terça-feira, 7 de junho de 2011

Questões de História de Mato Grosso (UFMT)


1) O fortalecimento das relações comerciais entre Mato Grosso e os países da América do Sul é um tema bastante debatido na atualidade. Sobre o assunto, assinale a afirmativa correta:

a) os únicos paises da América do Sul com acesso direto ao mar são Paraguai e Bolívia, vantagem geográfica que os torna independentes de seus vizinhos e é um dos argumentos que justificam o desinteresse em buscar a integração com Mato Grosso e facilitar a saída para o Pacifico.

b) Chile, Brasil, Argentina e Bolívia possuem em comum terras drenadas pela Bacia do Prata, via, durante muito tempo, exclusiva de ligação desses países com o Oceano Pacifico, o que favoreceu as tropas comerciais com os países europeus.

c) O Estado de Mato Grosso prioriza o escoamento de sua produção industrial pelo Pacífico através da ferrovia denominada Ferronorte, atingindo com baixos custos os mercados da Argentina, Uruguai e Paraguai.

d) Uma das formas de buscar a integração viabilizada pelo Estado de Mato Grosso são as caravanas internacionais que reúnem representantes do poder publico e privado com o objetivo de manter contatos políticos com os governantes e empresários da Bolívia, Peru e Chile a fim de agilizar os transportes e buscar uma saída para o Pacifico e os mercados asiáticos.

e)Bolívia e Mato Grosso possuem interesses comuns principalmente no setor de processamento e exportação de produtos frigoríficos e sucos, daí a instalação da Zona Franca em Cáceres e o fim das taxas alfandegárias para o escoamento via hidrovia Paraguai-Paraná até o Porto de Arica no Chile.

Gabarito:D

Essas caravanas mostram o interesse do poder publico e do setor empresarial na integração regional. A busca de novas rotas comerciais é um fator de suma importância para o escoamento dos produtos produzidos em Mato Grosso. A questão aborda a importância da integração regional.

2) A população dos atuais territórios do Brasil e da Bolívia relacionam-se desde o século XVII, quando ocorreram as primeiras gestões da Coroa Portuguesa para tornar essa região o “antemural de todo o interior da colônia”. Assinale a medida que não faz parte das adotadas pela Coroa Portuguesa.

a) Da região de Cuiabá, o povoamento se expandiu em direção ao Rio Guaporé e deparou-se com a ocupação espanhola na usa margem oeste referente ao então Vice- Reinado do Peru.

b) Entre as atribuições recebidas por Antonio Rolim de Moura, estava a de estabelecer relações comerciais da futura capital (que ele iria fundar na região) com o extremo norte da colônia.

c) Após 1777, com o tratado de Madri, D.João V ordenou a fundação de uma vila na região do Guaporé que fundamental para assegurar a posse portuguesa naquele sitio, viria se constituir a capital da Província.

d) Para poder controlar toda a extensão da imensa capitania, articulou-se a ligação da capital, Vila Bela da Santíssima Trindade, com as demais vilas, via fluvial ou terrestre, além da fortificação da fronteira.

e) Após fundar Vila Bela da Santíssima Trindade, foi transplantada para lá toda a maquina administrativa e fiscal, que em parte, já existia na Vila de Cuiabá.

Gabarito: C

A alternativa esta errada, pois a construção de Vila Bela da Santíssima Trindade se insere no contexto do Tratado de Madri, assinado em 1750. Em 1777, o tratado em vigor era o de Santo Ildefonso. Nesse período governava Mato Grosso, Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres que se primou pela defesa da fronteira norte e sul. Outro erro da questão é usar a expressão “província”, pois como o período abordado é o século XVIII, o correto é “capitania”.

A Guerra do Paraguai em Mato Grosso


Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870)

Causas:

Disputa pela hegemonia entre os países platinos.

Interesse expansionista do capital inglês:

1)Livre Navegação da Bacia Platina.

2)Destruição do Paraguai.

1857: Abertura da Bacia Platina.

1864: Solono Lopes, ditador do Paraguai, buscando uma saída para o mar resolveu aprisionar o navio brasileiro “Marquês de Olinda”, que trazia a bordo Francisco Carneiro de Campos, novo presidente da Província de Mato Grosso.

1865: Brasil, Argentina e Uruguai formam a Tríplice Aliança. É declarada a Guerra contra o Paraguai.

Solono Lopes invade o sul de Mato Grosso, toma a cidade de Corumbá acarretando no bloqueio da Bacia Platina.

