capital da
colônia e por estar Salvador na rota dos navios da Carreira da índia. No século
XVIII, foi relativamente grande o número de navios ali construídos, inclusive
galeões para a travessia oceânica, naus, fragatas, corvetas e escunas. Havia
estaleiros menores em Belém, São Luís, Recife, Ilhéus, Rio de Janeiro e São
Vicente. O de Salvador apresentava-se como um ‘complexo de edifícios ocupando
largo espaço da ribeira e comportando fundições, carpintaria, armazéns, casa de
velas, oficinas de pintores, alfaiates, etc. Assemelhar-se-ia a uma colmeia…’ O
Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro também passou a construir embarcações de
grande porte a partir de 1764. Essa indústria de construção naval estimulou o
aparecimento de várias outras manifestações manufatureiras nos séculos XVII e
XVIII: confecção de cordas, velas, cabos, estopas e óleos.”
Sobre este documento
Título
História da Indústria e do
Trabalho no Brasil
Tipo de documento
trecho de livro acadêmico
Palavras-chave
história da
industrializaçãohistória do trabalhoBrasil colonial
Origem
Francisco Foot Hardman e Victor
Leonardi. História da Indústria e do Trabalho no Brasil. São Paulo, Global
Editora, 1982, p. 23-25.
Créditos
Francisco Foot Hardman e Victor
Leonardi.
Sobre a Industrialização brasileira
no período colonial, assinale a questão mais pertinente:
Alternativas
A. A indústria manufatureira
desenvolvida na América Portuguesa foi drasticamente afetada pelo alvará de D. Maria
I, de 1785, que proibia a indústria na colônia, tendo como justificativa a
escassez de mão-de-obra para a agricultura.
B. Havia poucas manufaturas, a
maioria de caráter doméstico e com baixa concentração de trabalhadores, com
exceção da indústria naval, que teve em Salvador uma organização industrial com
divisão de tarefas.
C. Salvador como centro do
Governo Geral da colônia portuguesa e principal porto de parada na América no
caminho para as Índias foi o centro do desenvolvimento da indústria naval e de
outras manufaturas ligadas à construção e manutenção dos navios.
D. A indústria manufatureira
começou a se desenvolver de modo contínuo a partir de meados do século XVIII e
progrediu de modo acentuado com a chegada dos imigrantes na segunda metade do
século XIX.
Comentário
No período colonial havia poucas
manufaturas de tipos artesanais e manufatureiras, a maioria de caráter
doméstico e com baixa concentração de trabalhadores, com exceção da indústria
naval, que teve em Salvador uma organização industrial segmentada, que pode
crescer pelo significado e importância das embarcações no contexto, sem os
entraves criados pela metrópole. A indústria manufatureira brasileira foi
drasticamente afetada pelo alvará de D. Maria I, de 1785, que proibia e
extinguia as indústrias e manufaturas na colônia, com a justificativa de
garantir mão-de-obra para a agricultura.
17ª Questão
Serro Frio
pintura
Documento da 2ª Fase
Sobre este documento
Título
Serro Frio
Tipo de documento
pintura
Técnica
aquarela
Palavras-chave
Minas Geraishistória da escravidãomineração
Origem
Carlos Julião. Serro Frio, aquarela, séc. XVIII. Fundação
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. http://bndigital.bn.br/redememoria/images/Zoomify/iconc1_2_8i42.htm
Créditos
Carlos Julião.
Observe a imagem e escolha a
alternativa mais pertinente:
Alternativas
A. É possível notar que a
fiscalização e a cobrança do “quinto” sobre a produção de diamantes se dava no
momento da extração, forma que evitava o contrabando e a evasão.
B. O alto valor das pedras e os
lucros gerados pelo comércio de diamantes explica o rígido controle e intensa
vigilância sobre o trabalho dos escravos, o que é representado de forma
idealizada na imagem.
C. Descobertas após o primeiro
impulso da exploração aurífera, as jazidas de diamante receberam uma
organização diferenciada pela Coroa Portuguesa, que concedia pequenos trechos
de terras a serem explorados pelos donatários.
D. A imagem representa um método
organizado de extração de diamantes, na região do Serro das Minas Gerais em
meados do séc. XVIII.
