domingo, 29 de março de 2009

Resenha: VOLPATO, Luiza Rios Ricci. A conquista da terra no universo da pobreza - fronteira oeste do Brasil (1719-1819). p168 São Paulo. Hucitec, 1987


A conquista e ocupação das área que pertencem hoje aos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia - a fronteira oeste do Brasil - têm sido vistas, de maneira geral, como apêndice pitoresco da mineração da etapa colonial, através de referências sobre a exploração do ouro nas minas de Cuiabá e Guaporé. Muitos autores consideram a fronteira oeste como uma fronteira viva.
O presente trabalho avança sobre esta linha de reflexão e procura recuperar o real vivido pela sociedade mato-grossense no período colonial. A vida do homem comum de Mato Grosso nessa época estava norteada por duas condicionantes básicas da região: ser zona de fronteira e área de mineração. A condição de fronteira impunha à sociedade ônus além daqueles que ela podia suportar. E a produção de ouro a submetia à rígida legislação fiscal específica para zonas de mineração. A vida deste homem comum era consumida na luta contra as adversidades impostas pelo meio natural e no esforço de obter seu sustento, enfrentando toda a sorte de adversários, tais como surtos de fomes e epidemias, bem como ataques de índios e espanhóis.
O objetivo deste livro é analisar como o conjunto da sociedade suportou todo o ônus material e humano de ser fronteira responsável pela preservação e ampliação dos domínios portugueses na América, no momento em que eles estavam ainda se definindo. Ônus este que a economia de Mato Grosso permaneceu por mais de um século em sua fase embrionária, sem condições de superar a crise da mineração que se tornara crônica.
A obra se encaminha no sentido de ser fazer um questionamento sério à respeito da visão mítica de riqueza, aquela que apregoava um passado faustosa para Cuiabá em seus primeiros tempos de colonização.
No transcorrer da obra, ao analisar as questões de fronteira, a autora salienta como a sociedade, enquanto um todo, assumiu para si os encargos dessas guerras, tanto a empreendida contra os silvícolas, quanto a travada contra os hispano-americanos.
A organização da produção e do trabalho, durante a fase de decadência da mineração, momento crítico da vida econômica e social da Capitania também é objeto de estudo da historiadora nesta obra.
O período analisado é bastante rico, o balizamento amplo - 1719-1819 - tem como primeiro parâmetro a fixação do povoamento português na região central da América do Sul, e o segundo ilustra a mudança de grande parte dos burocratas e militares fato que prejudicou o entrelaçamento de interesses entre a administração colonial e a classe dominante, a partir daí começa a se desenvolver um política antagônica entre os interesses da elite e os do capitão-general de Mato Grosso.
Volpato se esforça para descrever as reais condições de vida da população mato-grossense, confrontando a sua situação de pobreza e os encargos da defesa e ampliação da fronteira colonial.
No período colonial, Mato Grosso caracterizava-se como uma região pobre, com sérios problemas econômicos decorrente da crise do setor minerador. Essa situação de pobreza, fome e doença fazia parte do cotidiano do homem comum mato-grossense que tinha sobre seus ombros os pesado ônus da defesa territorial e da expansão dos límites portugueses sobre os da Espanha. A luta de conquista num universo marcado pela miséria.
A partir da criação da Capitania, ocorrida pelo alvará de 09 de maio de 1748, se deu o aparelhamento da fronteira com a edificação de fortes, guarnições e povoados, pressupostos necessários para a transformação da região no "antemural" do Brasil, capaz não somente de salvaguardá-la bem como estendê-la mais aida em direção ao oeste.
Entretanto é preciso destacar que questões individuais de sobrevivência muitas vezes falaram mais alto pois nessas oportunidades luso-brasileiros e hispano-americanos deixavam de lado suas diferenças além de seus compromissos com as suas respectivas Coroas e se buscavam mutuamente, fazendo surgir um relacionamento fronteiriço, nesses momentos os interesses individuais eram mais fortes que a fidelidade ao rei, é nesse contexto de aproximação que o contrabando de fronteira encontra campo fértil para se desenvolver.
É também objeto de análise da autora a apropriação do trabalho e a organização da produção, demonstrando o esforço da população local para concretizar a fixação do povoamento e tentar manter um equilíbrio econômico em face da crise da mineração.
O aprofundamento do quadro de crise econômica ocasionou um processo de empobrecimento e individualismo que atingiu diversos segmentos sociais, porém foram sobretudo os estratos inferiores que os sentiu de forma mais drástica alarmando ainda mais a condição de miserabilidade e causando maior insegurança social. Por fim a autora investiga as diversas facetas da crise econômica e como foi possível dentro desse caos preservar o equilíbrio da sociedade colonial em Mato Grosso.

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