Conseqüências do durante a guerra para Mato Grosso.

A)Medo:

Ataque dos paraguaios.

Rebelião de escravos.

Desertores.

Quilombo do Rio do Manso.

Entrada da Bolívia no conflito ao lado dos paraguaios.

B)Fome

Aumento dos preços dos alimentos.

Carência principalmente do sal.

1865: Enchente do rio Cuiabá.

Solução: A Bolívia passa a abastecer Mato Grosso.

c)Varíola ou Bexiga:

1867: Retomada de Corumbá. Neste momento soldados brasileiros foram conduzidos a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá com os primeiros sintomas da varíola.

A doença não foi diagnosticada a tempo, no que resulto em uma surto epidêmico de varíola.

Solução: O presidente da Província de Mato Grosso, Couto de Magalhães estabeleceu as seguintes medidas para erradicar a doença:

1)Construção do Cemitério de Nossa Senhora do Carmo (Cae-Cae)

2)Fundação do Acampamento “Couto Magalhães.

Em 1868, o surto epidêmico chegou ao fim.

1870: Fim da Guerra do Paraguai.

Conseqüências do pós Guerra para a Província de Mato Grosso:

1)Reabertura da Bacia Platina.

2)Afirmação dos principais portos: Corumbá, Cuiabá e Cáceres.

3)Surgimento de um nova burguesia: comercio de importação e exportação.

4)Aumento territorial.

5)Imigração.

Fronteiras mato-grossenses no século XVIII

Mineiros chegam ao Guaporé

Mineiros chegam ao Guaporé

Em busca de novas jazidas

As lavras cuiabanas não eram, como em Minas Gerais, exploradas com técnicas ou instrumentos sofisticados, pois o ouro, sendo de aluvião, era extraído de forma muito rudimentar. Assim, os mineiros mais afoitos, na ânsia de encontrar ouro em maior profusão, deixavam Cuiabá, seguindo rumos diversos. Dessa movimentação, foram descobertas outras jazidas de menor proporção, responsáveis pelo povoamento de área a Oeste que, pelo Tratado de Tordesilhas, não pertenceria oficialmente a Portugal:

  • Lavras do Rio Galera (1734) - nos sertões dos índios Paresi - conquista dos irmãos Paes de Barros;
  • Lavras de Santana (1735) - atual Nortelândia - descoberta pelos irmãos Paes de Barros e Fernan­des de Abreu;
  • Lavras do Brumado e Corumbiara - Guaporé - pelos irmãos Paes de Barros;
  • Minas do Alto Paraguai (1747) - Alto Paraguai e Diamantino;
  • Lavras de Santana e São Francisco Xavier (1751) - Guaporé.

Segundo Paulo Pitaluga Costa e Silva (2000), para chegar ao rio Galera, no Vale do Guaporé, onde encontraram novo veio aurífero, os mineiros se depararam com uma mata espessa, formada de grossas e altas árvores. Impressionados com o porte das árvores, o emaranhado da vegetação que dificultava a penetração e a exuberância da floresta, denominaram a região de Mato Grosso.

A movimentação da fronteira humana terminou por fixar limites geográficos, pois a ocupação desses territórios deu garantia de sua posse a Portugal. Como resultado, as fronteiras portuguesa e espanhola terminaram por se encostar na região do rio Guaporé, que se avizinhava com o Vice-reino do Peru, próximo a Santa Cruz de la Sierra, capital de Chiquitos. A Coroa portuguesa, considerando a distância das minas descobertas no extremo Oeste da Capitania de São Paulo, resolveu criar uma nova: a de Mato Grosso, através da Carta Régia de 9 de março de 1748, nomeando, para governá-la, um nobre lusitano, D. Antônio Rolim de Moura.

Trecho da “Carta Patente” nomeando Dom António Rolim de Moura como capitão-general de Mato Grosso

Dom João V, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar em África, Senhor de Guiné e da conquista, navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e índia, faço saber aos que esta minha Carta Patente virem, que tendo consideração às qualidades, merecimentos e serviços que concorrem na pessoa de D. António Rolim de Moura, e a que dará inteira satisfação a tudo o que lhe for encarregado do meu serviço, conforme a confiança que dele faço; hei por bem de nomear como pela presente nomeio no cargo de governador e capitão-general da Capitania de Mato Grosso, por tempo de três anos, e o mais enquanto lhe não mandar sucessor, com o qual haverá o soldo de doze mil cruzados cada ano, pagos na forma das minhas ordens, e com o mesmo cargo gozará de todas as honras, poderes, mando, jurisdição e alçada que têm de que usam os governadores do Rio de Janeiro e do mais que por minhas ordens e instruções lhe for concedido, com subordinação somente ao vice-rei e capitão-general de mar e terra do Estado do Brasil, como o tem os governadores dele [...].

