quarta-feira, 8 de abril de 2009

O abastecimento de Vila Bela da Santíssima Trindade



Seguindo à risca as instruções recebidas da rainha de Portugal, Dom Antônio Rolim de Moura escolheu, no vale do rio Guaporé, o local onde fundou, no ano de 1752, Vila Bela da Santíssima Trindade, a primeira capital mato-grossense. Ali, foram instaladas as repartições governamentais, construído o palácio e uma igreja, assim como traçadas as ruas que comporiam a capital, de acordo com uma planta projetada em Portugal. Para atrair os colonos, o governo português estimulou a migração, oferecendo vantagens para os colonos que quisessem se fixar na região guaporeana.


O abastecimento da nova capital




A decisão de se estabelecer a capital no alto rio Guaporé contou, dentre muitos problemas, com o do abastecimento, pois as monções cuiabanas (Tietê-Cuiabá) encontravam dificuldades em levar os produtos até a capital, devido ao acidentado trajeto que se entrepunha entre as duas vilas. A solução veio de Portugal, que tinha interesse em salvaguardar as regiões conqustadas no extremo Oeste, as quais se avizinhavam com o Império Colonial Espanhol: criou a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, interligando Belém do Pará à Vila Bela, através do rios Amazonas, Madeira e Guaporé. Por essa aquavia, tornava-se mais fácil o contado direto com Portugal, pois, de Belém, rumava-se ao Oceano Atlântico e, dele, à Europa. Por essa Companhia, chegaram a Vila Bela produtos alimentícios, vestimentas, ferramentas, escravos, medicamentos, enfim, tudo de que necessitavam os seus moradores. Na torna-viagem, essa empresa levava algum ouro, extraído das minas da região, e muita dívida, pois os comerciantes e colonos guaporeanos, devido à precose decadência da mineração, terminaram endividando-se, o que levou a Companhia à extinção, após alguns poucos anos de atuação.


Fundação de Vila Bela. Moacyr de Freitas (2000). Acervo Fundação Cultural de Mato Grosso


A colonização de Mato Grosso após a criação da nova Capitania


Rolim de Moura, hábil diplomata, foi a pessoa responsável pela manutenção inicial da fronteira Oeste colonial, agindo com muita astúcia para não melindrar os castelhanos que habitavam as vizinhas terras de Santa Cruz de la Sierra. A mesma cautela era utilizada no tratamento aos jesuítas que mantinha, nessa provincia, duas missões indígenas: a de Moxos e a de Chiquitos.



Planta da Capital de Vila Bela do Mato Grosso. Autor não identificado (1789). Acervo da Casa da Ínsua, Portugal


Por outro lado, Rolim de Moura, de forma sutil e habilidosa, mandou fundar aldeias jesuítas e instruiu a fixação de colonos na margem esquerda do rio Guaporé, expandindo ainda mais a fronteira ocidental.

ruínas da matriz de Vila Bela da Santíssima Trindade

Frontispício da Igreja matriz de Vila Bela. Autor desconhecido (1769). Arquivo Histórico Ultramarino, Portugal




Trecho de uma carta de Rolim de Moura



"(...) com aquele estabelecimento (Nossa Senhora da Boa Viagem) o de Santa Rosa, o das Pedras, a aldeia de S. José e moradores areadndo por toda margem oriental do Guaporé; e se, à sombra dos ditos postos, se forem situando mais moradores nas paragens de entremeio, ainda esse fim se consegue melhor."


Fonte: Moura (1982)




Dessa movimentação, alguns conflitos ocorreram, porém Rolim de Moura retirou os colonos portugueses estrategicamente, enviando desculpas aos governantes castelhanos, evitando confronto direto. Conseguiu ele fundar e manter erguidos, no alto Guaporé e em nome da Coroa Portuguesa.




* 1752 - Vila Bela da Santíssima Trindade;


* 1754 - Aldeia de S. José, mais tarde Leomil;


* 1757 - Sítio das Pedras;


* 1758 - N. Sª da Boa Viagem (Rio Madeira);


* 1760 - N. Sª da Conceição, ex-Santa Rosa Velha.




Para guarnecer e expandir a fronteira Oeste, esse governante necessitava, sobretudo, de soldados. Considerando que a maior parte da população do Guaporé era composta por mineiros, Rolim de Moura tratou de aliciá-los para que ingressassem na carreira militar. Criou uma Companhia de Pedestres, rudes homens que, segundo suas palavras, "andam sempre descalços de pé e perna, o seu único vestido é um jaleco e umas bombachas a que se ajunta um chapéu e camisa". Mais adiante, complementa, contando de que homens era formada a Companhia dos Aventureiros:


"Os soldados que eu chamo de Aventureiros são vários sertanistas que havia por este rio e que antes da minha chegada viviam de fazer entradas ao sertão e buscar índios; e outros serviam aos padres castelhanos na mesma diligência, ou de outros misteres nas aldeias. A estes mandei assentar praça com o título de Aventureiros, dando-lhes o soldo de dragões, sem farda."


Fonte: Moura (1982)

Elizabeth Madureira Siqueira, História de Mato Grosso: da ancestralidade aos dias atuais. Editora Entrelinhas. 2002. p. 46-49.






Nenhum comentário:

Postar um comentário