Comentário
A imagem de Carlos Julião insere-se
no contexto da exploração aurífera e diamantífera no Brasil Colônia, representando
um método de extração de diamantes na região do Serro das Minas Gerais em
meados do séc. XVIII. Descobertas após o primeiro impulso da exploração
aurífera, as jazidas de diamante receberam uma organização diferenciada pela
Coroa Portuguesa, que concedia pequenos trechos de terras (ruas) a serem
explorados pelos donatários. O alto valor das pedras e os lucros gerados pelo
comércio de diamantes explica o rígido controle e a constante vigilância sobre
o trabalho dos escravos, que na imagem é representado de forma idealizada, devido
a determinadas condições de trabalho como a estrutura física montada para a
exploração. Entretanto, não se pode afirmar que a fiscalização e a cobrança do
“quinto” (imposto) sobre a produção de diamantes se dava diretamente no momento
da extração, sendo na verdade cobrado em locais específicos tais como as casas
de fundição; ainda que o controle sobre as jazidas de diamantes fosse rígido, o
contrabando e a contravenção ainda continuavam existindo.
18ª Questão
Observe a imagem, leia o
fragmento do Cordel “Jesuíno Brilhante”, de Gonçalo Pereira da Silva, e
assinale a alternativa mais pertinente:
Capa do Jesuíno Brilhante
gravura
visualizar o documento completo
A vida de Jesuíno apresenta-se
humana depois que saiu perfeita ao cabo de uma semana do prodigioso bico da
pena gonçaliana. (...)
Cordel: Jesuíno Brilhante, 2009
trecho de texto literário
visualizar o documento completo
Cordel: Jesuíno Brilhante, 2009
trecho de texto literário
Documento da 2ª Fase
Ver todos os documentos
JESUÍNO BRILHANTE.
Braço avançado da justiça.
A vida de Jesuíno
apresenta-se humana
depois que saiu perfeita
ao cabo de uma semana
do prodigioso bico
da pena gonçaliana.
(…)
Ao longo da narrativa
por natureza empolgante
em razão do nosso estilo
envolvente e fascinante
veremos parte da vida
de Jesuíno Brilhante.
(…)
No sítio Tuiuiú
de Patu bem afastado
então Vila Potiguá
foi nascido e batizado
o menino Jesuíno
Alves de Melo Calado.
Cresceu sempre demonstrando
ter apurado juízo,
empunhando a baladeira
tinha arremesso preciso
e no rosto iluminado
um permanente sorriso.
(…)
Tornou-se assim Jesuíno
por todos muito querido
e em todo o Rio Grande
do Norte reconhecido
e nos locais que chegava
festivamente aplaudido.
Famoso por proteger
famílias abandonadas,
pobres velhos indefesos,
viúvas desamparadas,
crianças desprotegidas
e donzelas ultrajadas.
(…)
Assim Jesuíno tinha
de todos a simpatia,
pregava a fraternidade
distribuía alegria
trocava abraços fraternos
em toda parte que ia.
(…)
O cangaceiro romântico
foi-lhe nome apropriado
mesmo tendo sido apenas
mais um grande predicado
dos muitos que conquistou
o nosso biografado.
(…)
Vamos porém aos motivos
que fez esse brasileiro
tão solidário com o mundo
tão fraterno e tão ordeiro
abraçar a perigosa
carreira de cangaceiro.
Raimundo Nonato informa
que houve uma diferença
dos Limões com Jesuíno
com muita troca de ofensa
que acabou finalmente
numa grande desavença.
A família dos Limões
não era de tolerar
insulto de rico ou pobre
muito menos de levar
desaforo ou ódio para
o aconchego do lar.
Conhecidos como negros
por todo o grande sertão
os Limões eram tratados
com tal discriminação
é tanto que o repentista
chamavam “Preto Limão”.
Já os Limões como aquele
autor de muitos martelos
subestimavam os Brilhantes
chamando-os de amarelos
desclassificação que
provocou muitos duelos.
O furto de uma cabra
que pertencia aos Brilhantes
alimentou mais o ódio
que já existia antes
e os confrontos mortais
também muito mais constantes.
Jesuíno e os irmãos
empreenderam a procura
ao caprino que sumiu
e o acharam em certa altura
na panela dos Limões
já na primeira fervura.
Depois de uma enxurrada
de palavrões nordestinos
deu Jesuíno uma surra
oportuna nos meninos
e a recomendação
de não roubar seus caprinos.
Não houve perdas humanas,
não calou nenhuma voz,
nem Jesuíno Brilhante
se transformou num algoz
mas o ódio entre as famílias
ficou muito mais feroz.
E Jesuíno Brilhante
continuou seu destino
de protetor da pobreza
e em qualquer desatino
causado por valentões
davam parte a Jesuíno.