Fonte: Carta... (1988)

Antes de partir para o Brasil, o primeiro governador da Capitania de Mato Grosso recebeu, das mãos da rainha Mariana da Áustria, esposa do adoentado rei português, D. João V, uma série de instruções, que lhe serviram de orientação no encaminhamento das questões regionais. Constituída de 26 artigos, podem ser destacados os seguintes pontos:

  • Fundar a capital da nova Capitania no vale do rio Guaporé.
  • Fundar uma aldeia jesuítica para os índios mansos.
  • Incentivar a criação de gado (vacum e cavalar).
  • Conceder privilégios e isenções de impostos àqueles que desejassem residir nas imediações da nova capital.
  • Construir, na nova capital, residência para os capitães-generais.
  • Agir com muita diplomacia nas questões de fronteira, evitando entrar em confronto aberto com os espanhóis.
  • Tomar cuidado com os ataques dos índios bravios, especialmente os Paiaguá e Guaicuru.
  • Fornecer informações mais precisas sobre a capitania recém-criada, seus limites e potencialidades.
  • Proibir a extração e comercialização de diamantes.
  • Criar uma Companhia de Ordenanças.
  • Incentivar a pesca no rio Guaporé.
  • Informar sobre a viabilidade de comunicação fluvial com a Capitania do Grão-Pará.

Fonte: SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: Da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002.

A Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá

A Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá

O governador de São Paulo muda-se para Cuiabá

As minas de Cuiabá distanciavam-se da sede da Capitania, o Povoado, como era chamada a Vila de São Paulo de Piratininga. O acesso à legislação régia, a fiscalização na extração aurífera, a entrada de mercadorias e, sobretudo, a saída do ouro ficavam, praticamente, sob o controle dos próprios descobridores. Foi pensando em estendera administração portuguesa até as minas cuiabanas que o governador da Capitania de São Paulo, Rodrigo Moreira César de Menezes, resolveu, em meados do ano de 1726, deixar o conforto da capital paulista e ir morar, por algum tempo, em Cuiabá. Desde antes, pressentia o governante que o controle político dessa região se encontrava em mãos de antigos sertanistas, enriquecidos com os lucros auríferos. Era o caso dos irmãos Leme, João e Lourenço, que, como opulentos comerciantes e mineradores, exerciam um extremo controle na região das minas de Cuiabá. Necessário se fazia acabar com o mando desses poderosos locais ou aliciá-los como representantes da Coroa portuguesa.

Os irmãos Leme

A estratégia montada por Rodrigo César foi, num primeiro momento, chamar para si um dos Leme, oferecendo-lhe o cargo de Provedor dos Quintos, o que foi recusado. Respondeu que, se o governador não desse a seu irmão o cargo de Mestre de Campo Regente, eles se recusariam a trabalhar para a Coroa, continuando a exercer seu poder independente dela. O governador paulista, fazendo valer sua autoridade, confirmou apenas o primeiro cargo, para o quê obteve todo o apoio da Câmara Municipal da Vila de São Paulo.

Inconformados, os Leme romperam com o governador e prepararam viagem de volta para as minas cuiabanas. Nesse momento, no entanto, Rodrigo César, decidindo acabar definitivamente com o poder dos Leme, armou uma emboscada para prendê-los. Contando com forças arregimentadas em Santos, o governador paulista mandou que fossem destruídas todas as embarcações que compunham a frota dos Leme, as quais estavam estacionadas à beira do rio Tietê. As canoas, com todas as mercadorias, foram desbaratadas e os irmãos e seus exércitos de índios e negros africanos foram cercados, encurralados e presos.

Para evidenciar a força da Coroa portuguesa, um dos irmãos Leme, depois de preso, foi remetido para a Bahia, então capital da Colônia, e ali decapitado; teve seu corpo esquartejado, salgado e exposto pelas ruas de São Salvador. O outro foi morto durante o cerco. Não satisfeito em punir os dois irmãos, o castigo recaiu, também, sobre a família Leme, que teve seus bens confiscados e os descendentes diretos considerados banidos das benesses e consideração da Coroa, por muitos anos.

Uma vez desimpedido o caminho, Rodrigo de Menezes decide embarcar, em monção, para Cuiabá, em expedição composta de 308 embarcações e uma tripulação de 3.000 pessoas. A viagem demorou, aproximadamente, 5 meses, desembarcando no porto de Cuiabá, em novembro de 1726. Em 15 de janeiro de 1727, elevou Cuiabá à categoria de vila, intitulando-a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.

Para aumentar a arrecadação

Com esse ato, Rodrigo César de Menezes deu início ao controle administrativo-fiscal dessa longínqua zona mineira. Uma de suas primeiras providências foi aumentar os impostos, medida que afugentou muitos moradores de Cuiabá. Mediante o arrocho fiscal, resolveram, alguns, ir para Goiás; outros, saíram em busca de novas minas, sendo que alguns poucos retornaram à Vila de São Paulo. Em sua permanência em Cuiabá, Rodrigo César tratou de garantir a reprodução do modelo colonial, com as seguintes medidas:

  • Determinou que os impostos sobre o ouro não mais fossem cobrados por capitação, isto é, por cabeça, instituindo, em seu lugar, o quinto;
  • Ordenou que todo o ouro retirado das minas de Cuiabá deveria ser quintado junto à Casa de Fundição de São Paulo, ocasião em que, de pó, seria transformado em barra, da qual se extrairia 20%, a ser enviado para Lisboa;
  • Criou os postos de Provedor da Fazenda Real e Provedor dos Quintos, para cuidar das finanças;
  • Criou o cargo de Ouvidor Geral das minas de Cuiabá, para cuidar da Justiça.

Depois de estender o poder metropolitano às minas sertanejas, Rodrigo Moreira César de Menezes deixou a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá no primeiro semestre de 1728, rumo à Vila de São Paulo, utilizando-se do segundo roteiro monçoeiro. Estavam timbrados, em pleno sertão Oeste da Colônia, os símbolos administrativos e fiscais da Coroa portuguesa.

Você sabia?

Que, durante a administração de Dom Rodrigo César de Menezes, ficou famoso o episódio da substituição de todo o ouro de um caixote enviado à Lisboa, a título de arrecadação, por chumbo?

O povo cuiabano regozijou-se com a saída do Governador paulista, pois a presença da Coroa portuguesa no sertão minerador causou, além do aumento de impostos e maior fiscalização na sua cobrança, inúmeras disputas pelo poder, e, ainda, conflito com os padres. Relata-nos essa alegria o cronista:

“Com a sua saída tudo cessou, as excomunhões, execuções, lágrimas e gemidos, pragas, fomes, enredos e miscelânias. Apareceu logo o ouro, produziram os mantimentos, melhoraram os enfermos [...].”

Fonte: Sá (1975).

Antes, porém, de deixar a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, Rodrigo César de Menezes tratou de regularizar a questão das terras, fazendo, assim, as primeiras doações de cartas de sesmaria, concedidas mediante solicitação daqueles que já habitavam as terras mato-grossenses, nelas criando gado ou desenvolvendo agricultura, e que desejavam titulá-las. Assim, foram primeiramente doadas terras que permeavam o perímetro urbano de Cuiabá, estendendo-se para as povoações e arraiais limítrofes, como Rio Abaixo e Serra Acima. Nesse último local, foi doada uma importante sesmaria requerida por António de Almeida Lara, o qual foi responsável pela montagem de um dos primeiros engenhos de cana-de-açúcar na região mineira. Essas cartas de sesmarias representaram a origem da legalização da propriedade das terras mato-grossenses.

Trâmite da concessão das sesmarias

  1. O colono solicitava, através de ofício, ao capitão-general, uma certa porção de terra, alegando os motivos pelos quais a desejava;
  2. O capitão-general concedia, em caráter provisório, as cartas de doação de "datas" de terra de sesmaria, enviando o pedido para o rei de Portugal;
  3. Ao rei, cabia expedir a carta definitiva da sesmaria, através de documento produzido pelo Conselho Ultramarino.

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso: Da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002.