(…)
Jesuíno era de fato
um líder por excelência
e o grupo lhe rendia
a mais cega obediência
pelas provas demonstradas
de soberba competência.
(…)
O grupo de Jesuíno
sou muito franco em dizer
era pequeno mas certo
do que devia fazer
daqueles que matam ou morrem
pois nada tem a perder.
(…)
No entanto o episódio
de fato surpreendente
ocorreu quando Brilhante
foi propositadamente
soltar em Pombal um preso
que ele achava inocente.
(…)
Num silêncio conferido
ao ardiloso felino
Brilhante entrou na cadeia
e de modo repentino
chocou-se com um sujeito
supostamente assassino.
Numa luta suicida
mas sem emissão de voz
os dois homens se agarraram
numa decisão feroz
os dois sem arma nenhuma
escravizada no cós.
Brilhante em dado momento
pensou: – Decretei meu fim
este homem ao que parece
é superior a mim
nem eu que sou ambidestro
não sou tão perfeito assim.
Continuando na mesma
linha de raciocínio: – Golpes certeiros assim
só davam finado Ermínio,
o meu querido irmão Lucas
e o falecido Virgínio.
Em plena luta ele teve
a brilhante inspiração
de gritar: – Caro irmão Lucas
e na mesma ocasião
viu que o lutador feroz
era Lucas seu irmão.
Os dois emocionados
depois de um longo abraço
Jesuíno disse a Lucas
faça do jeito que eu faço
lute da forma que eu luto
mas não entre no cangaço.
(…)
Jesuíno foi cumprir
espiritual destino
porém até nossos dias
todo o sertão nordestino
tem grata recordação
do seu herói Jesuíno.
Glossário
Baladeira: Pequena forquilha de madeira, com elástico, para
atirar pedras; estilingue; atiradeira.
Algoz: Carrasco, verdugo. Pessoa desumana, cruel. Torturador.
AULETE, Caldas. Diccionario contemporaneo da lingua
portugueza. Lisboa [Portugal]: Parceria Antonio Maria Pereira, 1925, Disponível
em: http://www.auletedigital.com.br/
Sobre este documento
Título
Cordel: Jesuíno Brilhante, 2009
Tipo de documento
trecho de texto literário
Palavras-chave
cultura popularliteratura
Origem
Jesuíno Brilhante. Site da Academia Brasileira da Literatura
de Cordel. Texto disponível em: http://www.ablc.com.br/popups/cordeldavez/cordeldavez047.htm
Créditos
Jesuíno Brilhante
Alternativas
A. O cangaceiro Jesuíno Brilhante
(1844-1879) é descrito como uma figura ambígua do Rio Grande do Norte desde o
subtítulo “Braço avançado da justiça”.
B. A biografia de Jesuíno
Brilhante é apresentada pela imagem e por um texto rimado na forma de estrofes
de seis linhas.
C. A literatura de cordel, bastante
comum no nordeste, trata de temas regionais e folclóricos e não se aplica ao
estudo da diversidade de temas da história do Brasil.
D. Em “Jesuíno Brilhante” é
perceptível a oposição entre a justiça formal e a justiça informal, exemplificada
pelo ataque à cadeia diante da crença na inocência do preso.
Comentário
A proposta desta questão era
apresentar ao aluno a literatura de cordel como um documento para o estudo da
história do Brasil. O cordel é um gênero literário popular, escrito
frequentemente na forma rimada e seu nome tem origem na forma como
tradicionalmente os folhetos eram expostos para a venda, pendurados em cordas, cordéis
ou barbantes. Alguns dos poemas são ilustrados com xilogravuras, como em
“Jesuíno Brilhante”.
O conteúdo do cordel faz
referência a Jesuíno Alves de Melo Calado (1844-1879), potiguar, chefe de
cangaço e figura ambígua: de um lado intervia em prol dos humildes em diversas
oportunidades, como na grande seca de 1877-1879, atacando comboios de víveres
enviados pelo governo imperial, distribuindo-os com famintos e desvalidos dos
sertões ermos e esquecidos; de outro lado, indispunha-se com o mandonismo local.
19ª questão
A ditadura civil-militar
trecho de artigo de jornal
Documento da 2ª Fase
Ver todos os documentos
“Tornou-se um lugar comum chamar
o regime político existente entre 1964 e 1979 de “ditadura militar”. Trata-se
de um exercício de memória, que se mantém graças a diferentes interesses, a
hábitos adquiridos e à preguiça intelectual. O problema é que esta memória não
contribui para a compreensão da história recente do país e da ditadura em
particular.
É inútil esconder a participação
de amplos segmentos da população no golpe que instaurou a ditadura, em 1964. É
como tapar o sol com a peneira.
As marchas da Família com Deus e
pela Liberdade mobilizaram dezenas de milhões de pessoas, de todas as classes
sociais, contra o governo João Goulart. A primeira marcha realizou-se em São
Paulo, em 19 de março de 1964, reunindo meio milhão de pessoas. Foi convocada
em reação ao Comício pelas Reformas que teve lugar uma semana antes, no Rio de
Janeiro, com 350 mil pessoas. Depois houve a Marcha da Vitória, para comemorar
o triunfo do golpe, no Rio de Janeiro, em 2 de abril. Estiveram ali, no mínimo,
a mesma quantidade de pessoas que em São Paulo. Sucederam-se marchas nas
capitais dos estados e em cidades menores. Até setembro de 1964, marchou-se sem
descanso. (…) Trata-se de um impressionante movimento de massas. (…) É
impossível não ver as multidões — civis — que apoiaram a instauração da
ditadura.
(…)
Não, não se trata de esclarecer
um equívoco. Mas de desvendar uma interessada memória e suas bases de
sustentação.
São interessados na memória atual
as lideranças e entidades civis que apoiaram a ditadura. Se ela foi “apenas”
militar, todas elas passam para o campo das oposições. Desde sempre. Desaparecem
os civis que se beneficiaram do regime ditatorial. Os que financiaram a máquina
repressiva. Os que celebraram os atos de exceção. O mesmo se pode dizer dos
segmentos sociais que, em algum momento, apoiaram a ditadura. E dos que
defendem a ideia não demonstrada, mas assumida como verdade, de que a maioria
das pessoas sempre fora — e foi — contra a ditadura.
Por essas razões é injusto dizer
— outro lugar comum — que o povo não tem memória. Ao contrário, a história
atual está saturada de memória. Seletiva e conveniente, como toda memória. No
exercício desta absolve-se a sociedade de qualquer tipo de participação nesse
triste — e sinistro — processo. Apagam-se as pontes existentes entre a ditadura
e os passados próximo e distante, assim como os desdobramentos dela na atual
democracia, emblematicamente traduzidos na decisão do Supremo Tribunal Federal
em 2010, impedindo a revisão da Lei da Anistia. Varridos para debaixo do tapete
os fundamentos sociais e históricos da construção da ditadura.
Enquanto tudo isso prevalecer, a
História será uma simples refém da memória, e serão escassas as possibilidades
de compreensão das complexas relações entre sociedade e ditadura.”
Sobre este documento
Título
A ditadura civil-militar
Tipo de documento
trecho de artigo de jornal
Palavras-chave
história políticaditaduraBrasil
contemporâneo
Origem
Daniel Aarão Reis. A ditadura
civil-militar (O Globo, 31/3/2012)
Créditos
Daniel Aarão Reis.
A partir da leitura, pode-se
afirmar que o texto:
Alternativas
A. Celebra o insucesso da revisão
da Lei de Anistia de 2010, para que estes temas do passado não tragam
instabilidade à democracia atual.
B. Defende que a memória é
seletiva para ocultar relações e benefícios que setores da sociedade obtiveram
com a ditadura.
C. Associa a memória que busca
elidir a participação civil na ditadura ao desejo de ocultar as pontes entre o
passado recente e o presente
D. Argumenta que a instauração da
ditadura militar no Brasil teve apoio civil que se manifestou, por exemplo, por
meio de marchas.
Comentário
O autor do texto chama a atenção
para o fato de a ditadura militar ter sido uma ditadura civil-militar, no
sentido de que era apoiada por grandes parcelas da população. A repressão agiu
sobre os opositores, e neste processo houve ambivalências, mas ressalta-se o
fato de que, movido por receio do comunismo ou outras razões, a permanência dos
militares no poder, sobretudo com as vitórias da Arena nas eleições, apontam
para a necessidade de se estudar e compreender melhor este período, inclusive à
luz de acontecimentos recentes como supostas “comemorações” em clubes militares
do Golpe Militar de 1964, chamado por vezes de “Revolução” (sic). A
seletividade da memória, que oculta, por exemplo, os benefícios que setores
sociais tiveram com os anos de ditadura, se expressa também no caso da Revisão
da Lei da Anistia de 2010, cujo insucesso o autor lamenta.
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