O Caminho pelas águas até Cuiabá

O Caminho pelas águas até Cuiabá

As monções do Sul

Quando os bandeirantes paulistas atingiram o rio Coxipó, implementando guerra aos índios Coxiponés, chegaram a pé ou através de pequenas embarcações, utilizando-se da imensa rede hidroviária que drena o centro do continente. No momento em que a mineração floresceu, às margens do rio Cuiabá, nasceu ali um arraial onde foram construídas casas, igrejas, estabelecido pequeno comércio, tornando-se necessário regularizar o abastecimento, pois seus habitantes estavam ocupados somente com a mineração. Os produtos agrícolas de primeira necessidade, tais como arroz, feijão, mandioca, farinha de mandioca, milho, açúcar e cachaça eram fornecidos por duas localidades próximas a Cuiabá: Rio Abaixo (Santo António de Leverger) e Serra Acima (Chapada dos Guimarães). Tudo o mais de que necessitavam chegava através do comércio de maior porte existente na Capitania de São Paulo, da qual as minas do Centro-Oeste faziam parte. De lá, chegavam a Cuiabá: roupas, bebidas, medicamentos, ferramentas de trabalho, alimentos variados, dentre os quais destacava-se o sal, produto indispensável ao bem-estar da população do arraial. A esse sistema abastecedor e de transporte de pessoas, implementado exclusivamente através dos rios, deu-se o nome de monções.

O abastecimento hidroviário era feito duas vezes ao ano e a viagem demorava, aproximadamente, de 4 a 6 meses, dependendo do volume de água dos rios. Nela, os pilotos e a tripulação eram obrigados a ultrapassar cachoeiras e atravessar, por terra, grandes trechos entre rios denominados varadouros. Nessa ocasião, as canoas e a bagagem eram carregadas no ombro dos índios ou dos africanos. Além disso, as monções contavam com contratempos inesperados, como avaria das embarcações, temporais, falta de alimentos e, sobretudo, ataque dos índios que habitavam as regiões limítrofes ao trajeto.

Os paulistas adquiriram muita destreza em suas viagens pelos sertões graças à ajuda dos índios aliados que, com seus conhecimentos, foram os grandes mestres e guias dos sertanistas. Os índios auxiliaram:

  • No fabrico das embarcações: Sabiam fazer excelentes embarcações, meio de transporte que utilizavam para locomoção, caça e pesca, assim como para guerrear. Os batelões e canoas eram embarcações feitas com um só tronco de árvore, resistentes e apropriadas à navegação fluvial, muito se distinguindo dos navios utilizados na navegação marítima, velhos conhecidos dos portugueses.
  • Como guias nas viagens: Dominavam as melhores rotas a percorrer, o ritmo das águas, identificavam com facilidade onde existiam cachoeiras, as formas de sua transposição e varadouros. Eram exímios conhecedores das trilhas do sertão e dos atalhos que encurtavam caminhos. Além disso, os índios, tal qual cartógrafos, sabiam traçar, nas areias dos rios, mapas e desenhos que serviam de orientação para os viajantes.
  • Na alimentação e na medicina: Conheciam e haviam experimentado em seu cotidiano, diversas raízes, plantas e suas propriedades alimentícias e medicinais. Sabiam, com perícia e destreza, a arte de caçar animais, limpá-los e preparar com eles uma refeição. O tempero utilizado nessa culinária sertaneja tinha por base os condimentos da flora. Identificavam, com muita facilidade, onde existiam colméias, que ofereciam mel, apreciado alimento energético indispensável às longas caminhadas.
  • Como conhecedores de outras etnias: Sabiam identificar onde estavam estabelecidas as aldeias indígenas. Conheciam e, muitas vezes, entendiam suas línguas, hábitos e costumes, possuindo o dom especial de atrair ou rechaçar seus iguais, em caso de necessidade. Dominavam, sobretudo, a arte guerreira de muitas sociedades indígenas, distinguindo seus instrumentos e estratégias de guerra.

Assim, o índio representou, para o bandeirante, não somente mão-de-obra mas, sobretudo, serviu-lhe de guia e professor, pois conhecia, como ninguém, o tão temido e desconhecido sertão Oeste.

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. Históriade Mato Grosso: Da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá: Entrelinhas, 2002

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Imagens Históricas de Cuiabá

Trecho da travessa da Independência, hoje avenida Dom Bosco, com o Lyceu Salesiano na esquina, 1919. A fato integra acervo do Museu Histórico/MT
Nesta fota ainda se vê o antigo Palácio do Arcebispo. Apenas uma parte do imóvel existe ainda hoje. Ao fundo, a torre da Igreja Presbiteriana. Foto do acervo de Ademar Poppi